28 janeiro 2012

Uma criatura dócil

Uma criatura dócil



F. M. Dostoiévski

Editora Cosac Naify - 2009


104 páginas


Preço: R$ 42,00


2.a Edição – 2009





Na apresentação Augusto Massi faz uma sinopse aguçando desejos de leitura. Antecipa traumas. Compara a penhor da protagonista com um agiota como se fosse um pacto com satanás.

Eis parte da primeira orelha:

“Uma criatura dócil é uma pequena obra-prima. O pêndulo da narrativa opera segundo a lógica das transações de uma caixa de penhores: na primeira parte, a heroína se entrega, penhora sua pureza e um ícone da Virgem Maria. Na segunda, resgata a imagem, mas paga com a própria vida.

Tudo começa com o encontro – Mefístocles recomendando-se a Fausto – de duas criaturas simetricamente desencontradas O pacto é selado por um silêncio pontuado de orgulho e humilhação. O arroubo inicial dela é penhorado contra a severidade dele. O agiota coloca em funcionamento um sistema perfeito e torturante de gradação moral. No vaivém das cobranças, a traição e a covardia abrem lugar para a fidelidade e a coragem.”

Li a novela procurando o tinhoso por todas as páginas. Não encontrei o chifrudo nem tampouco qualquer acordo com o demo.

Foi com se tivesse sido convidado para uma feijoada e no prato servissem um peixe assado em forno de lenha.

Demorou um tempão para esquecer a feijoada e degustar o peixe. Que, diga-se de passagem, estava delicioso. Mas não era feijoada.

O livro é ótimo para quem gosta de conversa com o inconsciente. Há verborragia e monólogos para ninguém botar defeito.

A história principia com um marido, em cuja casa, sobre a mesa, jaz a própria mulher, suicida, que algumas horas antes atirou-se de uma janela. Ele está perturbado e ainda não conseguiu juntar os pensamentos. Anda pelos cômodos da casa e tenta entender o que aconteceu.

Esa sim é uma boa apresentação, que o próprio autor faz daquilo que ele denominou novela.

Foi uma boa leitura. Certamente não foi o melhor trabalho do Dostô.

24 janeiro 2012

O conde Drácula


— Ele entrou por aquela porta — apontou com o nariz — rosto comprido, olhos sangrentos contrastando com a pele branca, cabelos pretos engomados formando um “v” na parte superior da testa. Usava a tradicional capa preta de gola alta e forro vermelho. Assustadoramente elegante. Não precisei do cartão de visitas nem de ver os compridos dentes caninos. Eu sabia, qualquer um identificaria o conde Drácula.

— Mas isso é incrível!

— Observei quando olhou para os dois lados da sala, como se estivesse à procura de alguém. Percebi que deteve o olhar, por uma fração de segundos, na nova estagiária.

— E depois?

— Fico incomodado com a curiosidade de vocês, jornalistas. Jamais estão satisfeitos com respostas simples. Sempre procuram os detalhes dos detalhes. Isto aqui é uma repartição pública como outra qualquer. Nada tenho a esconder, nem eu nem ninguém do nosso departamento. O senhor conde perguntou a coisa mais simples do mundo: onde é o banheiro? Apenas isso.

— Von Silva, o senhor está nos enrolando...

— Eu? Jamais. Sou um humilde servidor, trabalho há 35 anos na casa. Conheço tudo e todos. Jamais faltaria com a verdade.

— Vou repetir a pergunta de forma mais objetiva: o senhor considera que este departamento é um cabide de empregos? Que aqui está cheio de pessoas que nada fazem e se aproveitam do trabalho dos outros?

— Eu insisto na minha resposta. O único sanguessuga que vi na minha vida foi esse. Depois que o chefe mandou pendurar a réstia de alho, nem esse mais retornou.
 
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