24 outubro 2017

A foto que não tirei

                                                                     
                                                                                              (10/04/2007 início do governo Arruda)

Assim que começou o novo governo do Distrito Federal foram tomadas várias atitudes: exoneração de 17 mil funcionários em cargos comissionados e de confiança, devolução de 144 imóveis alugados, devolução de 700 automóveis, redução de 30% nos contratos de prestação de serviços, retomada de diversas áreas invadidas, remoção de placas de propaganda e implosão de três prédios inacabados.
Nada me afetou diretamente a não ser a curiosidade em ver ao vivo uma implosão.
A primeira implosão foi num hotel de uns vinte andares às margens do lago. Eu estava com febre alta e fui proibido pelo médico de sair de casa. Vi a destruição pela televisão no exato momento em que o fato ocorria.
A segunda implosão foi em um shopping center abandonado no centro da cidade. Para evitar prejuízos na área comercial a implosão foi programada para um domingo. Naquele domingo, sim justamente naquele domingo, naquela hora, eu tive que buscar minha filha que estava chegando de viagem. Vi a destruição pela televisão. Em replay.
A terceira implosão estava com dia e hora marcada. Nada impediria que eu fosse ao local para ver a implosão de outro shopping abandonado. Esperto, fui ao local com bastante antecedência. Estacionei longe para não ter problemas com congestionamento na hora de ir embora. Posicionei-me junto da fita de isolamento, sol pelas costas e montei o tripé para a máquina fotográfica. Bati meia dúzia de fotos. Com objetiva, sem objetiva. Maravilha. Quem sabe ainda ganho uns cobres com minhas fotos?
O sol estava forte. Faltavam só uns noventa minutos. Uma hora antes da explosão, conforme anunciado, tocou uma sirene alertando a população. Outra sirene tocou quando faltava meia hora. A explosão seria às dez. Agüentei firme no calor. As pessoas empurrando para se aproximar do limite imposto pela segurança. E eu ali firme com meu tripé. Comentei com um fotógrafo profissional, que estava do meu lado, que o vento estava forte e que a poeira da explosão viria rapidamente em nossa direção.
Virei-me para trás para perguntar as horas quando ouvi o barulho de uma dezena de explosões. Liguei rapidamente a máquina, a objetiva se moveu lentamente para frente. Dez segundos depois apertei o obturador. Fotografei a poeira. Poeira que me cobriu antes da segunda foto.

Odioso novo governador. Bem que poderia ter me telefonado avisando dez segundos antes da implosão. Minha foto virou pó.

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