29 dezembro 2015

Metas e ações para o Ano Novo


Meta – Emagrecer 15 kg. Cortar pastéis, salgadinhos e batatas fritas.
Ação – Procurar um barzinho que sirva cenouras, rabanetes e pepinos para acompanhar a cerveja. Se não houver legumes, levar uma faca para cortar as frituras em pedaços menores.

Meta – Ser promovido na empresa.
Ação – Nem que para isso tenha que trabalhar.

Meta – Ser pontual.
Ação – Comprar um relógio novo.

Meta – Viajar para a Europa por 30 dias, atendendo antigo sonho da esposa.
Ação – Jogar mais vezes na Mega-sena.

Meta - Ser mais companheiro, amigo e generoso com a mulher.
AçãoIr ao happy hour no máximo quatro vezes por semana e, se sobrar algum, levar quibes para casa.

MetaSer mais atencioso com a mulher.
AçãoAo menos olhar para ela quando estiver bronqueando por chegar bêbado.

MetaFrequentar a academia de musculação.
Ação Estudar inglês para comprar um tênis americano na Internet.

Meta – Fazer as pazes com a sogra.
Ação – Levá-la para dançar no clube dos aposentados e dançar com ela. Pagar a cerveja.

Meta – Quitar as dívidas (aluguel, empório, prestação do carro)

Ação – Pedir novo empréstimo à sogra. 

22 dezembro 2015

24 de dezembro
Como em todas as repartições, hoje é dia de trabalho. É bem verdade que as coisas estão lentas, quase paradas. O número de funcionários está reduzido à metade, ou menos. Muito menos.
Depois de dezenas de reuniões e acaloradas discussões, elaboraram o mapa de responsabilidades e presenças para o final de ano. Tudo começou em agosto, quando os que têm visão de futuro programaram suas férias somando Natal, réveillon e férias escolares. Os ajustes continuaram em todas as rodas de conversa. Na época, todas as premissas foram analisadas com muita dedicação. Quem vai viajar? Para onde? Quem vai receber visitas de parentes? Quem vai visitar parentes? Quem vai tirar recesso de Natal? Quem vai fazer o recesso do Ano Novo? Quem diz que vai trabalhar e na última hora diz que teve dentista? Quem não cumpriu o combinado do outro ano? Era hora de blefar, dizendo que fez um monte de horas extras durante o ano e que agora não queria nem saber: vai tirar uma folga compensatória, mais que justa e merecida. Quarenta dias! Assim mesmo: quarenta por extenso. De 17 de dezembro, uma segunda-feira, até o dia 26 de fevereiro, uma quinta-feira, logo após o carnaval.
Misturando a lógica, justos argumentos e chantagens emocionais, tudo foi acertado verbalmente: cada um por si e Deus por todos. Azar de quem está iniciando no serviço público e crê que todos cumprirão palavras e compromissos.
Mesmo em dias como hoje, sempre fui responsável e cônscio dos meus deveres e obrigações. Chego cedo, penduro o paletó no cabide, aponto meus lápis com meu canivete vermelho, leio o jornal do chefe e tomo cafezinho nos mesmos e rotineiros horários.
O dia está diferente. O telefone toca silêncios. Não há entra e sai de gente. No caminho da sala ouvi as pessoas se cumprimentando e, mecanicamente, desejando Feliz Natal. Alguns se queixaram por ainda terem de comprar presentes. José disse que irá, como todos os natais, cear com os pais até as dez e meia e depois deverá atravessar a cidade e cear novamente, agora com os sogros.
Abro dois envelopes com bonitas mensagens de Natal. Antigamente os fornecedores entregavam cestas de Natal, depois agendas ou garrafas de vinho. Agora, cartões. Amanhã, apenas um e-mail.
Hoje, não há escola. Muitas mães levam as crianças para o serviço. É impossível concentrar-se no trabalho com tantas crianças correndo e gritando pelos corredores. Particularmente, deixo minha porta fechada. Todos sabem que tenho muito a fazer. À minha frente, uma enorme lista de amigos e parentes. Ligo para todos, um por um, desejando boas-festas. Na maioria das vezes, respondem sem originalidade, desejando o dobro. Ao telefonar para os celulares, alcanço as pessoas no trânsito, à beira do fogão ou nas compras desesperadas. Todos muito atarefados e estressados com as últimas providências natalinas.
Enquanto isso, as odiosas crianças continuam agitando gritarias perto da minha sala. Murmuro baixinho minha prece para afastar moleques arteiros. Diabos, será que tenho de berrar ao telefone para transmitir mensagens de paz?
Lembro-me da minha infância. No Natal, reuníamos a família. Fazíamos uma oração. Trocávamos lembranças. Nada comprado. Essa regra era fundamental. Tínhamos que fazer o presente para cada pessoa. Era nossa maneira de demonstrar amor e carinho. Foi assim que eu me lambuzei com um vidro de geleia de jabuticaba, só para mim. Tia Juliana costurou o meu pijama predileto. Para o meu melhor estilingue, o Tio Alberto usou a borracha de uma câmara de pneu de bicicleta. Nós, que éramos crianças, cantávamos as canções de Natal.
Acho que o espírito natalino desapareceu. A magia foi apagada pelo egoísmo, pela propaganda e pela falta de tempo.
Agora, do corredor, ouço os gritos do Tonim. Fico arrepiado. Garoto irrequieto. Pirralho atrevido. Moleque arteiro.
Não deu outra. Minha porta é escancarada e...

— Tiooooooooooô, Feliiiiiiz Nataaaaaaaal! Hô, hô, hô!
Era o Tonim em carne e osso e gorro de Papai Noel, correndo ao meu encontro e tascando um delicioso beijo lambuzado.
Rápido como um cometa: veio, deixou a luz e saiu.
Uma lágrima rolou.

O espírito natalino ainda vive!

15 dezembro 2015

Salada russa

Salada russa

Outro dia fui a um jantar na casa de amigos. A dona da casa serviu um jantar impecável e delicioso. Leitão, batata palha, farofa, salpicão, arroz e autêntica salada russa. Saxofone, bateria e piano embriagavam inclusive os abstêmios. Alegria e descontração no ar. Noite memorável! Memorável porque recordou-me a salada que minha mãe aprendeu com minha avó: salada russa.


Durante décadas a salada russa foi a contribuição da minha mãe, sucedendo minha avó, para a ceia natalina. Esta salada é tradição familiar. As garfadas trazem recordações de tios e tias, parentes queridos. Muitos nasceram, cresceram e também aprenderam a saborear a salada russa. Alguns se foram. Todos envelheceram.
No ano passado, pela primeira vez fiz a refrescante salada para o Natal em casa. Foi aprovada. É muito simples e rápida.

15 vagens picadas cozida
1 maçã crocante ou 2, se forem pequenas
1 lata de ervilhashoje existem ervilhas congeladas, são muito mais saborosas
½ vidro de pepinos em conserva ou o vidro inteiro
2 ovos cozidos
1 cebola grande
cenoura ralada no ralador grosso
presunto em cubinhos
os ingredientes devem ser picados como se fosse para um vinagrete
½ xícara de vinagre
3 colheres de maionese
pimenta-do-reino em
azeite a gosto
misture tudo  e enfeite a vasilha, em uma das laterais, com uma folha de alface

Assim como está, é a receita que consta na página 37 do meu caderno. Traduzi das receitas da minha mãe. O caderno materno é escrito em alemão, parcialmente com caneta tinteiro. Letra redonda e caprichada. Curiosamente, ela anotou datas logo abaixo do nome do prato. A salada russa consta com data de 21 de dezembro de 1949, Muschka. Curioso? Muschka era como minha mãe chamava carinhosamente minha avó. Isto faz supor que este deve ter sido o ano em que minha avó teria passado a incumbência e responsabilidade para minha mãe para as então solenes reuniões natalinas. Ainda lembro que, no início dos anos sessenta, o traje era terno e gravata para os homens e meninos. Longo para as senhoras e senhoritas. E eu considerava aquilo absolutamente natural!
Conversei reminiscências com minha mãe e ela pegou uma desbotada caixa de papelão do fundo do armário. Lembranças. Medalhas de natação, uma rosa vermelha seca pelo tempo, um crucifixo de prata, cartas amarradas com uma fita verde, várias fotos em preto e branco da minha avó com meu avô e seu inseparável charuto. Uma foto amarelada dos meus avós a bordo de navio na migração para o Brasil. Livro de poesias com dedicatória do meu pai para minha mãe e o caderno de receitas da minha avó.
Era isso que eu buscava. Minha mãe, com mais de oitenta anos de experiência, não teve dificuldade em localizar na letra gótica a receita de Russische Salat. Percebi de onde minha mãe aprendeu a anotar data e origem das receitas. Russische Salat, Franzl, 28 April 1920. Minha mãe contou que a mãe dela fez a salada a pedidos dele no aniversário do meu avô, quando ficaram noivos. Franzl era a forma amorosa como ela o chamava.
Que bonito, mãe!
– Aqui, junto da foto do noivado, tem uma anotação do seu avô dizendo que ele aprendeu esta salada quando esteve na Rússia, na primeira guerra mundial. Esta é a receita em russo com a letra dele. Tem até carimbo do ministério do czar.

Não tenho mais dúvidas: esta sim é que é a autêntica salada russa.

08 dezembro 2015

Número na cabeça


Publicado no jornal:
Na Estrutural, uma das cidades mais carentes do Distrito Federal, a inspiração dos jovens ao mudar o visual passa longe das celebridades dos campos e palcos. Agora, os pedidos mais comuns nas barbearias da região são artigos do Código Penal, números que representam a incredulidade – como o 666 –, além de listras que servem para identificá-los como integrantes de determinados grupos criminosos. CB – Comportamento – 16/01/2011


Por volta das seis horas da tarde de uma quarta-feira, a viatura encostou no meio-fio ainda com as luzes piscando e a sirene ligada. Parece que encontraram o grupo que constrange e ameaça com apologia ao crime. São facilmente identificados pelo corte de cabelo curtíssimo formando desenhos tribais. Os agentes saltaram empunhando armas e ordenando que os rapazes, que corriam na calçada, levantassem as mãos.

– Quietos aí. Não se movam! De costas! Encostem na parede! Mãos pra cima!

– É para não se mover ou levantar as mãos?

Sob a ameaça da arma de um dos policiais, os outros dois começaram a revistar os quatro elementos imobilizados.

– Documentos! – Gritou o homem com a ponto 40 destravada apontando o meliante mais próximo.

Habituado à falta de gentileza, o garoto de pele parda estava mais calmo que os agentes. – Posso botar a mão no bolso para pegar o documento?

Sem responder o policial consentiu gesticulando com arma.

O agente de polícia observa a cabeça raspada em recortes imitando as tatuagens agressivas e assustadoras.

O que é isso na sua cabeça?

É a moda.

O que significa esse 666?

Besta.

O policial dá um safanão na boca do delinquente. – Me respeita!

666 é o número do apocalipse. Da Besta.

E tu? – Cutucando com a pistola – Pensa que me assusta com esse 148 recortado no cabeção? Tô sacando! Código Penal, Artigo 148: Sequestro e cárcere privado.

Que é isso seu guarda, tá me estranhando? Sou da paz. Eu moro naquela casa, aí da frente. Pode olhar: número 148.

E tu? – Cutucando o terceiro – Exibindo terror para cima da comunidade? Tô de olho! 155 de um lado e 121 do outro. Não nasci ontem. Furto e homicídio.

Sou sangue bom! Trabalhador. Dou um duro danado para sustentar a minha lôra. Tenho que levantar às 4 da matina, preparar a matula e pegar o busão às 4 e meia. 155 é o número da linha na ida. Na volta pego o 121. Tudo lotado.

O quarto elemento nem se mexia, parecia mais assustado.
Tira o capacete!

Que diabos de números são esses? 4348? Se reponder cavalo e elefante vai levar um catiripapo no pé do escutador, só para ficar esperto.

Pega leve. Sou motobói. Entrego pizzas.

Agora só falta me dizer que a pizzaria tem 4.348 opções. – Ou vai me dizer que 4348 é o número da pizza calabresa tamanho grande?

Eu estava dizendo que sou entregador de telepizza e esse é o número do telefone.

4348? Tá gozando com a minha cara?

São quatro 3 e quatro 8. 3333-8888.

Os homens uniformizados se entreolharam, aquele que parecia ser o chefe da operação ordenou:


Três três um. Todos presos por desacato à autoridade.

01 dezembro 2015

Chatô o rei do Brasil

Esta foi a primeira vez que ousei comentar sobre um livro lido,
a data acusa 30/01/2005



Chatô o rei do Brasil

Fernando Morais

Companhia das Letras

736 páginas

Não anotei o valor da compra.




O polêmico Chatô na escrita de F. Morais



Sempre tive muita curiosidade em saber dos mistérios de poder do Velho Capitão. Guardava na memória um registro dele trajando elegante fraque encimado por brilhante cartola. Como paulistano passei na frente da Casa Amarela várias vezes. Uma vez parei para admirar os colibris confinados numa enorme gaiola. Ele era um mito. Tive a oportunidade de vê-lo uma vez.

O que mais aguçava minha curiosidade, foi ter visto no MASP, ainda na Rua 7 de Abril, uma obra de Manet com uma nota de agradecimento à família Lundgren pela doação. Fiquei impactado. Mesmo menino eu sabia quanto valia um quadro de um mestre. Os Lundgren são parentes e meu pai teve convívio com eles bastante próximo na década de 50. Ao voltar para casa elogiei o desprendimento na doação desta magnífica obra. Meu pai protestou. Disse que não se tratara de benemerência e sim de resultado de chantagem. E que dessa forma Chateubriand teria montado o maior museu do hemisfério sul. Um dia eu precisava tirar isso a limpo. O livro confirmou as palavras do meu pai.

Por essas e outras amei conhecer tanto sobre a figura.
                                                                       
Que aula de história! Chateubriand conseguia estar presente em todos bastidores dos momentos importantes. Fazia o mundo girar na velocidade e sentido que lhe interessavam.

Ele, conforme o título do livro era o rei do Brasil. Era poderoso, sem escrúpulos e dono da opinião na imprensa e na televisão nascente. Sem constrangimentos, comprava pessoas e anunciava ter comprado. 

Na leitura descobri que ele também foi um grande incentivador da aviação no Brasil. Percebendo os conflitos internacionais criou dezenas de aero clubes, inclusive o de Marília onde papai tirou brevê aos 17 anos.

Fiquei estarrecido com a cara de pau e estratégias montadas para assistir à coroação da rainha Elisabeth, à qual não fora convidado.

Além da fantástica biografia, chamaram-me à atenção no livro o volume da pesquisa, a quantidade de entrevistas e a profusão de colaboradores. O senso de organização, trabalho e acima de tudo contatos são destaque merecedores de aplausos. Trabalho complexo de pesquisa e montagem de equipe tão grande e multidisciplinar em diversos cantos. Destaco ainda o genial e divertido vocabulário léxico do polêmico Chateubriand que Fernando Morais resgatou. Nauseabundo, poltrão, sacripanta, celerado, torvo, flibusteiro, bufarinheiro e frascário foram alguns dos adjetivos nada delicados aplicados pelo protagonista aos que atrapalhavam seu caminho.

Gosto muito de pesquisa e percebo neste livro um rico veio de preciosidades.

Meu livro orgulhosamente tem dedicatória do autor.


Agora, passados dez anos continuo empolgado para ver o filme.
 
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