21 junho 2016

A advogada que tirou o escritor do buraco



A humanidade julga que a vida de um escritor seja a coisa mais fácil do mundo: basta acordar às dez da manhã tomar café, ler os jornais do dia, observar como está o tempo e sentar na frente do teclado para digitar o que sonhou durante a noite. Há quem pense que antes de começar a digitar o artista responde a e-mails dos fãs, seleciona alguns dos convites para entrevistas e estuda a participação de outros tantos convites para estrelar em feiras literárias ao redor do mundo. E ainda mais, que depois desta estafante tarefa cabe verificar quanto as editoras depositaram a título de adiantamento para a o próximo best seller.
Não é nada disso. Não há glamour, não há sucesso e não há dindim.
O buraco é mais embaixo. Bem abaixo.
A única alegria do autor é receber a informação de que foi selecionado por uma editora para participar de uma antologia. — YESSSSS! A antologia será a reunião de textos inéditos de primeira grandeza junto com outros autores também consagrados (o “também consagrados” bate fundo no ego) e rapidamente confirma a participação.
Uma semana depois recebe a cobrança de quinhentos reais para a publicação e envio de dez exemplares da antologia.
Quem escreve também deveria aprender a ler os contratos.
Todos os escritores que ainda não receberam nenhum Jabuti nem foram indicados para o Nobel da Literatura carecem de compensações pecuniária.Esse meu amigo já foi indicado, mas o jabuti era apenas um cágado.
Chega de lero-lero. Vamos aos fatos.
Apesar da triste situação financeira, a felicidade chegou quando uma renomada advogada resolveu adotá-lo como marido. O casamento foi uma bênção. Deixou de gastar dinheiro com mulheres e, nos restaurantes, passou a dividir a conta com a esposa.
Depois de seis meses ele resolveu quebrar o cofrinho de estimação para bancar uma primeira viagem. Numa superpromoção pagou metade de duas passagens para Fortaleza.
Tudo era alegria. Pegaram o avião às duas da matina – promoção é promoção.
Quando chegaram ao apartamento ficaram chocados ao ver duas camas de solteiro. Na mesma hora ligou para a portaria.
— Pô, meu irmão, fiz a reserva com trinta dias de antecedência, informei que era uma lua de mel. Cadê a cama de casal?
— Meu senhor, todos os quartos com camas de casal estão ocupados, desculpe. São quase cinco da manhã. Não tenho o que fazer agora. Prometo um up grade para amanhã. Talvez um quarto com janela.
Acabaram se acomodando como podiam.
Meia hora depois, as duas camas escorregaram e abriram um abismo. Ele se espatifou na queda.

A esposa, advogada de competência, estendeu a mão e o escritor medíocre saiu do buraco.

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