16 março 2008

Ausente



Estarei fora do mundo onde haja internet até o final de março. Se, nesse período, eu não responder suas mensagens não brigue comigo.

Existe um camarada nada ético que colocou um feed no meu blogue. Basta haver uma postagem nova que aparece um span nos comentários. Veja o exemplo abaixo.

14 março 2008

Desfolhando a rosa dos ventos


O urbanista Lúcio Costa visitou meus sonhos.
Os jornais fervilham notícias do novo bairro – Noroeste – em final de gestação e eu, como brasiliense apaixonado pela cidade, participo da torcida pela construção com bons resultados para a qualidade de vida dos futuros moradores e que o grande Lúcio Costa tenha orgulho de ter assinado o anteprojeto.
Quando o urbanista pensou Brasília focou o bem-estar do homem. Os prédios teriam altura limitada para não apagar o horizonte nem esconder o céu. A disposição dos blocos nas quadras seria de tal sorte que a fachada principal de um prédio não estivesse de frente com a fachada posterior do outro prédio. A proximidade dos blocos só aconteceria fundos com fundos com a privacidade protegida por elementos vazados denominados cobogós. Todos os apartamentos, por menores que fossem sempre teriam duas frentes para permitir a circulação do ar. Os cobogós atendiam com inteligência e baixo custo a função da iluminação, ventilação natural e privacidade.
Na época da construção existia muita pressa por isso vários prédios foram construídos sem subsolo e sem garagens. Havia poucos veículos. Agora recaem ao governo as cobranças de soluções para a falta de vagas de estacionamento e conseqüentes congestionamentos em muitas vias. Hoje a situação se agravou, temos um veículo para cada 2,5 habitantes. Os financiamentos facilitaram tanto a aquisição de automóveis que podemos observar que mesmo no comércio local é muito comum haver um ou até dois veículos por quitinete. Alerto que o projeto do Noroeste autoriza a construção de quitinetes em cima das áreas comerciais. Duvido que determine subsolos para abrigar automóveis.
Em algum lugar eu li que outro problema existente tanto no Sudoeste quanto no Plano Piloto, e que não existirá no Noroeste, é a instalação de escolas próximas a quadras residência. Isso, conforme a leitura, gera congestionamentos no trânsito. O urbanista Lúcio Costa pensou de forma oposta quando planejou Brasília com as escolas-classe dentro das quadras de forma que não fossem necessários veículos.
Em números redondos é possível estimar que para os 40 mil habitantes, estimados para o bairro, serão necessárias pelo menos 16 mil vagas. A conta se agrava quando o local é projetado para a classe alta onde a relação veículo/habitante é maior. Será que os prédios terão vários subsolos para absorver a demanda? Acho pouco provável. Os empreendedores, visando o lucro, dirão que atenderam ao projeto. Sem alardear que o projeto saiu do papel graças a um convênio firmado entre o GDF e a Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi).
A pressão das construtoras e imobiliárias é enorme, tanto que recentemente uma imobiliária de outro estado adquiriu o controle de duas imobiliárias tradicionais da cidade.
Em 2007, o MP – Ministério Público – entrou como uma ação na Justiça pedindo a readequação do plano urbanístico do bairro, que previa 80 mil moradores, apesar do Estudo de Impacto Ambiental autorizar apenas 40 mil.
O plano urbanístico foi refeito para 40 mil moradores, entretanto criaram uma brecha através de uma reserva destinada a urbanização futura onde cabem outros 40 mil moradores. Ou mais.
A propaganda existe para atrair. Por isso a campanha publicitária do Noroeste informa que será o primeiro bairro verde. O nome “verde” foi escolhido para sugerir construções ecologicamente corretas e não a derrubada de uma área verde, pois o terreno de 4 milhões de metros quadrados fica na Área de Preservação Ambiental (APA) do Planalto Central e foi preciso uma Licença especial de Instalação do Ibama para regularizar a expansão da cidade.
O nome verde está associado a ecologia e a um partido político. No Noroeste, conforme eu li, o verde estará presente na urbanização do Parque Burle Max e na promessa de bom aproveitamento da água, no uso de energia solar, com ventilação e iluminação natural, ciclovias e coleta inovadora de lixo.
A propaganda induz a pensar que todos os prédios serão equipados com coletores de energia solar. Este é um enorme investimento das construtoras que eu duvido que se realize. O máximo que vai acontecer será a iluminação de alguns pontos com investimentos bancados pelo governo, digo pagadores de impostos.Por favor, me belisquem, me acordem , digam que tudo não passa de um engano, de um enorme pesadelo.

06 março 2008

Quando pintei o urubu


Hoje acordei atleta e artista plástico. Acordei, mas não levantei. Apenas fiquei pensando em como é louca a nossa mente. Considerar atleta alguém que caminha quarenta minutos diários por recomendação do cardiologista jamais pode ser considerado atleta. Mas na poderosa e imaginativa mente ainda sou capaz de escalar montanhas e chegar ao outro continente com meia dúzia de braçadas. Para não me chamarem mentiroso eu diria que, tudo bem, uma dúzia de braçadas e chego à África. O mais engraçado é me achar artista plástico. Logo eu, que de artista, sei apenas que Miguelângelo pintou a Mona Lisa.
Enquanto escovo os dentes vou à janela ver como está o tempo.
– Decepcionante.
Aquela deliciosa moça do tempo diria com um sorriso que o tempo está encoberto com nuvens carregadas com o dia sujeito a trovoadas e temporais. Não acho nada sensual um dia carregado de tempestades.
Tenho que fazer alguma coisa, além de guardar a escova de dentes e tirar a espuma da boca. Vão me confundir com algum louco babando pela moça do tempo.
Minha primeira providência é procurar os meus baldes de tinta aquarela que guardo no armário da garagem junto com a árvore de Natal e junto com os meus esquis para neve.
Levo as tintas, a palheta e o pincel para a minha varanda. E abro a minha escada expansível.
Começo da esquerda para a direita. Ou do norte para leste, como preferirem. Pinto o céu de azul e as nuvens de branco. Como há nuvens demais, pinto várias de azul para se transformarem em céu. Mudo a escada de lugar girando para o leste. Apago as nuvens pretas e faço um círculo amarelo com um sol brilhante. Do meio das nuvens surge um avião cujo piloto acena um agradecimento pela melhoria das condições de vôo.
Com a minha rapidez de atleta rapidamente deixo todo o céu azul e várias nuvens branquinhas. Eu fui tão rápido e ágil que agora tenho que me desculpar com o urubu que pintei de branco. O urubu, para minha alegria, não ficou ofendido, ao contrário, disse que esse era o grande sonho dele e que não adiantava ficar apenas alisando o cabelo. Agora sentia-se uma verdadeira garça.
Eu, hem!
Guardo a escada e troco meu jaleco de artista por um calção de atleta. Lambuzo pernas, braços e rosto com protetor solar. Afinal, somente malucos caminham sob um sol abrasador como o de hoje.
Na rua, além do sol quente, percebo poeira, árvores secas e plantas sedentas. Minha consciência dói. Meu egoísmo se retrai e volto para casa como um atleta legítimo: correndo.
Como desfazer? Não tenho tinta preta? Nem sei desenhar raios e trovões.
Sento na frente do micro e aponto o mouse para aquele xizinho do canto superior direito.
– Deseja salvar as alterações em “hoje acordei atleta e artista plástico? Sim? Não? Ou Cancelar?
Apontei o mouse para não e cliquei.
Ah, como é bom poder dormir mais um pouco nos dias chuvosos.
 
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