19 abril 2018
Mary Shelley
Editora Darkside
304 páginas de terror
R$ 45,00
Uma das perguntas que eu me faço quando
termino um livro é: qual foi a mensagem que autor quis passar.
Neste Frankenstein, não precisei terminar para ter a resposta.
A análise na introdução do
romance sugere que Frankenstein seja uma história sobre a moral.
“A ambição desordenada, o desejo
não contido pelo conhecimento a qualquer preço, um senso de cumprimento do
destino e o perigo de isolar-se do amor e da amizade ameaçam transformar
qualquer homem em monstro.”
Tanto que (pág 44): “A vida ou a
morte de um homem seriam preços irrisórios a se pagar pela aquisição do
conhecimento que busco, pelo domínio que devo conquistar e legar sobre os
inimigos mais elementares de nossa
raça.”
E continua (pág 46): “Espero que
a gratificação de seus desejos não se transforme na serpente que o morderá.”
Esta não é a única mensagem, nem a
única questão que leva à reflexão. Pode-se questionar o abandono de filho
nascido com problemas, a influência da aparência física pela sociedade ou mesmo
a falta de um igual para troca de afinidades.
Mesmo que você não tenha lido o
livro ou visto uma das versões do romance nas telas do cinema, não é necessário
fazer uma sinopse, pois todos sabem que se trata da história de um ser
monstruoso criado por um cientista em seu laboratório. Assim como o altíssimo
monstro da família Adams, este tem uma alma dócil até ser contrariado. Talvez você
não se lembre do fim. Então farei a desgentileza de dizer que nesta história de
terror o monstro não morre para dar a impressão que pode estar por perto a
qualquer momento. Inclusive atrás da sua cadeira.
A estrutura do romance é
espetacularmente perfeita. A autora domina a arte de tecer a escrita, tanto que
inicia o capitulo IX dando uma receita de expectativa: “Nada é mais doloroso
para a mente humana, após os sentimentos serem instigados por uma sucessão
rápida de acontecimentos, que a calma mortal da inação e a certeza que se segue
e priva a alma tanto da esperança quanto do medo.”
O discurso da virada em que a
criatura se transforma de gentil apara agressivo, é ótimo e pode se resumido
(pág 113) em ”Em todo lugar vejo a felicidade que somente a mim é
irrevogavelmente negada. Fui benevolente e bom; A infelicidade transformou-me
em demônio. Faça-me feliz e serei virtuoso novamente.” Lentamente externado o
sentimento de vingança (pág 145) “Desde aquele momento, declarei guerra eterna
contra a espécie, sobretudo, contra aquele que me criou, abandonando-me nesta
angústia insuportável.” Que jorrou em fúria em (pág 153) “Se não puder inspirar
amor, causarei medo, e principalmente a você, meu arqui-inimigo pois meu
criador, juro um ódio inextinguível. “
A autora trabalha com a
imaginação e o pensamento sabendo que causam mais pavor que a confrontação com
a realidade lançando uma maldição e repetindo-a várias vezes.: “Estarei com
você em sua noite de núpcias.”
Quando o criador está marcado de
terror pela perseguição do monstro, faz um juramento arrepiante (pág 209):
“Pelo solo sagrado em que me ajoelho, pelos espetros que pairam à minha volta,
pelo pesar profundo e eterno que sinto, eu prometo; e por você, oh, noite, e
pelos espíritos que a regem, juro perseguir o demônio que causou essa miséria
até que um de nós pereça em um embate mortal. Para tal propósito, resguardarei
minha vida. A fim de executar essa sentença tão cara, contemplarei novamente o
sol e trilharei as pastagens da terra que, de outro modo, deveriam apagar-se de
meus olhos para sempre. Invoco-lhes, espíritos dos mortos, e a vocês, prófugos ministros
da vindita, pra que me auxiliem e conduzam em meu labor. Deixem que o monstro
amaldiçoado e infernal sorva profunda agonia; deixem-lhe sentir o desespero que
ora me atormenta.”
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário