09 abril 2009

Jenipapo na cesta do coelho da páscoa

Hoje é Páscoa. Domingo de Páscoa. E domingo é dia de caminhar no Eixão. Espalho protetor solar no rosto e braços, faço alongamentos e disparo para a rua. O sol do outono é abrandado por suaves ventos do nordeste sugerindo chuvas no período da tarde.
Ainda penso na Páscoa e que o pessoal de propaganda do Mago sugere a distribuição de livros em vez de ovos de chocolate. Livros de Paulo Coelho.
Coelhos lembram fertilidade. Fertilidade lembra coelhas e coelhinhas atiçam meu instinto masculino. Presto atenção nos rebolados e decotes caminhantes, femininos, claro. Caminhar é muito bom para a saúde e para a mente. Podemos pensar, refletir e resolver os problemas do mundo. Acho que prefiro observar. Sou voiê. Acompanho tudo o que se passa em volta. Entre outras coisas, presto atenção nos atletas. Percebo o que está na moda e o que não está. Cabelo com rabo-de-cavalo é moda. Tênis colorido continua moda. Aquele senhor barrigudo com a camiseta branca estufada dentro da bermuda jeans com uma pouchete presa no cinto social e meias brancas até o meio das canelas definitivamente está fora de moda. Olho e vejo tudo. Coisa engraçada são os três irmãozinhos apostando corrida de bicicleta e gritando para todos saírem da frente. Coisa animal é o cachorrinho de apartamento sendo levado no colo.
Meu passo apressado pára na altura da 203 Norte. Um casal está jogando um pedaço de pau numa árvore tentando derrubar frutas. Olhei bem para aquela árvore alta, de tronco liso e retilíneo Em resposta à minha pergunta informaram que era jenipapo.
Tomei a liberdade de aproximar do nariz e aspirei um perfume ligeiramente adocicado num fruto marrom do tamanho de uma laranja. Perguntei se fariam licor e disseram que comeriam a polpa com açúcar. Achei constrangedor pedir para abrir a fruta e fiquei sem saber como é.
Voltei para o meu caminho. Já estou longe de casa. Vou andar só mais um pouquinho. Só até aquela placa. Não, até aquela coelhinha passar. Faço a volta e vou ficar olhando a coelhinha seu rabinho a balançar.
Foi o que eu fiz. Segui a coelhinha. Que coelhinha apressada!
Os olhos seguiam a coelhinha e o pensamento fixo no jenipapo. Acho que a primeira vez que ouvi falar em jenipapo foi em meados dos anos 70, quando na novela Bem Amado, o Coronel Odorico Paraguaçu era servido do afrodisíaco licor de jenipapo pelas irmãs Cajazeiras. Primeiro era servido, depois se servia. É muito estranho a gente conhecer alguma coisa e não conhecê-la ao mesmo tempo. Nunca fui apresentado a um jenipapeiro. Fiquei frustrado por não conhecer a fruta por dentro. Será que é preta? Os índios se utilizam do urucum para pintar a pele de vermelho e de jenipapo para o preto. O jenipapo é o corante usado nos cestos e vasos. Quando terei nova oportunidade?
O jenipapo era o assunto da mente. A coelhinha, dos olhos.
Olhei novamente para a coelhinha e, para os meus olhos, carregava saltitante uma cestinha cheia de ovos multicoloridos. Será que o coelho da Páscoa quando pinta os ovos usa corante de jenipapo?

3 comentários:

Anônimo disse...

esta crônica está ótima. Mistura coelhinhas com ovinhos. Tipico da fantasia da páscoa. Mas ovos coloridos nascendo em arvore,com a cor de genipapo, só mesmo na imaginação e na arte do autor.
Adorei..

Olivia Maia disse...

rsrsrs... nem no Acre isso acontece, né companheiro? A crônica está ótima. Não queira provar o tal genipapo é ruím pra caramba fique só com o sabor do chocolate e o olhar nas coelhinhas.

Klotz disse...

Será que posso olhar o chocolate e saborear coelhinhas?

 
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