22 junho 2008

Em família


Vovó era doce.


Pai durão.


Mamãe tenra.


Pensava enquanto chupava o fêmur da irmã.

01 junho 2008

Letras brancas



A pichação de muros e paredes é uma agressão.
Quando era moleque, lembro que os tapumes de toda São Paulo traziam uma mensagem estranhíssima: CÃO FILA KM 23. Todos os paulistanos em algum momento leram a frase. O enigma foi notícia de rádio e televisão. Todos palpitavam no significado da charada, a voz corrente dizia que era jogada publicitária de vendedor de cachorros.
Em outra época, não lembro se antes ou depois, as paredes amanheceram cobertas de tinta escorrida com palavras de protesto: ABAIXO A DITADURA, ELEIÇÕES DIRETAS, YANKEES GO HOME. Eram tempos sombrios e os militares de plantão julgaram que CELECANTO PROVOCA TERREMOTO, fosse outra provocação. Houve inquéritos e perseguições, mas jamais soubemos o sentido daquele aviso.
Depois do piche veio a tinta. Hoje em dia, raros são os prédios, que escapam dos sprays. As gangues rabiscam os lugares mais inalcançáveis para marcar força, poder e território.
Recentemente, letras vermelhas marcaram o fundo azul de uma banca de jornais: A LIBERDADE VEM EMBALADA EM PLÁSTICO, É COLORIDA E TEM GOSTO DE ISOPOR. Naquele dia, meus quarenta minutos de caminhada foram de muita curiosidade sem resposta. Pareceu-me vir de alguém questionando a sociedade de consumo.
Algum tempo depois, no Eixão, deparei com enormes letras negras escritas no mármore branco de um viaduto: TAMOS DE OVÁRIO CHEIO DE VIOLÊNCIA. Meus pensamentos caminhantes transformaram-se em reflexão e questionamentos.
Andei ontem meu longo percurso até a rodoviária, onde o Eixão se cruza com o Eixo Monumental. Lá fica o Buraco do Tatu, passagem subterrânea, que liga a Asa Sul à Norte. O túnel destinado apenas aos automóveis tem calçadas muito estreitas sob a poluída parede de cerâmica clara. Apenas nos fins de semana, quando o trânsito é fechado, é possível caminhar por ali. Foi uma surpresa muito agradável, pois alguns artistas em vez de picharem, removeram a fuligem e através de contrastes brancos desenharam animais remotos, guerreiros em caça e armas primitivas ressuscitando a arte dos homens nas cavernas. Mesmo nas trevas ainda temos luzes.
 
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