29 outubro 2014
Justiça com as próprias mãos – artigo 345
Era uma quarta-feira. A
papeleta ao lado da porta da Terceira Vara de Execuções Penais indicava uma audiência
a cada 45 minutos. O juiz, doutor Telles Fagundes, fazia questão de
pontualidade absoluta. Por isso, naquele dia, deixara de almoçar para não
atrasar a agenda.
Durante a audiência das
16h fora avisado pela assessora que o réu da audiência seguinte não viria.
Quando terminou o
julgamento sabia da sua escassez de tempo para sair, almoçar e retornar.
Correu até a Praça de
Alimentação do Shopping próximo e pediu o mais comum dos sanduíches para agilizar
o pedido.
Quase com um glutão,
devorou a refeição em três vigorosas mordidas.
Precisou ir ao banheiro
para limpar a maionese das mãos e da boca.
Pensando no retorno,
apalpou os bolsos à procura da chave do carro e sentiu falta do celular. Tateou
e sondou todos os bolsos da calça e do paletó.
“Que droga” – pensou – deixei o celular em
cima da mesa.
Encaminhou-se para o
grande espaço onde estavam as mesas das lanchonetes. A sua estava ocupada por
um homem enorme que falava ao celular.
Indignou-se com a
desfaçatez do ladrão.
Diminui o passo e
raciocinou que enquanto chamaria a segurança do shopping o meliante teria se
evadido. Se chamasse a polícia demoraria mais ainda. Se discutisse com o
transgressor, chamaria a atenção e poderia virar matéria de jornal e mesmo
assim um inquérito seria instaurado e levaria meses, talvez anos, para
recuperar o celular S5 recém-adquirido. Recordou que aquele celular dispunha de
dois chips de memória de tão grande que era a sua agenda de telefones.
Estava a quinze metros
do ladrão. Precisava agir rápido. A próxima audiência começaria a 17 minutos.
Pediu licença. Sentou-se
ao lado do pilantra e mostrou a Taurus 38 que estava no coldre sob o paletó.
– Me dê o celular, por
favor.
O homenzarrão não
esboçou qualquer reação, apenas estendeu o aparelho.
No segundo seguinte o
juiz levantou-se e voltou às pressas para o tribunal.
Chegou no minuto exato
para a próxima audiência.
Puxou a cadeira e
observou sobre a mesa o seu celular tinindo de novo.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário