23 maio 2017

Elas batem um bolão



No gramado, debaixo do meu prédio, vi uma menina jogar bola, futebol. Isso não me espanta mais. As mulheres estão ocupando todos os espaços que eram de exclusividade masculina. Eu nunca dediquei meu tempo para observar a habilidade das mulheres no trato com a bola. Mas aquela garota merecia um olhar de admiração pela beleza e suavidade. Já a conhecia de alguns encontros dentro do elevador.
Sou do tempo em que futebol era jogo de homem. Jogo duro, muito corpo a corpo. Muita brutalidade. A bola de couro era mais pesada que hoje. Para cabecear bola molhada tinha que ser macho. Coisa comum eram as brigas em campo. As mocinhas somente iam ver alguma partida ou pelada quando havia algum namorado que estivesse jogando. Nenhum interesse no jogo. Esporte absolutamente masculino.
Observo lá embaixo: os adolescentes estão misturados, meninos e meninas estão jogando juntos! A primeira coisa que me chamou a atenção foi que, da mesma forma como os garotos, ela usava um calção grande e deselegante. Naquela brincadeira de fazer gol por entre as árvores, observei que ela chutava com os dois pés e igualmente bem. Qualidade rara até entre os profissionais da bola.
Quando algum garoto chutava a bola longe do gol e a bola rolava indo parar debaixo do carro estacionado, nenhum dos rapazes se prontificava, num gesto cavalheiro, a buscar a bola. Mudança de tempos.
Fiquei boquiaberto quando em determinado momento ela pegou a bola e começou a fazer embaixadas. Eu não contei, foram mais de cinqüenta. Bola no , no joelho, de calcanhar, de cabeça, matada no peito. Essa menina leva jeito! Sabe tudo.
A brincadeira continuava e a vi dividindo a bola como homem. E para meu espanto, xingando como homem. É, essas mulheres definitivamente estão tomando nosso lugar, até no futebol. Pensei que tivesse visto tudo, mas não, ela cuspiu – raichputcomo um bom moleque cospe.

Agora falta as mulheres aprenderem a coçar o saco como nós. 

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