21 junho 2012
Resultado da Rio+20
Os últimos dias foram uma loucura. A
cidade estava tomada por militantes de todas as cores. O Rio estava
irreconhecível. Em todas as rodas e todas as rádios, nos cafés, nos jornais e
na tevê o assunto era sempre a ecológica Rio+20.
Após o expediente da sexta, fugiu
para o sítio em Teresópolis. Esqueceu a chave e resolveu dormir ao relento lembrando
a infância.
O pai o ensinara a fazer uma cabana
amarrando a ponta de uma árvore flexível no chão. A nostalgia apertou quando
pegou o canivete vermelho no porta-luvas.
Logo encontrou um pinheiro com pouco
mais que a sua altura. Fincou uma estaca no chão e com uma corda construiu o
arco com a destreza de um escoteiro.
Abaixou-se e, de cócoras, passou por
baixo do portal. Ouviu um zunido agudo como se atravessasse um túnel do tempo.
Do outro lado o esperava um sujeito forte, braços cruzados sobre o peito, quase
dois metros de altura, barba branca, olhar penetrante, mas familiar.
– Vovô? – arriscou.
– Não. – Grunhiu o velhinho. – Sou
seu bisneto.
– Como assim? O que faz aqui?
– Vim cobrá-lo, você e toda a sua
geração. Olha só o que sobrou da fazenda do seu avô?
O homem olhou para o posto de
gasolina, para a fábrica de tintas e para o tamanho do parente.
Agachou-se, fingindo rezar, e de gatinhas
atravessou a passagem de volta.
Prometeu a si mesmo que não voltaria
ao Rio enquanto não terminasse a Conferência Rio+20.
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