14 agosto 2015
COMO SUPORTAR JABS
COMO SUPORTAR JABS NO
BAÇO E ENCARAR NOCAUTES
Vlado Lima
Editora Patuá
108 páginas
R$ 35,
Se você está
no ar condicionado acomodado num sofá tomando Veuve Clicquot, se você for
politicamente correto, se a bebida mais maléfica que você já tomou na vida foi
uma coca quente sem gás e se nunca gargalhou por causa de um peido que soltou no
meio dos amigos então definitivamente este livro não é para você.
Este livro ri,
debocha ou morde. Sacaneia aquilo que está à nossa frente, mas que a sociedade
de falsos pudores ignora ou finge ignorar.
O livro, de
acordo com a ficha catalográfica, é de poesia. Esteticamente, são poemas. Na
minha ignorância eu diria que são tiradas inteligentes, mordazes, bem-humoradas
com ritmo, cadência e sonoridade. Foram escritas para ser interpretadas e
aplaudidas em voz alta.
Eu conheci as
sacadas do autor em Pop para-choque,
livro emprestado em que não pude sublinhar, riscar nem dobrar orelhas. Este,
adquiri no site da Patuá. É meu.
Posso profanar, posso sacrilejar, posso tudo. Posso até elogiar: esse cara enxerga
o mundo com originalidade. Conferi 20 orelhas dobradas. Uma orelha para cada
poema gostado.
Em vez de
continuar enchendo o autor de elogios, copei três poemas:
Conselho de mãe
o buraco do mundo é fundo!
disse minha mãe no dia em que saí d casa
costurou um beijo quente em minha testa
me deu um abraço de Kraken
7 cuecas novas
4 conselhos
e uma certeza:
não roube
não mate
respeite os mais velhos
e cuidado com puta
viado
preto
ateu
maconheiro
e comunista
(...)
essa gente não presta!
anos depois
no dia das minhas 26 luas
(com a casa cheia de amigos
cheiros
risadas
carnavais
e cores de Lautrec)
a velha me ligou pra dar os parabéns
alô, mãe! eu gritei
(entre os agudos & graves e um Led Zeppelin no talo)
lembra daquela galera que a senhora falou pra eu tomar
cuidado?
tá toda aqui em casa!
Rodrigueanas no 4 –Almas gêmeas
5o anos de casados
4 filhos
7 netos
3 bisnetos
e brigas
muitas brigas
maiúsculas
insignificantes
homéricas
ela não apagou a luz
ele mijou fora da privada
ela queimou o feijão
ele não levou o cachorro pra
cagar no quintal do vizinho
a última cizânia
foi por causa de um cemitério
queriam ser enterrados juntos
ela preferia aquele-um lá da
Vila Galvão
ele, aquele-outro do Parque
Continental
combinaram: quem morrer primeiro
escolhe
não deu outra
só para atanzanar a coitada
ele bateu a caçoleta primeiro
no velório
ela (feito uma uva melancólica)
sentada inconsolável ao lado direito do caixão
dizia aos prantos: eu queria que
o meu velho estivesse aqui
eu queria que o meu velho
estivesse aqui
só para ver o cemiteriozinho de
merda que ele escolheu.
Se eu soubesse que
você viria
Se Eu soubesse que você viria
eu teria feito um
bolo
Eu
não teria secado o meu estoque
de Red Label paraguaio
nem teria empalado carneirinhos de celulose
nas minhas madrugadas sem sono
Eu
não teria pendurado
essa bandeira negra na janela
nem teria quebrado a minha coleção
de LPs do Roberto
Eu
não teria sintonizado em UHF
meus cornos para-raios
nem teria vagado pelas noites da Rua Augusta
como um chihuahua-zumbi sem dono
Eu
não teia afogado na privada o teu ursinho lionella
nem teria deixado o desintegrador de ameba
assim
tão perto
se Eu soubesse que você viria
Eu teria feito um
bolo
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