– Ó, von Silva, o que é antologia?
Mundo, mundo, vasto mundo, se eu me chamasse Raimundo não faria essa pergunta. Se eu fosse o Raimundo que amava Maria que amava Joaquim, eu também não saberia a resposta. O meu nome é von Silva, não tenho outro de pia.
Se eu estivesse na repartição seria normal este tipo de pergunta. Estou longe de qualquer dicionário porque hoje é sábado. Essa Rosa radioativa estúpida e inválida não deveria ter feito esse questionamento.
Perdido, sem lenço e sem documento, nada no bolso ou nas mãos, procuro uma resposta. Desejei me esconder, desejei ir para Minas, Minas não há mais, quis morrer no mar, mas o mar secou. Vou-me embora pra Pasárgada, lá sou amigo do rei. Volto para a minha terra que tem palmeiras onde canta o sabiá, que tem cadeiras onde posso sentá e procurar um desmancha-dúvidas.
Meu reino por um dicionário!
Deus, ó Deus, onde estás que não respondes? Preciso urgente de um pai-dos-burros.
Queixo-me da Rosa, mas a Rosa não fala, simplesmente perguntou o significado de antologia.
Para todas as coisas: dicionário, para que fiquem prontas: paciência. Rosa não tem paciência. Quer resposta. Tem uma pedra no meio do caminho, cadê o maldito tira-teimas?
Toda pedra no caminho você pode retirar. De repente, não mais que de repente surge o salvador e consulto o verbete:
“Coleção de trechos em prosa e/ou em verso.”
– Obrigado, Aurélio!
Aurélio, garoto esperto, informa também que intertextualidade é a superposição de um texto a outro.
– Mais uma vez, obrigado, Aurélio!
“Mundo, mundo, vasto mundo. Se eu me chamasse Raimundo seria uma rima, não seria uma solução.” – O gauche – Carlos Drummond de Andrade
“João que amava Tereza, que amava Raimundo, que amava Maria, que amava Joaquim, que amava Lili.” – Quadrilha – Carlos Drummond de Andrade
“O meu nome é Severino. Não tenho outro de pia.” –Morte e vida severina – João Cabral de Melo Neto
“Porque hoje é sábado.” – O dia da criação – Vinícius de Moraes
“A rosa hereditária. A rosa radioativa estúpida e inválida.” – A Rosa de Hiroshima – Vinícius de Moraes
“Sem lenço e sem documento, nada no bolso ou nas mãos.” – Alegria, alegria – Caetano Veloso
“Quero ir para Minas, Minas não há mais, quer morrer no mar, mas o mar secou.” – E agora, José? – Carlos Drummond de Andrade
“Vou-me embora pra Pasárgada, lá sou amigo do rei.” – Vou-me embora pra Pasárgada – Manuel Bandeira
“Minha terra tem palmeiras, onde canta o sabiá, as aves que aqui gorjeiam, não gorjeiam como lá.” – Canção do exílio – Gonçalves Dias
“Meu reino por um cavalo!” – exclamou Ricardo III na Guerra das Duas Rosas, conforme William Shakespeare
“Deus, ó Deus, onde estás que não respondes?” – Vozes d'África – Castro Alves
“Queixo-me às rosas, mas que bobagem, as rosas não falam, simplesmente as rosas exalam o perfume que roubam de ti, ai.” – As rosas – Cartola
"Para todas as coisas: dicionário, para que fiquem prontas: paciência." – Diariamente – Nando Reis
“No meio do caminho tinha uma pedra, tinha uma pedra no meio do caminho.” – No meio do caminho – Carlos Drummond de Andrade
“Toda pedra no caminho você pode retirar.” – É preciso saber viver – Roberto Carlos e Erasmo Carlos
“De repente, não mais que de repente, fez-se de triste o que se fez amante.” – Soneto da separação – Vinícius de Moraes
“Se você rouba de um autor, é plágio, se de vários, é pesquisa.” – Wilson Mizner
6 comentários:
ROBERTO,
COMO SEMPRE, DELEITEI-ME COM SEU TEXTO E PERCEBI QUE VOCE USOU FRASES CONHECIDAS,MAS SÓ DEPOIS DA SUA EXPLICAÇÃO FIQUEI MAIS ENCANTADA AINDA...
QUE PESQUIZA,HEIN MEU, QUE COISA LEGAL...PARABÉNS DE NOVO...ADOREI!!!
Comentários ao texto no orkutiano Bar do Escritor
Robertón Héfler - Há mais mistérios entre o inferno e a crônica do que possa explicar nossa vã filosofice!
É bacana ver como cronistas como o Xarazón dão oportunidades a escritores consagrados! Certamente eles sabem a quem permitem intertextualizações!
Ingrid - Muito legal.
Osmar - Klotz, Ing, não tem jeito de lidar...criativo demais...guardei tamém
BláBlá - oóótimo!
Minhas respostas
Xarazón Hefler – Os autores, vindo de todos os cantos, imploraram para ter o nome incluído na Antologia. Mediante contato de liberação de direitos autorais e uma taxa simbólica de mil euros, acrescentei alguns nomes e retirei outros desgenerosos.
Ingrid – Não sei se é legal incluir o nome sem autorização por escrito. Se passar, passou.
Osmar– Obrigado, Osmar. Os autores é que foram criativos. Apenas recortei e colei formando um novo mosaico.
Flávia Blábláfrufru Perez - ooobrigado.
Edy - Porra, faltou o famoso Edy nessa antologia, por isso, só por isso, não gostei! Hehehe
Cel Bentin - Tibum! de cabeça, corpo e membros da academia. a dos olhos. rs
Minhas respostas:
Edy – Confundi Edy Gonçalves com Gonçalves Dias. Tudo muito parecido. Desculpe.
Marcel – Mergulhar sempre é bom, quando é na literatura, melhor ainda.
Allan - Hehehe. Bem gostado.
Edy - Então está perdoado. Essa é a melhor antologia de todos os tempos! hehe
Jarbas - Também uso. Ou abuso. Bons apontamentos, meu caro.
Minhas respostas
Allan Vidigal – Hehehe. Bem agradecido.
Edy Gê – Obrigado pelo perdão. Eu estava a várias noites sem dormir preocupado com o seu veredicto.
Jarbas Siebiger – O uso é viciante. Uma vez que percebidos os efeitos, impossível deixar de usar dicionários.
Eduardo Perrone - Em texto de boa pesquisa, e artesanal por espírito.
Cristiano Deveras - Adorei a intertextualidade utilizada no texto... Coisas de quem se esmera no trato com a escrita. E Herr Klotz é um destes; lembro-me de uma ocasião onde gentilmente (e com uma paciência de Jó com um fulano que pretendeu entrar sorrateiramente de bermudas no Congresso Nacional) me ciceroneou em uma ótima oficina de textos...
Grande K, saludos!
ficanapaz
Minhas respostas:
Eduardo Perrone - Escrevi este texto quando fui apresentado à palavra ANTOLOGIA, em julho de 2003, época em que comecei a me interessar pela escrita. Resultado de pesquisa artesanal em apostilas de concursos vestibulares dos filhos.
Cristiano Deveras – Obrigado pela visita ao texto e também à Brasília. Você sempre é bem vindo. Admiro seu trabalho, dedicação e ótimos resultados
Henrique - Versatilidade é Klotz. Brinca nas onze com maestria.
Mª Júlia - Ah! mas ficou uma maravilha Klotz, e o seu bom humor está explícito no texto. perfeito.
bjos dear!
Valdeci - "Aurélio: uma galáxia de palavras! " Lêdo Ivo
Neto - Tbm gostei!
Minhas respostas:
Henrique Bon – obrigado Henrique. Brincar nas onze é bom quando é no futebol. Aqui só com onze letras é fria. O abecedário tem para lá de vinte posições. Ainda tenho muito a aprender.
Mª Júlia Pontes - Ainda bem que está explícito, se estivesse oculto o texto seria uma charada.
Valdeci de Almeida – Maravilhoso achado do Lêdo Ivo: “o Aurélio é uma galáxia de palavras!”
Neto Calaça – Também agradeço.
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