15 agosto 2016
Dinossauros exibem
multichifres
“Escavações em uma remota
região do sul do estado norte-americano de Utah descobrem uma série de
dinossauros com vários ornamentos na cabeça. Os chifres serviam não só para a
luta com outros animais, mas como forma de atração para as fêmeas.” Depois que li essa provocação no jornal meus dedos se agitaram:
Kosmoceratops Richardsoni com seus 15 chifres e
Utahceratops Gettyi com cinco cornos revezavam-se frente a um espelho do
shopping center. O espelho era muito pequeno para os dois simultaneamente.
Utah, o menorzinho, media 3 metros de orelha a
orelha. Admirava as próprias guampas. Virava-se para a direita, depois para a
esquerda. Meio de ladinho, empinava um chifre de cada vez, sentindo-se o rei do
pedaço. Pensava seriamente em pintar um de cada cor. Estava cansado do mesmo
tom de azul. Kosmo sugeria passar na chifrecure do terceiro piso.
Lá sugeriram o amarelo por transmitir calor, luz e descontração.
Kosmo e Utah, bons dinossauros que são, carimbam
protocolos na mesma repartição. Aos sábados de manhã jogam futebol e sábados à
noite se esbaldam num pagode.
Quando o sol se põe, vaidosíssimos, experimentam
meia dúzia de camisas. Calça justa de cintura baixa. Cinto com fivelão.
Combinam a meia com a cor da camisa. Se perfumam com âmbar francês. Reclamam
dos sapatos. Dizem que estão apertados, que a indústria de calçados é incapaz
de produzir sapatos resistentes. Passam brilhantina nos cornos. Kosmo lança
moda com o primeiro chifre tatuado da turma: um homem de paletó e gravata.
Antes de sair de casa pegam um chiclete, pois tudo acontece no interior dos
Estados Unidos.
Estão prontos para paquerar e exibir as vastas
ponteiras coloridas.
Sentam-se numa mesa perto da entrada para melhor
observar e escolher as dinas. Enquanto os enroladinhos de alface não chegam,
invariavelmente conversam e debocham dos antepassados de outras eras que se
utilizavam dos chifres para brigar com rivais na disputa das melhores fêmeas.
Que falta de civilização! Agora não, basta exibi-los para conquistar as mais
formosas e curvilíneas fêmeas. Orgulhosamente argumentam ser de espécies
evoluídas. Conhecem de cor e salteado o discurso feminino. A elas pouco importa
o tamanho da calosidade no cocuruto, o principal é a quantidade de adornos.
Quanto mais cornos, melhor. Eles, inocentes e felizes gargalham chacoalhando as
cabeças premiadas.
As fêmeas chegam aos barzinhos de saia curta
balançando os rabinhos e contando cuidadosamente o número de bicos nas cabeças
dos pretendentes. Nem querem conversa. Pouco se importam se são pontudos,
retorcidos, compridos, furados, galhados, grossos, rombudos ou coloridos. Desejam
profusão. Os machos, cegos de futilidade, ostentam, além das cores e piercings,
chifres com luzinhas nas pontas.
Ao contrário do que concluíram os cientistas, as
fêmeas não consideram excitante a grande quantidade de chifres. Elas preferem parceiros
muito chifrudos apenas porque significa que são tolerantes e certamente terão
maior liberdade sexual. Simples assim!
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