18 agosto 2007

Recepção ao primeiro-ministro do Reino da Estroína

Minha bela adormecida,

Que alegria receber notícias suas depois de tanto tempo. Estou flutuando nas nuvens por saber que você virá a Brasília para a recepção ao primeiro-ministro do Reino da Estróina, Frederico Gustavo III no Palácio do Itamaraty.
Quantas saudades e recordações guardo da nossa infância quando sua brincadeira predileta era brincar de princesa. Eu tinha que duelar com malfeitores, matar dragões e me ajoelhar aos seus pés para ser consagrado cavalheiro e merecer o prêmio máximo: um beijo na testa. Você estava sempre linda, coroada com uma tiara de lantejoulas brilhantes. Os tempos se passaram, e na última vez em que a vi, antes de mudar para Brasília você estava resplandecente no pôr-do-sol, caminhamos de mãos dadas e trocamos um único e delicioso beijo selando respeito e amizade eternas. Deixei-a na porta do castelo, depois subi no alazão e vim embora.
Passados quase trinta anos, você terá seu sonho realizado: um convite para participar de uma festa na corte.
Até parece que escutei sua voz macia quanto me escreveu:
– “Meu cavalheiro, como será e como devo ir ao baile?”
Minha querida, a recepção não será um baile, não haverá orquestra de violinos e já não se dançam valsas nos salões. A presença do homenageado no salão não será anunciada pelo bater do bastão pelo mestre de cerimônias. Nem a nobreza estará perfilada à entrada para recepcionar os ilustres convidados.
No convite consta traje de gala. O que requer vestidos longos para as damas e fraque para os cavalheiros. Os oficiais das três armas têm trajes próprios para esses eventos. É a oportunidade de ostentar orgulhosamente as insígnias que representam as condecorações e medalhas conquistadas por méritos. É também o momento em que ministros e altas autoridades estufam o peito com as diversas comendas e honrarias. Aqueles que não as têm, penduram medalhas de futebol de salão ou de concursos literários. Ouvi dizer que o presidente usará o colar com a grã-cruz de Estróina.
Não se preocupe em mandar costurar vestido especial, faça como todos fazem: alugue roupa de dourados e pratas. Não se preocupe com jóias, também há imitações perfeitas para alugar. Quem sabe você encontra uma coroa de brilhantes para que eu possa coroá-la rainha? Caso você não queira alugar, sempre há possibilidade de retirar do armário alguma roupa da avó e desfilar na passarela com a essência de milenar naftalina. Ah, antes que eu esqueça, é muito importante que seu vestido seja largo o suficiente para correr. Este é sempre o grande e esperado momento. A corrida ao bifê. Quando um garçom depositar a baixela de prata com a cascata de camarões será dada a largada. Todos sairão correndo para encher pratos, bocas, bolsas e bolsos de camarões. Quem já tinha o bolso cheio de salgadinhos joga tudo no chão para substituir por camarão. Então, previna-se com uma saia folgada e uma bolsa espaçosa.
Os garçons, com imaculadas luvas brancas depositarão mais umas dezenas de travessas com os mais saborosos acepipes. Com a mesma velocidade eles desaparecerão nas bocas dos convidados que, com suas bocas cheias, gritarão aos garçons para trazerem mais taças de vinho.
Ah, minha querida Bela Adormecida, Cinderela ou Rapunzel, esqueça seus sapatinhos de cristal e sua carruagem de cavalos de longas crinas.
Numa reverência, respondo à segunda parte da sua pergunta, minha princesa, como deves ir? Deves ir comigo, para que eu, seu fiel escudeiro, a proteja da dura realidade.
Beijo,
Despertador

2 comentários:

Suzi disse...

Roberto, meu caro, quilometragem nao depoe contra. Só acrescenta.
beijos

Anônimo disse...

Quero ir a esse baile...

 
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