15 setembro 2015

A reunião


A/C: Dr. von Silva
Prezado Sr.
Assunto: reunião
Pauta:
•  Aprovação das contas do primeiro semestre;
•  Medidas visando melhorar atendimento ao público;
•  Contenção de custos: restrições no uso do telefone;
•  Reforma dos banheiros;
•  Assuntos gerais.
Local e horário:  sala 223, sexta-feira, às 16h
                                                                A Chefia


Sempre era assim. Assim é sempre. Assim sempre será. Diabos! Reunião de manhã. Reunião à tarde. Reunião para discutir a pauta da próxima reunião. Reunião para reunir. Reunião para definir data para outra reunião.
           
Pontualmente, às dezesseis e quarenta, o encontro é iniciado com uma reprimenda a um dos convocados.

— Doutor Nestor, poderia explicar o motivo do atraso?

Eu estava em reunião no quarto andar, tratando dos interesses coletivos.

Que reunião foi essa? Porque não me chamaram? Penso que estão me boicotando!

 
Discutimos as novas cores para os crachás.

— E qual a conclusão?

— Ainda estamos na definição sobre a cor do cordão para prender o crachá.

Claudinha mostrou-se interessada na questão.

— Qual é a cor que está predominando para a escolha dos crachás? Eu prefiro verde, combina com meus olhos...  — suspirou.

O chefe interrompeu a conversa.

Eu penso sinceramente que hoje é sexta-feira e devemos agilizar esta reunião para sairmos daqui antes da meia-noite.  E eu penso em pegar um cineminha...

Qual é o filme que você vai ver?  — perguntou Claudinha.

Com um olhar de desaprovação, começou.

Senhores, o primeiro item é a aprovação das contas da repartição referentes ao primeiro semestre...

— Chefe, temos que adiar este ponto, pois esqueci de pedir que os convocados trouxessem suas calculadoras...

Aliviado, o chefe passou para o segundo item.

Bem, em relação ao atendimento ao público, penso que eles não devem interromper nossas reuniões. Fora isso, penso que são muito bem atendidos. Podemos dar sequência: a contenção no uso dos telefones.

— Chefinho, eu tomei as providências. Inclusive vai atender também à sua vontade de ser menos interrompido nas reuniões, externou Claudinha.

Como assim?

Eu mandei tirar os telefones da portaria. Assim eles não podem perguntar se as pessoas podem subir. E conforme suas ordens, podem subir as pessoas autorizadas.

Muito bem, Claudinha. Aproveitando o próximo assunto, da reforma dos banheiros, penso em fazer uma pausa para visita ao local. Volto .

— O cafezinho ainda não chegou? — perguntou Chico.
           

O chefe retornou com as mãos ainda úmidas, disposto a encerrar a agenda do final de sexta-feira.

Eu penso que faltam vinte minutos para as seis horas. Alguém ainda tem alguma pergunta?

Chefe, o ar-condicionado está mal regulado. Na reunião em que foi definida a temperatura, nem todos os parâmetros foram devidamente analisados.

Como assim, von Silva? Penso que foi você quem mais fortemente argumentou que teríamos que baixar a temperatura por causa do gradiente térmico do sol poente nas janelas. Qual parâmetro não foi analisado?

— Paulinha.

— Continuo sem entender...

— É que ela está se agasalhando demais e escondendo o decote.

Penso que segunda-feira poderemos discutir isso. Vamos descer?

Ainda temos uma rápida reunião com Chico. Bom fim de semana!

Até segunda!

Apenas o chefe saiu.

— E aí, Chico, quem acertou o bolão? — perguntou Nestor.

— Foi o von Silva, ele cravou dezoito vezes! O chefe repetiu ‘penso’ dezoito vezes.



Extraído de Cara de crachá de Roberto Klotz

08 setembro 2015

Quanto mais alto, pior

A editora do jornal não se interessou

“Que continuemos a nos omitir da política é tudo o que os malfeitores da vida pública mais querem.” ― Brecht

Há anos estou incomodado com a existência de uma imobiliária e de uma lanchonete no Eixinho Norte. Estão na EQN 208/209 desde 2001. Aos poucos, discretamente, a imobiliária edifica mais um show room mordendo nacos da área destinada a um clube vizinhança.
Não acredito, ou melhor, duvido que o comércio e os outdoors nas margens dos Eixinhos estivessem nos projetos de Lúcio Costa.
Lenta e silenciosa, mas arrasadora, a sanha das construtoras derruba os padrões estabelecidos originalmente para a cidade.
Exemplificando, na EQS 212/213 foi erguido um gigantesco templo da igreja Universal. Certamente a legislação foi modificada para atender os interesses da igreja. A mesma instituição que driblou a lei para a construção do mega Templo de Salomão em São Paulo.
Outro exemplo é a edificação erguida e alugada para a Secretaria de Comércio Exterior – Secex – pertencente ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Foi instalada no início de 2013 em moderno prédio construído na EQN 102/103. Sem dúvidas a legislação também foi modificada para atender interesses não comunitários.
Não acabou.
Preciso exercer a minha indignação. Sem nenhuma oposição ou constrangimento, constrói-se um prédio de seis andares na EQN 204/205. A edificação que extrapola a altura originalmente permitida para as entrequadras será ocupada por órgão público sem fins comunitários.


Isto é um atentado à cidadania! Está lá nos parâmetros urbanísticos e de preservação: “As Entrequadras são caracterizadas por edificações de baixa altura, dispostas isoladamente no lote.”
Parece que o brasileiro perdeu a sensibilidade para o absurdo.
O que fazer?
Acredito que o jornal tem poder para mobilizar a população. Deve alertar visando modificar e corrigir atitudes de políticos e administradores da cidade, nesta e em outras situações.
Um jornal existe para servir, antes de tudo, ao conjunto de valores mais ou menos consensuais que orientam o aperfeiçoamento da sociedade.
É mais cômodo e barato ficar na redação a procurar a verdade, a ser muito provavelmente perturbado pelos ricos e poderosos. Esta matéria não é como um release que está digitado e pronto para ser diagramado. Os ricos e poderosos não têm interesse na publicação. Mas os que se identificam como cidadãos têm. E o jornal deve se posicionar ao lado dos interesses dos cidadãos, seus leitores.
O brasileiro e o brasiliense, em especial, procura um líder para modificar o status quo. O Correio pode e deve ocupar esse espaço.
Não são apenas puxadinhos, o precedente das edificações ilegais ou “legalizadas” está aberto. O Correio Braziliense não pode rejeitar a investigação e a reportagem. Precisamos reverter a tendência.
Qual é o caminho?
São palavras do Superintendente do IPHAN, Carlos Madson, publicadas no CB de hoje (25/07/15): “Brasília quer ser moderna? Então faça as coisas de forma moderna. Discuta com a sociedade. As cidades que melhor estão resolvendo os problemas urbanos são as mais democráticas.”
Além de levantar a questão e apenas criticar, sugiro que o jornal promova uma mobilização da comunidade candanga para a ocupação saudável da EQN208/209.
Que tal promover a construção de um parque calendário?
Seria plantada uma fileira de árvores da mesma espécie que floresça em janeiro/fevereiro. Na fileira seguinte seria plantada outra espécie que floresça em março/abril. Na sequência outra fileira com espécie diferente que floresça exuberância.
Uma das características de Brasília são árvores floridas proporcionadas por estações do ano bem definidas. Outra característica é o planejamento da cidade. Seria uma ótima oportunidade de unir características e interesses com o incentivo do jornal.
O processo de crescimento da árvore é lento. Imaginem nossos filhos e netos fotografando linhas de flamboyants, ipês, quaresmeiras, sapucaias, sibipirunas, manacás, espatódeas, paineiras, acácias, jacarandás...
Um paisagista desenvolveria o projeto e a comunidade mobilizada arrecadaria as mudas. Seria encantador ver crianças plantando as arvorezinhas.
A proteção da cidade é o respeito da cidadania, é a defesa da qualidade de vida orgulhando-nos de sermos brasilienses.
O brasiliense está cansado de ser atropelado pelo desrespeito.
                A população quer saber qual é o órgão responsável pela mudança do gabarito. Quer saber qual é o órgão fiscalizador. Desejamos opinar sobre a ocupação dos espaços. Não queremos praças de alimentação, shopping centers ou prédios públicos porque interferem no trânsito, produzem barulho e atraem insegurança.
O que a população, numa enquete, desejaria para estas áreas? Quadras poliesportivas? Parque? Clube vizinhança? Escola pública? Gramado?
Por favor, estimulem o brasilense a encontrar uma solução.

Atenciosamente,

Roberto Klotz
 
Search Engine Optimisation
Search Engine Optimisation