11 abril 2016
Girafa barulhenta
Caminhar sempre é bom.
Acompanhado é melhor. E quando a companhia é agradável, é o máximo. Tenho uma
vizinha que gosta de caminhar comigo.
Infelizmente a velocidade
dela é devagarzinho. Bem devagarzinho, para poder falar bastante. Ela é muito
alegre, extrovertida e perguntadeira. Bem típico da idade. Eu que não tenho
nenhuma neta, a princípio fiquei incomodado com esse negócio de me chamar de
Vô. Porém é uma menina muito fofinha, de olhos grandes. Demorei a me acostumar,
agora até gosto de ser chamado vovô. Quando ganho beijo lambuzado, nem reclamo.
Hoje ela me contou que já
sabe o que o irmãozinho vai ganhar de aniversário, mas que não ia me contar
porque a mãe disse que era segredo.
Depois cantou a
musiquinha da escola.
vou comer, vou comer
pra ficar fortinho, pra ficar
fortinho
e crescer e crescer.
E aí, sem mais nem menos
me perguntou se era verdade que as girafas não faziam barulho. Eu não sabia se
aquilo era uma piada, pegadinha ou uma demonstração de conhecimento.
— Quem te disse isso?
— A tia. Ela disse que os
cachorros latem, que os gatos miam, que os passarinhos piam, mas que as girafas
não falam. As coitadas não fazem nenhum barulho.
Percebi os olhos tristes
da menina com pena da girafa.
— As pescoçudas fazem
barulho, sim. Você precisa ouvir como é alto o pum da girafa.
A menina deu uma risada e
eu continuei.
— Silenciosas são as
borboletas. Ou você já ouviu as borboletas batendo papo, cantando e fazendo
algazarra?
Antes que ela
respondesse, prossegui:
— Fale para a sua tia que
o único bicho que não fala é o criado-mudo.
Ganhei um delicioso beijo
e ela saiu correndo.
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