19 julho 2016
Pânico no banco
Antonio Carlos, sargento do exército, era especialista
em desarme de artefatos, bombas e dinamite. Ganhava um dinheiro extra como
vigilante armado em agência bancária. Nos últimos meses estava excepcionalmente
tenso devido às três explosões em assaltos a bancos.
Aquela terça-feira era dia de pagamento. A
agência estava abarrotada de clientes. Estava convencido que qualquer uma
daquelas pessoas podia ser um assaltante. O moreno claro agarrado na pasta
imitava um office-boy, o velhinho trôpego portava uma espingarda disfarçada de
bengala, a gostosa atraia olhares para deixar o comparsa invisível, o
engravatado fingia preencher formulário enquanto escrevia “isto é um assalto”.
Todos eram suspeitos. Em movimentos rápidos, os olhos controlavam todas as
bolsas, mochilas e pastas executivas.
A mão direita segurava o coldre do revólver
desengatilhado. Um capacete de motoqueiro abandonado ao lado da garrafa térmica
era mais um motivo de preocupação.
Ouviu um clique.
Virou-se assustado para a porta de entrada e
viu uma mulher mal vestida aprisionada na porta giratória.
O detector de metais travou a mulher. A sacola
na mão era duvidosa. Observou que a grife estampada não condizia com as roupas
faxineiras.
Apontou a arma para a porta, recuou dois passos
para se posicionar estrategicamente. Gritou para todos se deitarem no chão.
Acionou o alarme estridente. Esticou o braço na horizontal mirando a testa da
mulher apavorada. Ela deixou a sacola cair no chão, levantou os dois braços e
desandou a chorar em pânico.
O vigilante gesticulava com a arma. Gritava —
Esvazia a sacola!
Ela soluçava em desespero, mas negava
balançando a cabeça.
Uma cliente reconheceu a mulher como sendo sua
vizinha. Com mais curiosidade que medo, arrastou-se para trás de um pilar mais
próximo.
O militar insistiu para que a mulher mostrasse
o que trazia na sacola. Com voz firme avisou que iria atirar quando a contagem
chegasse ao três. E imediatamente urrou:
— Um!
Uma velha deitada em frente do balcão dos
caixas juntou as mãos em prece. — Ave Maria cheia de graça / O senhor é
convosco / Bendita sois vós entre as mulheres / E bendito é o fruto do vosso
ventre, Jesus / Santa Maria, mãe de Deus...
— Dois!
A mulher enclausurada na porta de vidro, num
movimento lento, sem tirar os olhos da arma, agachou-se intimidada. A mão
esquerda para cima implorava clemência enquanto a direita tateava o interior da
sacola.
O sargento esticou ambos os braços na posição
de tiro.
A mulher, tremendo, levantou um vibrador
ligado.
O
tiro acertou o alto da porta estilhaçando o vidro e escancarando o
constrangimento.
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