17 novembro 2015
Rã
Com a fita
métrica na mão
mediu um por
um e anotou autor
e descrição dos quadros. A tarefa era fácil e agradável .
Paisagens , animais
ou figurativos. De vez
em quando
empacava no reconhecimento de alguma flor . Ele
conhecia rosas , hortências e tulipas . Teve que
consultar especialista para reconhecer helicônias. O trabalho ia maravilhosamente
bem até chegar na área dos abstratos . Aquilo
fugia à realidade . Ele
contornou a situação embarcando nos sentimentos
e passou a batizar os quadros
com pomposos
nomes : paixão
alucinada, caminho da verdade ,
andarilho noturno ,
acabou o bolo de chocolate .
Diversão pura .
Após medir
e anotar as dimensões
de mais uma tela
defrontou-se com borrões
acinzentados desconexos . As manchas indefinidas remeteram a um
pesadelo depressivo e agressivo . Ele
se recusava a designar pinturas
com sentimentos
ou nomes
negativistas. Neste caso considerava a tarefa impossível .
Resolveu ouvir a opinião
dos visitantes da exposição para
chegar a alguma solução . Assim rapidamente batizou o quadro
rã .
O dono da galeria
perguntou-lhe o porquê daquela escolha.
Explicou que dois visitantes indagados a opinar
sobre o quadro
em questão
responderam co m outra
pergunta :
— Hã?
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