29 setembro 2010

Mexiriqueiro


Meu analisador estatístico é para lá de enxerido. E fofoqueiro.
Disse para mim, que além dos brasileiros, recebo visita das estranjas. Dedurou que nos últimos 30 dias só de Portugal recebi 15 visitas. Lisboa(4), Portimão(2), Porto(2), Amadora, São João da Madeira, Pombal, Setúbal, Espinho,Vila do Conde e outro município não identificado. Entregou que dois leitores de Luanda, em Angola, também me visitaram.
Pressupôs que um que um leitor de Fresno, na Califórnia se viciou nos meus textos. Disse que percorreu meu blog durante 47 longos minutos. – Vai gostar assim lá no meu blog!
O analisador ainda relacionou 77 municípios brasileiros onde há leitores. Em número de acessos Brasília está em primeiro lugar seguido de perto por São Paulo. Isso é o que dá ter amigos aqui e acolá!
E você, de onde é?

Dinossauros exibem multichifres


“Escavações em uma remota região do sul do estado norte-americano de Utah descobrem série de dinossauros com vários ornamentos na cabeça. Os chifres serviam não só para luta com outros animais, mas como forma de atração para as fêmeas.” CB – Ciência 25/09/2010

Kosmoceratops Richardsoni com seus 15 chifres e Utahceratops Gettyi com seus cinco cornos revezavam-se frente a um espelho do shopping center. O espelho era muito pequeno para os dois simultaneamente.
Utah, o menorzinho, media 3 metros de orelha a orelha. Admirava as próprias guampas. Virava-se para a direita, depois para a esquerda. Meio de ladinho, empinava um chifre de cada vez, sentindo-se o rei do pedaço. Pensava seriamente em pintar um de cada cor. Estava cansado do mesmo tom de azul. Kosmo sugeria passar na Adelaide, a chifrecure do terceiro piso. Foi ela que lhe sugeriu o amarelo por transmitir calor, luz e descontração.
Kosmo e Utah, bons dinossauros que são, carimbam protocolos na mesma repartição. Aos sábados de manhã jogam futebol e sábados à noite se esbaldam num pagode.
Quando o sol se põe, vaidosíssimos, experimentam meia dúzia de camisas. Calça justa de cintura baixa. Cinto com fivelão. Combinam a meia com a cor da camisa. Reclamam dos sapatos. Dizem que estão apertados, que a indústria de calçados é incapaz de produzir sapatos resistentes. Passam brilhantina nos cornos. Kosmo lança moda com o primeiro chifre tatuado da turma: um homem de paletó e gravata segurando uma pasta de executivo. Se perfumam com âmbar francês. Antes de virar a chave para sair de casa pegam um chiclete, pois tudo acontece no interior dos Estados Unidos.
Estão prontos para paquerar e exibir as vastas ponteiras coloridas.
Sentam-se numa mesa perto da entrada para melhor observar e escolher as dinas. Enquanto os enroladinhos de alface não chegam, invariavelmente conversam e debocham dos antepassados de outras eras que se utilizavam dos chifres para brigar com rivais na disputa das melhores fêmeas. Que falta de civilização! Agora não, basta exibi-los para conquistar as mais formosas e curvilíneas fêmeas. Orgulhosamente concluem serem uma espécie evoluída. Conhecem de cor e salteado o discurso feminino. A elas pouco importa o tamanho da calosidade no cocuruto. O principal é a quantidade de adornos. Quanto mais cornos, melhor. Gargalham felizes e inocentes balançando as cabeças premiadas.
As fêmeas chegam aos barzinhos de saia curta balançando os rabinhos e contando cuidadosamente o número de bicos nas cabeças dos pretendentes. Nem querem conversa. Pouco se importam se são pontudos, retorcidos, compridos, furados, galhados, grossos, rombudos ou coloridos. Desejam profusão. Os machos cegos de futilidade, ostentam, além das cores e piercings, chifres com luzinhas nas pontas.
Ao contrário do que concluíram os cientistas, as fêmeas não consideram excitante a grande quantidade de chifres. Elas preferem parceiros muito chifrudos apenas porque significa que são tolerantes e certamente terão maior liberdade sexual. Simples assim!

Conto não publicado em jornal. Nem Folha de São Paulo, nem Globo. Tampouco Zero Hora, Correio Braziliense ou Estado de Minas.
Oitavo texto semanal consecutivo baseado em notícia publicada no Correio Braziliense. Aguardo convite para assinar contrato oficial de colunista.
Todos os textos tem tamanho pré definido, data e hora para publicação no blog.

28 setembro 2010

Como está o tempo em Brasília?

Um amigo virá a Brasília em breve. Perguntou-me sobre o tempo.
Olhei para a névoa.
Estamos há exatos 125 dias sem chuva.
O ar está muito seco. Lábios racham, sangram. Pele e mucosas nasais precisam de umidificadores.
O calor está insuportável com céu bem vermelho como se fosse marketing de partido político. É a poeira do cerrado.
A grama está esturricada. Morta. Basta uma ponta de cigarro para incendiar as vastas áreas plantadas. No horizonte sempre podemos contar dois ou três focos de incêndio.
Sempre é assim. Todo ano é a mesma coisa. Alguns melhores outros piores.
Algumas cigarras aquecem a voz. Formigas protegem a entrada da toca. Os ipês brancos estão floridos anunciando que a chuva está próxima.
Quando cai a primeira gota de chuva as pessoas festejam. A cidade grita alegremente. Comemora como se fosse vitória na final da Copa do Mundo. Euforicamente todos se abraçam e telefonam comentando a novidade. Homens, mulheres, crianças, pobres e ricos se irmanam sob a chuva: festejam. Todos se molham de prazer.
No dia seguinte a grama ressuscita em verde claro pintando a cidade de primavera.
Quando outubro chegar, a cidade estará pronta e colorida para recebê-lo
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22 setembro 2010

Devolução perigosa

“Na última semana, a biblioteca pública de Winona (Estados Unidos) perdoou as dívidas de todas as devoluções atrasadas de livros. O resultado: um livro perdido há pelo menos 35 anos foi parar na caixa da biblioteca. O exemplar devolvido é de um livro com textos de diários de figuras públicas norte-americanas quando crianças. O livro foi publicado em 1966 e emprestado quatro vezes antes de desaparecer. Não fosse pela semana de perdão das dívidas promovida pela biblioteca, o proprietário do livro perdido teria de pagar mais de US$1,4 mil (cerca de R$ 2,4mil) de multa.” CB – Você sabia... 20/09/2010

A manchete do jornalzinho da pequena cidade americana anunciava que naquele sábado a biblioteca municipal promoveria o dia do perdão. O acervo estava prejudicado. Por maior que fosse o atraso, todos que devolvessem livros naquele dia seriam perdoados nas multas.
John Smith fecha cuidadosamente o jornaleco sobre a mesa e olha para a estante repleta de livros. Com os olhos percorre as prateleiras, uma a uma. Fixa-se numa capa verde clara desbotada pelo tempo. Levanta-se e puxa o livro pela lombada. Uma orelha dobrada indica quando Humbert inicia a longa viagem de prazer, pela Europa, com Lolita. Volta a fechar o livro e se recorda de mil aventuras quando era vendedor de xarope. Sua camionete conhecia todas as estradas do Alabama, Mississipi, Tenessee, Kentucky, Missouri e Arkansas. Em cada cidade, em cada vila, mesmo que houvesse apenas uma única mulher, novinha que fosse, Smith dormia acompanhado.
Coisas do passado. Fui acusado justamente e injustamente. Revoltou-se com o apelido de serial fucker. Cumpriu pena alternativa durante um ano distribuindo basic baskets em um orfanato.
Dizia-se redimido. Fixou residência. Passou a frequentar uma igreja evangélica.
Mais que um livro, Lolita fora seu companheiro de viagens durante 40 anos. Agora a estrada chegara ao fim. O livro precisava ser devolvido. Necessitava demonstrar a todos que estava regenerado, era homem cumpridor das leis, que estava reintegrado na sociedade. Que poderia olhar nos olhos dos vizinhos sem constrangimentos. John Smith voltara a ser um cidadão. A devolução seria o momento libertador.
O sábado chegou e o evento, dia do perdão, atraiu toda a população do vilarejo. O banjo, a gaita e o violino faziam a festa. Um misto de fotógrafo e jornalista registrava sorrisos de leitores que devolviam livros sem desmbolsar preciosos dólares.
Smith, retornando do culto, retirou o livro de dentro de uma sacola e, sob os flashes, entregou-o orgulhosamente à bibliotecária.
– Muito obrigado. O senhor é o mister John Smith, não é?
– Sim sou eu mesmo. É um alívio livrar-me deste pecado.
– Consta que, além de Lolita, o senhor ainda detém Memórias de uma Mulher de Prazer – Fanny Hill de J. Cleland; O Amante de Lady Chatterly de D. H. Lawrence; Trópico de Câncer de Henry Miller; História de Ó, de Pauline Reage além de Justine e Filosofia na alcova do Marquês de Sade. O senhor continua pervertido!




Texto não publicado no Correio Braziliense. Nem na Folha, no Globo, no Estado ou Zero Hora.


Este é o sétimo conto semanal dentro do projeto Minha versão, com tema originado por notícia do Correio Braziliense. Hoje enviarei os textos aos editores para avaliar a data do meu ingresso remunerado em uma redação. O colunista esperto sabe que o diagramador tem ordens de guilhotinar textos maiores que a coluna. O texto, de 2959 caracteres, no mínimo, e 2997, no máximo, sempre estará disponível antes das 18h das quartas-feiras.


15 setembro 2010

De repente, outra língua



“Britânica passa a falar com pronúncia francesa depois de uma série crise de enxaqueca. Kay Russel conta como foi se descobrir com a chamada síndrome do sotaque estrangeiro. Doença é uma desordem neurológica que provoca alterações na fala.” CB – saúde 14/09/2010


De médico e louco cada um tem um pouco. James, o cabeludo, de doutor e doido, tem tudo.
Nosso protagonista folheava a revista Science na biblioteca do Instituto Moscovita de Línguas, em Londres, enquanto aguardava o sinal tocar para se dirigir à sala de aula. Era aluno em aulas de russo. Estava insatisfeito com a vida, com a profissão de psiquiatra. Pensava em morar em outros países. Foi aí que, leu o artigo curioso onde uma mulher durante a segunda guerra, sob bombardeio, teve uma lesão cerebral e subitamente passou a falar norueguês com sotaque alemão.
Eureka! Gritou comprometendo o silêncio bibliotecário. Eureca significa descobrir, em grego. James descobriu a sua felicidade. Decidiu ser especialista em distúrbios psicoterápicos ligados à síndrome do sotaque estrangeiro.
Mudou-se para Newcastle uma cidade medieval a 280 milhas ao norte. Estudou com afinco e depois de pouco tempo pendurou orgulhosamente o diploma na parede de um consultório em Nova Iorque.
Rapidamente descobriu que o elevador não parava no seu andar. O elevador funcionava, mas nenhum paciente descia naquele andar. Apenas 100 casos foram reportados na literatura científica.
O que fazer?
Não adiantaria publicar anúncios no jornal para aumentar a clientela. Mais pessoas precisariam ser acometidos do mal da fala. Resolveu agir.
Conseguiu uma licença especial para trabalhar num centro de pesquisas hospitalares.
James oferecia líquidos brilhantes aos pacientes esquizofrênicos, injetava substâncias radioativas em diabéticos, ministrava choques elétricos em cardíacos. Fazia cócegas em quem apresentasse o transtorno obsessivo compulsivo. Os resultados, porém, só começaram a aparecer quando começou a praticar cirurgias cerebrais. Especificamente na parte inferior do córtex somatosensorial, aquele situado entre córtex motorial e o córtex associativo. Encontrou uma pequena saliência semelhante a uma pinta, um botão. Este ponto, ao ser pressionado, ligava o paciente em outros idiomas.
O primeiro foi um nova-iorquino branquelo. Sofria de dificuldade de expressão no âmbito interpessoal. Ao ter o botão acionado continuou tímido e lento, mas cantou um reggae em jamaicano legítimo mesmo sem fumar nada diferente.
Outra cobaia foi um baiano perdido na América. Antes da operação chamou o médico de meu rei. Após a intervenção chamou-o Maradona. O sotaque era argentino.
Praticou muitas cirurgias. O número de casos com a síndrome do sotaque estrangeiro explodiu. Começou a ter pacientes na fila de espera do consultório.
O resultado cirúrgico mais inesperado foi com uma texana. Para o espanto de todos, após o botão apertado, a mulher ficou silenciosa. Mas gesticulava muito. Passou a falar a linguagem dos mudos. Em vietnamita!



Texto não publicado no Correio Braziliense. Nem na Folha, no Globo, no Estado ou Zero Hora.

Este é o sexto conto semanal dentro do projeto Minha versão, com tema originado por notícia do Correio Braziliense. Breve enviarei os textos aos editores para avaliar a data do meu ingresso remunerado em uma redação. O colunista esperto sabe que o diagramador tem ordens de guilhotinar textos maiores que a coluna. O texto, de 2959 caracteres, no mínimo, e 2997, no máximo, sempre estará disponível antes das 18h das quartas-feiras.

08 setembro 2010

O veado chinês e o pangaré brasileiro


"Um veado na China está viciado em cerveja. O animal, que vive em um resort em Weihai, na província chinesa de Shandong, começou a beber quando Zhagn Xiangxi, uma das garçonetes do hotel começou a servir-lhe cerveja. De acordo com o Daily Telegraph, ao limpar o restaurante, Zhang achou uma garrafa cheia de cerveja e a serviu ao bicho, que bebeu tudo. Desde então, ela tem servido a bebida ao animal, que agora se alimenta diariamente com duas garrafas da bebida." CB – Você sabia... 06/09/2010

Severino pensou em Troque Totroque, quando viu as imagens na televisão de um veado tomando uma cerveja, de golada, diretamente do gargalo sem desperdiçar uma gota e que ao final, lambeu os beiços como se fosse um guardanapo.
Troque Trotoque era um pangaré que puxara carroças por toda uma vida. Tudo o que sabia aprendera nas ruas. Agora estava velho. Fora aposentado depois que começou a mancar por ter se cortado ao pisar numa lâmina afiada.
Somente um observador, como Severino, perceberia que o cavalo ora mancava com a pata dianteira esquerda e hora com pata dianteira direita. Apesar da pouca cultura, Severino achava que Troque deve ter pertencido à troupe da companhia do Teatro Brasileiro de Comédia, do Paulo Autran, Adolfo Celi e Tônia Carrero. Era um ator de primeira linha.
Severino se dizia proprietário de um quiosque de alimentos e bebidas para transeuntes. Popularmente o barraco do infeliz era chamado de copo sujo. Vendia pastéis fora do prazo de validade, pães de queijo empedrados, cachaça sem rótulo e cerveja morna. Tudo empoeirado.
Por destino, ambos conviviam no mesmo espaço. Troque, depois que ganhara a liberdade, mastigava o mato seco e o lixo da vizinhança e opinava sinceramente sobre a qualidade do futebol praticado no campinho esburacado estercando sob a trave. O problema é que a qualidade duvidosa das refeições provocava muita sede e a coloração escura da água do córrego não era muito convidativa.
A única forma de beber alguma coisa era se apresentar na parada de ônibus. Fazia embaixadas com uma bola de meia, cuspia fogo ou mostrava a pata ensangüentada para esmolar uns trocados. Trocava tudo por uma cerveja no boteco do Severino.
Quando estava muito cansado de se exibir nas paradas de ônibus reunia-se aos colegas aposentados e jogava damas em uma das mesas metálicas do boteco do Severino. Por ser esperto com as pedras sempre ganhava o suficiente para pagar a própria bebida.
Depois do noticiário, Severino contou ao amigo panga o que tinha visto na tevê. Troque, que já tinha tomado quatro cervejas, irritou-se muito com a comparação. Em tom provocativo, lembrou que jamais bebeu um copo por conta da casa. Nem uma branquinha sequer. Que nunca, mas nunca mesmo, pendurou qualquer conta. Que era freguês que merecia respeito pela assiduidade e comportamento ilibado. Meteu um coice na placa do FIADO SÓ AMANHÃ. Puxando da faca, completou dizendo que poderia ser chamado de fedido, de maltrapilho, de sujo. Até pinguço. Mas veado, jamais.



Texto não publicado no Correio Braziliense. Nem na Folha, no Globo, no Estado ou Zero Hora.

Este é o quinto conto semanal dentro do projeto Minha versão, com tema originado por notícia do Correio Braziliense. Breve enviarei os textos aos editores para avaliar a data do meu ingresso remunerado na redação. O colunista esperto sabe que o diagramador tem ordens de guilhotinar textos maiores que a coluna. O texto, de 2959 caracteres, no mínimo, e 2997, no máximo, sempre estará disponível antes das 18h das quartas-feiras.

03 setembro 2010

Não foi reeleito

Pudera!
O deputado era tão ruim de serviço, mas tão ruim, que cobrava só 5% de comissão.

01 setembro 2010

Endereços que ninguém encontra

“Com poucas placas de sinalização e identificação de lugares, região pertencente a Águas Claras traz dor de cabeça aos moradores, que encontram dificuldade em receber correspondência, contas e até visitas.” CB – Areal 28/08/2010

Três batidas secas com o nó do dedo médio no vidro do carro acordaram Antônio Rezende P. Silveira. O sol começava a se esconder atrás de alguns barracos de madeira. O vento frio uivava no meio da poeira.
O fiscal da receita estadual empurrou um boleto de cobrança de IPTU – Imposto Predial e Territorial Urbano – janela adentro.
Com a cara amassada de um dia mal dormido Antonio reclamou que não entendia aquela cobrança.
– O senhor está morando neste lugar há uma semana, fixou residência, logo deve pagar o IPTU.
– Eu estou perdido.
– Não tem dinheiro para pagar?
– Vim para este maldito lugar e não encontrei o endereço para entregar uma cesta de café da manhã. Procurei, procurei e rodei tudo que é rua. Depois deu o desespero e tentei encontrar a saída. Aí acabou a gasolina. Ninguém sabe que rua é essa! Estou perdido neste fim de mundo.
***
A Companhia de Eletricidade terminou de plantar oito postes de iluminação sob o olhar atento de José de Arimatéia Rodrigues. É a primeira rua do bairro onde as mariposas podem enlouquecer em volta da lâmpada.
– Eu gostaria de agradecer o trabalho de vocês. Ficou brilhante.
– Agradeça ao Deputado Chico Daluz.
– Hoje mesmo falarei com o filho dele que mora naquela casa, na rua vizinha.
– Na outra rua? Não é aqui? Virgem Maria! Erramos a rua!
***
Por causa de histórias como essas a comunidade, liderada pela parteira Mari Help e pelo escriturário Jotabê, convocaram a população para uma reunião e colocaram em discussão os nomes das ruas.
A babilônia das ruas marcou presença na reunião.
– Vamos colocar nomes de países? Noruega, Alemanha, Estados Unidos, Suíça, Inglaterra. Quem sabe essas nações adotam nossas ruas?
– Duque de Caxias, Almirante Tamandaré, General Mascarenhas de Morais, Marechal Deodoro foram as opções do major aposentado.
– Acho que devemos valorizar a nossa terra, nosso povo, nossas origens. Proponho botocudo, tupinambá, nhambiquara, goitacaz, tremembé.
– Você gosta de polissílabos! Prefiro nomes mais curtos!
O contador sugeriu numerar as ruas. A bibliotecária contestou sugerindo uma codificação alfanumérica.
A mocinha apaixonada levantou a mão pedindo a palavra e opinou Avenida do Amor, Alameda da Saudade, Rua do Aconchego, Praça dos Sonhos, Esquina do Flerte, Travessa Abraço Feliz...
– E as minorias? Agora é lei. Temos que reservar espaço para eles. Rua dos Deficientes Auditivos, Quadra da Melhor Idade, Ladeira dos Cadeirantes...
– Proponho o nome do ilustre presidente, do dinâmico governador, dos nobres senadores, de alguns devotados deputados. Do nosso querido prefeito!
– Aí, seu baba-ovo, não se esqueça do nome da avó!
– Acalma! Sossega! Aquieta!
– Isso é nome que se apresente?
– Não são nomes de rua, apenas estou pedindo paz aos exaltados.
A reunião terminou em beco sem saída.


Texto não publicado no Correio Braziliense. Nem na Folha, no Globo, no Estado ou Zero Hora.
Este é o quarto conto semanal com provocação originada por notícia do Correio Braziliense. Vencido o prazo de experiência os redatores do jornal receberão os textos para avaliar a data do meu ingresso remunerado numa redação. O colunista esperto sabe que o diagramador tem ordens de guilhotinar textos maiores que a coluna. O texto, de 2959 caracteres, no mínimo, e 2997, no máximo, sempre estará disponível antes das 18h das quartas-feiras.
 
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