15 dezembro 2015

Salada russa

Salada russa

Outro dia fui a um jantar na casa de amigos. A dona da casa serviu um jantar impecável e delicioso. Leitão, batata palha, farofa, salpicão, arroz e autêntica salada russa. Saxofone, bateria e piano embriagavam inclusive os abstêmios. Alegria e descontração no ar. Noite memorável! Memorável porque recordou-me a salada que minha mãe aprendeu com minha avó: salada russa.


Durante décadas a salada russa foi a contribuição da minha mãe, sucedendo minha avó, para a ceia natalina. Esta salada é tradição familiar. As garfadas trazem recordações de tios e tias, parentes queridos. Muitos nasceram, cresceram e também aprenderam a saborear a salada russa. Alguns se foram. Todos envelheceram.
No ano passado, pela primeira vez fiz a refrescante salada para o Natal em casa. Foi aprovada. É muito simples e rápida.

15 vagens picadas cozida
1 maçã crocante ou 2, se forem pequenas
1 lata de ervilhashoje existem ervilhas congeladas, são muito mais saborosas
½ vidro de pepinos em conserva ou o vidro inteiro
2 ovos cozidos
1 cebola grande
cenoura ralada no ralador grosso
presunto em cubinhos
os ingredientes devem ser picados como se fosse para um vinagrete
½ xícara de vinagre
3 colheres de maionese
pimenta-do-reino em
azeite a gosto
misture tudo  e enfeite a vasilha, em uma das laterais, com uma folha de alface

Assim como está, é a receita que consta na página 37 do meu caderno. Traduzi das receitas da minha mãe. O caderno materno é escrito em alemão, parcialmente com caneta tinteiro. Letra redonda e caprichada. Curiosamente, ela anotou datas logo abaixo do nome do prato. A salada russa consta com data de 21 de dezembro de 1949, Muschka. Curioso? Muschka era como minha mãe chamava carinhosamente minha avó. Isto faz supor que este deve ter sido o ano em que minha avó teria passado a incumbência e responsabilidade para minha mãe para as então solenes reuniões natalinas. Ainda lembro que, no início dos anos sessenta, o traje era terno e gravata para os homens e meninos. Longo para as senhoras e senhoritas. E eu considerava aquilo absolutamente natural!
Conversei reminiscências com minha mãe e ela pegou uma desbotada caixa de papelão do fundo do armário. Lembranças. Medalhas de natação, uma rosa vermelha seca pelo tempo, um crucifixo de prata, cartas amarradas com uma fita verde, várias fotos em preto e branco da minha avó com meu avô e seu inseparável charuto. Uma foto amarelada dos meus avós a bordo de navio na migração para o Brasil. Livro de poesias com dedicatória do meu pai para minha mãe e o caderno de receitas da minha avó.
Era isso que eu buscava. Minha mãe, com mais de oitenta anos de experiência, não teve dificuldade em localizar na letra gótica a receita de Russische Salat. Percebi de onde minha mãe aprendeu a anotar data e origem das receitas. Russische Salat, Franzl, 28 April 1920. Minha mãe contou que a mãe dela fez a salada a pedidos dele no aniversário do meu avô, quando ficaram noivos. Franzl era a forma amorosa como ela o chamava.
Que bonito, mãe!
– Aqui, junto da foto do noivado, tem uma anotação do seu avô dizendo que ele aprendeu esta salada quando esteve na Rússia, na primeira guerra mundial. Esta é a receita em russo com a letra dele. Tem até carimbo do ministério do czar.

Não tenho mais dúvidas: esta sim é que é a autêntica salada russa.

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