21 novembro 2013
Divórcio
Ricardo Lísias
Alfaguara
237 páginas
5 dias de leitura
R$ 39,90
Ouvi falar de
Ricardo Lísias por ter um texto publicado na revista Granta como um dos novos melhores
nomes da literatura brasileira. Provavelmente
esse foi o motivo de ter sido indicado para leitura por uma colega do nosso
grupo de leitura.
Fiquei super
bem impressionado com o texto. Achei de
uma criatividade ímpar. Todo escrito e narrado na primeira pessoa. Trata-se da
história de um escritor que depois de quatro meses de casado descobre o diário
da esposa. Ali, descobre que ela o chama de patético e retardado. Revela que
viajou na lua de mel sem estar apaixonada. Se diz a maior jornalista cultural
do Brasil. Reclama que o marido não oferece nenhuma aventura. Relaciona quase
uma dezena de defeitos para finalmente expor que o traiu pouco depois do
casamento para uma noite de luxo onde seduziu um jurado para saber com
antecedência o resultado de um festival de cinema.
Em vários
momentos o autor afirma ser um personagem no meio de um conto apesar de
descrever fatos e histórias familiares com enorme verossimilhança. No meio da
leitura imaginei que a mensagem do livro seria um questionamento sobre a ética dos
jornalistas, a busca desmedida para conseguir informações privilegiadas, a
falta de confirmação da veracidade da notícia (ou fofoca) antes da publicação.
Mas a narrativa
segue em ritmo acelerado onde cada capítulo é um quilômetro do percurso de uma
São Silvestre. E a cada metro percorrido mais conhecemos sobre a origem da
família do autor. Ele inclui imagens dos avós, dos pais e de quando era criança
de onde nos conduz a concluir que a ficção não é ficção. Tudo é real.
Já na reta
final da minha leitura busquei informações sobre o autor e obra na Internet para
me situar. Encontrei uma fonte com nome e sobrenome - Daniel Benevides - que
escreveu: “De fato, a vida da ex-mulher de Lísias, uma conhecida jornalista de
cultura, teria sido bastante prejudicada e muitos de seus amigos e conhecidos
estariam indignados.”
Na continuação da entrevista o
autor responde que “basicamente, o livro diz que, se uma imprensa ultrapassa
todos os limites possíveis, eu vou ultrapassar também e agora nós vamos ver
quem vai sobreviver, quem vai chegar ao final da corrida. Essa é a ideia.”
E prossegue
dizendo: “Ficar ofendido por ser um personagem de um livro? É uma ficção! Fui
perguntado se eu tinha medo de ser processado, eu falei que ele devia estar
brincando. Quer dizer, como eu vou ser processado por causa de um personagem de
ficção? Tanto que um advogado fez uma pesquisa para mim e isso não existe, eu
vou inaugurar a jurisdição. Mesmo as pessoas citadas nominalmente, como o meu
psicanalista e tal, quando entram no livro não são mais aquela pessoa, são
personagens de ficção. Aí, me perguntaram: “E se escreverem uma resposta a seu
livro?”. Eu vou ler, vou achar engraçado, não vejo problema algum.”
Terminei de
ler o livro, mas foi impossível parar a mente. Surgiram mil perguntas e
questões.
A primeira é que considero o Ricardo Lísias é
um provocador. Já na capa temos a imagem de uma pessoa que parece ser sufocada
por um saco plástico, semelhante àquelas imagens antitabagistas nos maços de
cigarro. Depois questiona a ética jornalística, cutuca a lei das biografias.
Induz o leitor a fazer contas para descobrir quem seria o Secretário de Cultura
com quem a ex-mulher teria um caso. Questiono qual será o projeto estético a
que o autor se propõe? O autor dá um
recado para quem sonha escrever: saber de antemão que não vale a pena escrever
“ficção que não incomoda”. Ou será que o livro não é nada provocativo, sendo
apenas uma vingança passional contra a transtornada?
Gostei das inquietações provocadas e certamente será um dos livros com maiores discussões na reunião do nosso gruo de leitura.
14 novembro 2013
Paixões
Paixões
E COISAS
PARECIDAS
José Carlos Vieira
Editora
Geração
R$ 30 com
autógrafo
100 páginas
Para
se apresentar Zé Vieira escreveu
Certidão
não sou poeta
de letras perfumadas
não quero sê-lo
prefiro palavras
que cortam pulsos
mordem línguas
sangram lábios...
Para
escrever este poema e todos os outros Zé Vieira preparou um drinque especial
chacoalhado em coqueteleira contendo vodca, vinho, Kerouac, Bukowski, Baudelaire,
Bandeira, raspas de Behr, carvão em brasa, uma pimenta dedo de moça e umas
gotas de suor, acendeu um havana e desandou a escrever palavras que mordem, que
cortam, que mastigam, que podem soprar às vezes mas não cospem.
O
resultado veio com o lançamento na época da mudança dos tempos.
Estação
ouvi uma cigarra
romper a primavera
e eu ainda com essa cara
de inverno.
Que essa coqueteleira
ainda produza muitos porres.
29 outubro 2013
Atração fatal
Atração fatal
A cigarra se posiciona visível no
tronco da árvore.
Louca por sexo, grita seu canto mais estridente.
Ouvida em todo quarteirão, atraiu
uma chinelada e foi ao chão.
27 outubro 2013
Otimista
– Caramba, você não vai caminhar
nesse sol de meio-dia, vai?
– Se eu não posso ter uma Ferrari
ao menos terei a cor.
07 outubro 2013
Os últimos quartetos de Beethoven
Os últimos quartetos
de Beethoven
168 páginas
Editora Objetiva
Não sei do preço
porque tomei emprestado
Gosto muito do
Verissimo. Até nenhuma novidade para quem tem escrito best sellers a décadas. Li e reli inúmeras vezes o Analista de Bagé e Outras do Analista de Bagé. Tantas foram as vezes que eu quase
decorei os dois livros. Um deles sumiu misteriosamente depois de tantos elogios
enquanto o outro já está se desmilinguindo na estante ao lado do Banquete com os deuses, As cobras, Os espiões, Diálogos
impossíveis, As mentiras que os
homens contam e Ed Mort.
Este livro foi
recomendado na oficina de literatura da última sexta-feira. Fizemos a leitura e comentamos os dois primeiros
deliciosos contos. O tema do dia foi o
humor. Antes do término da aula o professor precisou sair. Então com uma
gentileza toda especial, já que o livro ficou esquecido sobre a mesa, peguei-o “emprestado”.
LFV esteve hospitalizado,
ficou um tempo na UTI, mas de volta à escrita mostra como se constroem cenas e personagens
em surpreendentes situações de conflito salientando o humor inteligente.
No primeiro,
um casal recebe para jantar o chefe do marido que ansia por uma promoção num
emprego público. Os momentos que antecedem a chegada são hilariantes quando discutem
se devem ou não ocultar objetos icônicos que denotam tendências políticas que
talvez fossem discordantes dos ideais do convidado.
O segundo
conto é a respeito de uma moça despirocada que exerce uma liderança de fascínio
sobre cinco adolescentes. A idolatria se desfaz com o tempo, apesar do pacto de
sangue. Passado um grande período a turma resolve se reunir e lembrar histórias.
O autor com muito humor trilha caminhos da filosofia.
No conto A mancha, Verissimo mistura suavemente lembranças
de um torturado dos tempos da ditadura com situações inusitadas de vivência atuais.
Mais uma vez torna verossímeis, com classe e estilo, todas as improbabilidades.
Apesar de dois
outros contos um pouco cansativos, li o livro num rompante até chegar ao gran finale: A mulher que caiu do céu. É um conto espetacular. Mais uma vez com
diálogos de quem é mestre na arte dos diálogos.
A única
tristeza do livro é que terminei muito rápido, ao menos posso devolvê-lo antes
mesmo que o professor registre queixa na delegacia mais próxima.
30 setembro 2013
Boca do inferno
Boca do Inferno
Ana Miranda
336 páginas
40 jimbos
Ultimamente
quando termino a leitura de um livro procuro escrever a minha percepção.
O Boca do
Inferno da Ana Miranda é leitura obrigatória para os vestibulandos já a algum
tempo, por isso tive curiosidade para conhecer o conteúdo , mas sempre acabei
por escolher do mesmo - aquilo que
efetivamente já sei, de antemão, que
gosto. É nessas horas que eu me alegro de participar de um grupo de leitura
onde os livros são indicados pelos participantes.
Eu,
francamente não tinha a menor ideia do que iria encontrar pela frente, ao
contrário de um amigo, que quando comentei a minha leitura e ele imediatamente lembrou
que deveria ser sobre o Gregório de
Matos, que conforme aprendera nas aulas de literatura, era o apelido do poeta.
De fato é a
biografia ficcionada do poeta ambientada em Salvador no século XVII. A história é resultado de profunda pesquisa e
por isso mescla momentos de história e costumes do Brasil colônia. Resgata a
história de um advogado e poeta que satiriza e acusa em versos o cruel
governador que tem como prótese um braço de prata. A história revela intrigas
de corrupção, vingança e poder eclodidas a partir do assassinato do
alcaide-mor. Os acusados e perseguido são a família Ravasco que tem um membro para
lá de conhecido na literatura: Padre Antônio Vieira.
A leitura não
flui por recuperar muito vocabulário de época, obrigando-nos a tentar adivinhar
o sentido de muitas palavras. Tive má vontade até a trigésima página quando
resolvi assinalar os arcadismos e criar uma espécie de glossário particular.
Também foi o momento em que resolvi desligar o celular, tirar o relógio do
pulso e entrar numa carroça para viajar no tempo. Então procurei assimilar os
cheiros e mastigar os sabores da história. Concluí que os personagens, os
cenários e o entrelaçamento da biografia com a História são incríveis.
Apesar de
todos os merecidos elogios, confesso que, para mim a leitura foi dificultosa
até o final e precisei de vontade férrea para concluir a tempo de discutir o
livro no clube de leitura.
Tenho orgulho
de ter conhecido e conversado longamente com a autora em 2007. O trabalho, premiado
com um Jabuti, realmente é digno de ser considerado um dos cem melhores
romances da língua portuguesa do século XX.
Se você é
persistente, goste de ler e de história este é um livro que vai acrescentar
muito ao seu prazer e conhecimento.
Palavras de Boca do inferno de Ana
Miranda - 5.a
edição
açucena
|
61
|
Planta ornamental - flor
|
adufa
|
75
|
Anteparo externo das janelas, feito de ripas que não se tocam
|
agoin
|
|
Tribo da Costa do Ouro , África, de onde vieram muitos escravos para
a Bahia. Os homens eram considerados exímios pescadores e mulheres perfeitas
cozinheiras e muito bonitas com a cor de azeitona.
|
albarda
|
104
|
Sela rústica para bestas de carga
|
alcouce
|
33
|
bordel
|
aldraba
|
92
|
Tranca ou tranqueta de porta, janela,
etc; Argola ou maça de metal com que se bate às portas para que abram;
batente.
|
alimária
|
95
|
Animal, sobretudo quadrúpede.
|
almotacé
|
85
|
oficial municipal encarregado da fiscalização das medidas e dos pesos
e da taxação dos preços dos alimentos
|
alpujarras
|
77
|
Pessoa vinda de Alpujarras, na Andalucía, sul da Espanha.
|
antífona
|
270
|
Versículo cantado pelo celebrante,
antes e depois dum salmo.
|
arcabuz
|
259
|
Espécie de bacamarte
|
asnaval
|
55
|
|
bandurrilha
|
317
|
Cara de bandurrilha
|
bergantim
|
240
|
Embarcação movida à vela e a remos.
|
borzeguim
|
61
|
Botina cujo cano se fecha com cordões
|
cabriloé
|
89
|
Carruagem de 2 rodas e capota móvel,
puxada por 1 cavalo.
|
cachaporra
|
41
|
Objeto utilizado como arma; clava; tacape; pau de bater; cacete.
|
calhau
|
317
|
Fragmento de rocha dura maior que o seixo.
|
canaz
|
76
|
canaz é uma flexão de cão: Indivíduo de extrema força e raça.
|
carafa
|
66
|
Tipo de taquara fina.
|
catano
|
42
|
ca.ta.na é uma Pequena espada curva. Catano???
|
caterva
|
41
|
corja
|
charrua
|
89
|
Arado grande, de ferro.
|
chularia
|
296
|
Falar de chularias – falar palavrões
|
cilício
|
102
|
Cinto ou cordão de lã áspera, us.
sobre a pele como penitência.
|
corsário
|
64
|
Não sou pirata, sou corsário. Corsário: Navio, ou homem que faz o
corso. Corso: Ataque ao tráfego comercial do inimigo, realizado por
navio de guerra ou navio mercante armado.
|
credência
|
75
|
Algum tipo de móvel de madeira.
|
culatrina
|
42
|
Cu. culatra:1. O fundo do cano de arma
de fogo.
2. A parte posterior do canhão. |
donaire
|
86
|
Gentileza, garbo.
|
embiocada
|
33
|
Donzela embiocada
|
embuço
|
91
|
Parte da capa ou do manto com que se pode cobrir a face.
|
endechas
|
270
|
Poesia triste
|
enxovia
|
53
|
Cárcere térreo ou subterrâneo, escuro,
úmido e sujo.
|
escanção
|
189
|
O que reparte vinho entre os convivas.
|
fanchono
|
229
|
homem que procura prazeres nos
indivíduos do próprio sexo
|
ferrão
|
42
|
O mesmo que aguilhão: 1. A ponta de
ferro da aguilhada; ferrão.
2. Ponta aguçada; bico. |
figurilha
|
317
|
1 Pequena figura. 2. Bigorrilha. 3
Fraca-figura....
|
fodinchão
|
126
|
Fodido. Usado como superlativo para
mais e para menos.
|
galicado
|
84
|
atacado de sífilis; que tem doença
venérea;
|
garraio
|
89
|
Bezerro ainda não corrido e não
matreiro. Fig. Homem inexperiente, novato...
|
gelosia
|
164
|
Grade de tabuinhas de madeira paralelas
a intervalos, que ocupa o vão duma janela.
|
gladio
|
77
|
Espada de 2 gumes; espada.
|
granacha
|
12
|
vestimenta longa, usada por monges, magistrados. Pessoa que
usa a granacha.
|
guadunhas
|
317
|
|
guedelha
|
91
|
Cabelo desgrenhado e longo.
|
jimbo
|
260
|
Dinheiro e, primitivamente um marisco com valor de moeda entre os
negros
|
labrego
|
91
|
Diz-se de, ou indivíduo rude,
grosseiro.
|
lambaz do ralo
|
268
|
Lambedor de onde sai a água de esgoto
|
lava-rabos
|
42
|
puxa-sacos no sentido figurado
|
léria
|
102
|
mentiras, palavras vazias; ato sem fundamento
|
madraço
|
96
|
O mesmo que mandrião; preguiçoso, vadio, malandro.
|
magano
|
227
|
Diz-se de, ou indivíduo jovial, engraçado.
|
mariola
|
37
|
Malandro, velhaco. Aqui entre nós é um doce em tabletes, feito de
banana ou goiaba
|
marrano
|
202
|
se refere aos judeus convertidos ao cristianismo dos reinos cristãos
da Península Ibérica
|
mazombo
|
227
|
tristonho; taciturno; sorumbático;
|
mofina
|
102
|
|
néscio
|
33
|
Que não sabe; ignorante, estúpido, incapaz, inepto
|
odre
|
80
|
Saco feito de pele, para transportar líquidos.
Cantil.
|
palangana
|
120
|
Tabuleiro onde são levados os assados à mesa.
|
palanquim
|
226
|
Espécie de liteira
|
paludismo
|
215
|
malária
|
pantomima
|
126
|
Mímica; Peça em que o(s) ator(es) se manifesta(m) só por gestos,
expressões corporais ou fisionômicas; mímica.
|
pantufo
|
126
|
Homem gordo e barrigudo.
|
parlenda
|
127
|
Conjunto de rimas infantis, de caráter lúdico e ritmo fácil, Ex.: Um,
dois, feijão com arroz. Três quatro, feijão no prato. Cinco, seis, é minha
vez. Sete, oito, de comer biscoito. Nove, dez, ou de comer pastéis.
|
pasguate
|
38
|
Idiota; pacóvio
|
patarata
|
229
|
ostentar algo de maneira ridícula ou de dizer uma mentira para alardear
vantagem.
|
pechilingue
|
87
|
Instrumento com que o sapateiro faz os furos individualmente para
cravar os pinos no calçado. Ler, pronunciando separadamente as letras.
Ler mal ou com dificuldade.
|
peralvilho
|
33
|
Letrados peralvilhos
|
poião
|
32
|
Sentou-se no poião da porta;
|
pucarinho
|
229
|
Pequeno vaso, diminutivo de púcaro.
|
pulcro
|
229
|
Excessivamente belo; em que há beleza; formoso.
|
radicolho
|
229
|
|
rascoa
|
64
|
1 Cozinheira. 2 Meretriz... (Filhos de uma rascoa)
|
salvajola
|
37
|
variante de "selvagem"; mariola: velhaco
|
sandeu
|
33
|
Idiota, parvo, tolo.
|
sege
|
37
|
Coche com 2 rodas e um só assento.
|
serpentina
|
31
|
É uma espécie de liteira simples onde num varão é pendurada uma rede
que é conduzida por dois escravos. Na rede deita-se o senhor.
|
sicofanta
|
190
|
|
sodomita
|
317
|
Relativo à cópula anal
|
surrão
|
37
|
Bolsa ou saco de couro bastante usada; Roupa suja e gasta.
|
tafularia
|
41
|
coisa ou pessoa taful; luxo ou esmero exagerado, ger. de mau
gosto - cafona
|
tronga
|
193
|
Não saber fazer coisas simples, ser parva, burra; Meretriz, barregan,
concubina
|
vaganau
|
229
|
vadio, vagabundo; Mariola de carregar; Indivíduo
corpulento, alambazado. Maroto, maganão.
|
vedor
|
223
|
1. Que vê, inspeciona ou fiscaliza. 2.
Administrador, inspetor, fiscal, intendente: vedor da casa real.
|
vitualhas
|
283
|
víveres
|
zancos
|
126
|
Pernas de pau
|
zotíssimo
|
125
|
|
Em branco as palavras
não encontradas no dicionário nem Internet.
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