08 março 2007

Apaguei ontem após longa, extenuante e celestial seção de amor e sexo sob as luzes do eclipse lunar. Acordei com passarinhos alvorando na minha janela.
Antes mesmo de saber a cor do céu liguei a música do computador e o aleatório escolheu “Arpan” de George Harrison na sua fase Hare Krishna. Fechei os olhos e a minha imaginação sentou-me de cueca branca no frio piso da varanda, cruzou-me as pernas e, ioguísticamente, juntou-me o polegar e o indicador de cada mão. Posição ereta olhos fechadas num looooogo e sonoro OOOOMMMM. O sol bateu-me à testa. Reabri os olhos. É impressionante como existem dias em que nossas antenas captam melhor a energia presente na luz solar. Amén!
Li o jornal enquanto alimentava o corpo com laranja doce. Corrupção, bandalheira, desvio de dinheiros públicos, nepotismo, suborno, impunidade. Nem nos fins de semana os políticos dão folga! Vade retro!
Apliquei um filtro solar na pele e saí pelo eixão domingueiro.
Manhã maravilhosa. A cabeça a mil por hora pensando projetos. Olhos como sempre, à procura de curvas femininas. Braços se exercitando em dessintonia com o caminhar das pernas. Os órgãos do corpo não estavam em harmonia, cada um defendendo seus interesses. Caminhei roboticamente. Até que... sempre há um: até que... Até que, lá de longe, ouvi um barulho grave de tambores. Ritmo espaçado. Cadência forte e marcada. Parei e virei a cabeça para o oeste na direção da praça da Harmonia Universal. Um gramado enorme entre duas superquadras da Asa Norte. Vi um amontoado de pessoas sob um espaçoso toldo multicolorido. Um cartaz anunciava o novo ano chinês. Independentemente de qualquer comando, as pernas começaram a se movimentar naquela direção que os ouvidos perscrutaram e os olhos indicaram. As pernas correram. Pulmões foram oxigenados na corrida. O meu todo queria chegar antes daquela apresentação terminar.
Quarenta jovens, quase todos orientais, numa ginástica marcial batiam tambores e pandeiros em ritmo compassado. Movimentos amplos. Baquetas verdes, coletes vermelhos cardinais e longas meias brancas brilhantes. Tudo protegido por seis guardiões ostentando enormes bandeiras amarelas que balançavam ao vento.
Muitos aplausos e assobios. Gente de toda idade, cor e credo.
Todas as manhãs às seis ou sete e meia, há trinta anos, o mestre Moo Shong Woo promove seções de tai chi chuan. Sob as nuvens, a comunidade chinesa promove gratuitamente a ginástica e prega a paz e a harmonia. Já estiquei meus músculos e alonguei minha coluna algumas vezes em conjunto com eles. Admiro profundamente o trabalho do quase octogenário mestre Woo. Pena que os horários e a distância não sejam muito favoráveis. Gostaria que a montanha fosse a Maomé.
Agora, sob o enorme toldo colorido um grupo de vinte e cinco pessoas uniformizadas formou um retângulo e graciosamente iniciou movimentos de tai chi. A música de Enya bateu fundo. No Natal, Jorge, meu sobrinho, presenteou-me com cedê com trocentas músicas deliciosas. Entre as quais esta, de Enya, e aquela do guru Harrison bebendo das fontes indianas. Eu poderia fazer parte daquele grupo, ao menos a idade era compatível.
Muitas pessoas sob e ao redor do toldo. Um grupo de camisas douradas ensaiando coreografia com espadas. Um senhor com roupa negra de samurai. Outro senhor de vastos bigodes trajando cetim azul celeste. Uma menininha se lambuzando de sorvete de chocolate. Dezenas de fotógrafos amadores. Alguns profissionais. Um sujeito com microfone buscando entrevistas. Um político abraçando quem lhe passasse à frente. Uma grisalha oriental de mãos dadas com o netinho na bicicleta. Os alto falantes anunciando nova apresentação e pedindo que todos jogassem seu lixo nos lugares certos para devolver a praça tão limpa quanto encontrada antes do evento. Todos os tipos de gentes: crianças, gordos, pretos, maiorias e minorias.
Antes de ir embora fui olhar os quiosques. Sabonetes cheirosos. Toalhas pintadas à mão. Sushis de legumes. Budas de cerâmica e dragões de resina. Nossas Senhoras de Aparecidas. Pães de queijo e vatapás. Maravilhas de quiosques ecumênicos.
Levantei os olhos e a cinco metros, bem à minha frente estava um senhor em roupa de cetim creme, calvo, ereto, sessenta anos aparentes, sorridente, olhos puxados. Juntei minhas mãos no peito, fechei os olhos e lentamente abaixei a cabeça em reverência carinhosa. Quando abri meus olhos recebi um acolhedor aperto de mão do mestre Wu.
Já tive a oportunidade de trocar algumas palavras com ele anteriormente. Olá, bom-dia, obrigado, para o senhor também. Desta vez foi diferente. Não falei nem ouvi. Foi apenas um aperto de mão. Não qualquer aperto de mão. Fiquei mais leve. Recebi uma energia indescritível. Meus olhos marejaram. Não sei o que aconteceu. Sei apenas que o corpo estremeceu e rumou para casa.
Jamais segui qualquer tipo de religião. Mesmo respeitosamente, critico sempre o fanatismo cego e a religiosidade interesseira.
Estive na Esplanada dos Ministérios na vinda do papa João Paulo II. Milhões de pessoas reverenciando o carisma de Sua Santidade. O momento foi inesquecível. Mas não captei a mesma energia.
Só captei a mesma energia no começo dos anos oitenta quando estava nos corredores de um órgão público e pouco a minha frente caminhava um senhor de cabelos loiros encimados por solidéu. Eu arrisquei chamar: – Rabino Sobel?
O rabino virou-se, caminhou em minha direção me abraçou forte disse uma palavra carinhosa no meu ouvido e retornou ao seu grupo. Meus joelhos quase dobraram com a energia que recebi daquele homem.
E agora de novo: o mesmo magnetismo.
São dez e quinze. Eu já estou pronto. O mundo já pode acabar.

※ ※ ※ ※ ※
Desenho de Eduardo Bonfim do HQ Os Barbudão

2 comentários:

Anônimo disse...

Hare Krishna!!!

Anônimo disse...

Me permita ...
"Como simplificar a fé ? Como se livrar de confusão? Como descobir a alegria de despertar para vida ? Simples. Liberte-se dos intermediários! Há o guia espiritual que lhe diz o que Deus deseja que vc faça, a solução de Jesus para religião complicada é afastar esses intermediários do caminho. Sem cerimônias complicadas. Sem rituais misteriosos. Sem canais confusos ou canais de acesso. Vc tem uma Bíblia? Pode então estudá-la. Tem um coração? Pode então, orar. Tem uma mente? Pode então raciocinar.
Um só é vosso Mestre, e vós todos sois irmãos. "
Busque a fé descomplicada, concentre-se naquilo que é importante. Anseie por Deus."

Beijo

 
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