29 março 2010

Ilha de Caras

Charles Darwin não se importava em usar meias furadas.
Marlyn Monroe comprovadamente, enquanto filmava nua na piscina, soltou um pum.
Antoine de Saint-Exupéry respirava sem a ajuda de aparelhos.
Salvador Dali esporadicamente, após as refeições, palitava os dentes.
Vinícius de Moraes cortava as unhas semanalmente.
Cecília Meireles fechava os olhos enquanto beijava.
Alberto Santos Dumont se molhava todo na hora do banho.
Léon Tolstói foi alfabetizado em russo.
Joe Nobody é josé ninguém.
Antonio Banderas olha o relógio quando quer saber as horas.
Jesus Cristo nunca andou de bicicleta.
Nelson Rockfeller, apesar de bilionário, jamais comprou uma tevê de 40 polegadas.
Derci Gonçalves, pouco antes de morrer, confidenciou que, para escovar os dentes, usava uma pasta dental de cor branca.
Roberto Carlos quando desabotoa as camisas azuis usa as duas mãos.
Gisele Bündchen geme quando se depila com cera quente.
e que Rui Barbosa, quando escrevia, só quando escrevia, abusava da letra A.

11 março 2010

Crônica - um pouco de teoria

Foi dito por aí:

Crônica é tudo o que o autor chamar de crônica. – Fernando Sabino

A crônica é o relato de um flash.

Ser cronista é viver em voz alta. – Manuel Bandeira

Crônica é a literatura de bermuda. – Joaquim Ferreira dos Santos

A crônica é um vício. Quando gostamos do modo de escrever de algum cronista, assumimos uma parceria com ele. – José Maria

Quando não é aguda, é crônica. – Rubem Braga.


A crônica é uma narração do tempo, do cotidiano versando sobre acontecimentos reais, fatos ou idéias de teor artístico, político, esportivo etc ou relativos à vida quotidiana. Apesar de ser divulgado em jornal costuma ter valor literário. Enquanto o jornalismo tem no fato seu objetivo, seu fim, para a crônica o fato só vale, nas vezes em que ela o utiliza, como meio ou pretexto, de que o artista retira o máximo partido, com as virtuosidades de seu estilo, de seu espírito, de sua graça, de suas faculdades inventivas. A crônica é na essência uma forma de arte, arte da palavra, a que se liga forte dose de lirismo. É um gênero altamente pessoal, uma reação individual, íntima, ante ao espetáculo da vida, as coisas, os seres. O cronista é solitário com ânsia de comunicar-se.
Nada mais literário do que a crônica, que não pretende informar, ensinar, orientar. Apesar da publicação nos periódicos, não é indissoluvelmente ligada ao jornal, e o prazer da sua leitura decorre mesmo em livro, construindo ‘uma vida além notícia’.


O conto é breve narrativa, devendo contar unidade dramática, concentrando-se a ação num único ponto de interesse. O conto deve ter um só conflito, uma só ação. Deve ser narrado em terceira pessoa e ter epílogo surpreendente, boa trama linear. O diálogo é imprescindível no conto. E deve ter objetividade de ação, de lugar e de tempo.


Crônica – características
• Narrativa curta – os cronistas normalmente têm um espaço fixo numa coluna de jornal. Nem mais, nem menos.
• É um relato do cotidiano.
• Narrado em primeira pessoa.
• Opinião e interferência do autor sobre a observação. (o jornalista não deve opinar)
• Não contém diálogos (LFVerissimo adora cronicar usando diálogos)
• Normalmente com bom humor – o autor procura cativar o leitor para outras leituras.
• É a narrativa a partir de um flash. Um artigo no jornal, uma conversa, um fato, uma particularidade.
• Identificação com o leitor. O cronista, no fundo, deseja que seu leitor seja um co-autor.
• Dizem que a grande inspiração do cronista é o prazo do editor.
• A crônica abre uma discussão, uma polêmica, um questionamento.
• Normalmente o suporte é o jornal.
• Finais surpreendentes.

Conto – características
• Narrativa curta. Menor que a novela e muito menor que o romance.
• Narrada em terceira pessoa.
• Um só conflito.
• Contém diálogos
• Tem final surpreendente ou moral. Diferentemente de um artigo jornalístico, por exemplo.
• O conto fecha uma questão, uma história, uma polêmica, um questionamento.
• Quase sempre nos livros.


Não há regras fixas – estas são apenas diretrizes para ajudar a diferenciar os tipos de prosa.


Primeira crônica brasileira – A carta de Pero Vaz de Caminha.
Opinou: em se plantando tudo dá. (ele não plantou para saber), As índias expunham suas vergonhas (isso é opinião), ainda pediu emprego para o sobrinho.
Rubem Braga. entra para a história literária exclusivamente como cronista.
A coluna do jornal é um complemento salarial cobiçado. Livros não rendem dinheiro aos autores. Por isso quase todos os grandes escritores foram ou são também cronistas.

Cronistas: Nelson Rodrigues, Carlos Drummond de Andrade, Otto Lara Rezende, Machado de Assis, Clarice Lispector, João do Rio, Paulo Mendes Campos, Fernando Sabino, Manuel Bandeira, Danuza Leão, Caio Fernando de Abreu, Conceição Freitas, Rubem Braga, Carlos Eduardo Novaes, Artur da Távola, entre outros.

03 março 2010

Perguntas de soslaio

Ajeito-me na cadeira. Puxo o teclado para mais perto. O monitor exibe uma tela com o Maracanã lotado de bandeiras tricolores. Sobre o estádio estão vários ícones, não do futebol, mas dos meus programas de maior uso. O meu predileto, a minha ferramenta mais freqüente, fica no canto inferior direito com o singelo nome de Paz. Ninguém da face da terra vai imaginar que sob aquele ícone travam-se as mais ferrenhas batalhas entre o computador e eu. Basta clicar e a máquina me desafia para mais uma disputa de pesos desproporcionais. Sete montinhos de cartas se perfilam para outra contenda de paciência.
Era exatamente isso, deitando um cinco de paus sobre um seis de copas, que eu estava fazendo, no meio da tarde, quando atendo ao telefone.
— Repartição, boa tarde.
— É você von Silva?
— À sua disposição...
— Você se lembra de mim?
Ser interrompido numa empolgante partida de paciência é ruim. Mais grave é quando uma pergunta constrangedora interrompe nosso raciocínio exigindo concentração e reflexos rápidos alternando instantaneamente para jogo de adivinhação.
— Você me pegou de surpresa! Você cortou o cabelo não foi? Mas lembro muito bem da sua voz. — Respondi oferecendo uma oportunidade à interlocutora de revelar seu nome.
Ao invés de desvendar o mistério, ela opta por oferecer uma pista.
— Não está me reconhecendo, von Silva? Nós nos falamos há menos de um mês.
Essa mulher quer complicar a minha vida! Preciso fazer com que ela fale um pouco mais. — É que o meu aparelho está chiando muito, e não consigo ver você direito! — Brinco procurando ganhar tempo.
— Puxa, von Silva, imaginei que eu fosse uma pessoa mais importante para você.
Nesse momento me senti acuado. A fala foi muito curta, não percebi qualquer sotaque. Chamou-me de você, nem doutor nem senhor, tampouco pelo prenome. A voz doce e sensual fala com intimidade. Como posso ser grosseiro com alguém que fala com voz de lábios vermelhos carnudos? E se for uma amiga ou sobrinha da madame? Deus me livre! Que fria!
— Quem sabe você diz só o primeiro nome?
— Você foi tão encantador... me chamou de mocinha.
Era só o que me faltava, encantei alguém por chamá-la mocinha. Chamo todas as mulheres de mocinha ou menina, é só um jeito de falar, moças ou velhas cambaleantes, todas gostam e não preciso guardar nomes. Desconfio que a mocinha seja um trubufu solitário sem desconfiômetro. — Agora que já sei com quem estou falando ficou mais fácil, mocinha. Em que posso ajudá-la?
— Você está muito ocupado?
Não, não pode ser! Isso é uma brincadeira de mau gosto! Ninguém merece. Nem para a minha consciência eu admitiria estar na quarta partida. Tenho que tomar cuidado com as minhas palavras e preciso descobrir quem é essa poderosa jararaca cabeluda. Será que ela precisa de alguma consultoria? Será que quer apenas que eu a chame de mocinha novamente? Será que precisa que eu descubra o destino de algum processo na repartição? Será que quer testar meus nervos? E se for alguém da auditoria? — Estou analisando essa pilha de processos que está na minha frente. Tenho muito trabalho. — E se a jararaca for apenas uma cobrinha risonha? — Mas, posso fazer uma pausa.
— Será que pode me ajudar?
Isso é um novo tipo de tortura! Um interrogatório onde o algoz coloca a vítima em um pau de arara, venda os olhos e queima o prisioneiro com pontas de cigarro primeiro nos braços e pernas indo até a genitália. Não posso me entregar! Não vou delatar meus companheiros de repartição. Somos inocentes! Estou nas mãos da inquiridora. Serei simpático antes que me corte a língua: — Posso ajudar sim, contanto que não seja nada de ilegal.
— Hahahahaha (foi a risada mais satânica que já ouvi). Bem que o Zé diz que você sempre está bem humorado.
Ufa! Afinal uma abertura. — De qual Zé você está falando?
— Do meu marido.
Que maravilha, passei da posição de interrogado para interrogador. Na primeira oportunidade me vingarei dessa víbora peçonhenta. Farei um cinto de pele de cascavel e o meu telefone em vez de tocar vai chacoalhar guizos. — Aposto que só você o chama de Zé. — Arrisquei.
— É verdade. Aí na repartição todos só o chamam pelo sobrenome ou simplesmente de chefinho.
Filhada mãe! Então é a senhora, dona Altamira? Espero que ela não tenha percebido a minha dúvida. Baixei a guarda. E fui quase subserviente. — Afinal, no que posso ajudá-la?
— Eu quero saber onde você comprou para a madame aquele vestido com flores azuis e também que você vai fazer no sábado?
De novo não! Socorro. Vai começar outra seção de tortura!
— Desculpe mocinha, a secretária me avisou que devo descer imediatamente para falar com o diretor. — E, desliguei.
 
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