Sou do tempo em que futebol era jogo de homem. Jogo duro, muito corpo a corpo. Muita brutalidade. A bola de couro era mais pesada que hoje. Para cabecear bola molhada tinha que ser macho. Coisa comum eram as brigas em campo. As mocinhas somente iam ver alguma partida ou pelada quando havia algum namorado que estivesse jogando. Nenhum interesse no jogo. Esporte absolutamente masculino.
Os adolescentes estão misturados, meninos e meninas estão jogando juntos! A primeira coisa que me chamou a atenção foi que, da mesma forma como os garotos, ela usava um calção grande e deselegante. Naquela brincadeira de fazer gol por entre as árvores, observei que ela chutava com os dois pés e igualmente bem. Qualidade rara até entre garotos bons de bola.
Quando algum garoto chutava a bola longe do gol e a bola rolava indo parar debaixo do carro estacionado, nenhum dos rapazes se prontificava, num gesto cavalheiro, a buscar a bola. Mudança de tempos.
Fiquei boquiaberto quando em determinado momento ela pegou a bola e começou a fazer embaixadas. Eu não contei, foram mais de cinqüenta. Bola no pé, no joelho, de calcanhar, de cabeça, matada no peito. Essa menina leva jeito! Sabe tudo.
A brincadeira continuava e a vi dividindo a bola como homem. E para meu espanto, xingando como homem. É, essas mulheres definitivamente estão tomando nosso lugar, até no futebol. Pensei que já tivesse visto tudo, mas não, ela cuspiu – raichput – como um bom moleque cospe.
Agora só falta as mulheres aprenderem a coçar o saco como nós.