19 julho 2009

Achttausendachthundertachtundachtzig

Você gosta de congestionamento? Alguém gosta? No pára e anda do trânsito, é difícil de fazer qualquer outra atividade além de falar escondido no celular. A minha preferência, numa sala de espera, é um livro. Não estava numa sala de espera. Estava dentro de um carro e dirigindo. Sem a menor chance de ler um livro. Só me restava ligar o meu Blaupunkt. Isso parece palavrão, mas é apenas a marca do rádio do meu Volkswagen.
Para meu alívio a música é brasileira. Caetano Veloso é brasileiro, mesmo quando faz rock, rumba ou foxtrot. Com seu jeito moleque também faz rap. Só mesmo Caetano para gostar de roçar a língua na de Luís de Camões e depois afirmar que está provado que só é possível filosofar em alemão. Será que eu ouvi direito?
Está provado que só é possível filosofar em alemão?
Ah, meu amigo, você é um pensador polêmico por natureza. E, por isso mesmo, sou obrigado a discordar de você. Filosofar não está entre as minhas 50 preferências. Confesso que preferiria andar de bicicleta ou chupar uma laranja. Mesmo que uma coisa nada tenha a ver com outra.
Dizem que filosofar é questionar. No momento, a dúvida mais importante que me abala é saber se posso devorar a bomba de chocolate da geladeira daqui a 15 minutos ou se devo comê-la agora mesmo.
Observe que todos os meus pensamentos, por mais desconexos, foram elaborados em português. O mesmo idioma de Camões, Pessoa, Bilac e Machado. Considero relativamente fácil encadear idéias e pensamentos em português. Impossível, da minha parte, raciocinar em alemão. No máximo, lembro e associo algumas poucas palavras.
Siemens, Lufthansa, Hamster, Malzbier. Servem para telefonar do avião informando que vi um camundongo tomando todas.
Kombi, Johann Faber, Odebrecht, Blitz, Führer. Têm utilidade quando dizemos que o transporte do apontador da obra foi surpreendido numa barreira policial e será punido pelo chefe ditador.
Friedrich Nietszsche, Bunker, Ludwig van Beethoven, Apfelstrudel, Liebfraumilch, Eisbein. Além de enrolarem a língua, servem para informar que Nietszsche filosofava em alemão porque estava bem protegido e se inspirava ouvindo música erudita comendo do bom e do melhor.
É sensato pensar que tudo seria diferente se Nietzsche tomasse água de coco, na lagoa de Abaeté, ouvisse Ivete, Claudia Leite e axé, comesse vatapá, cururu e acarajé. Então faria letras e músicas sensuais para mulatas como a Juliana Paes e outros simples mortais.
O germânico gosta de grudar palavras, umas nas outras para escrever palavrão. Nos números são mestres. Tente dizer 8888, achttausendachthundertachtundachtzig.
Remexendo um bocadinho e percebendo nas palavras todo o jeitinho, Caetano não queria que eu filosofasse em alemão. Isso é para Kant, Schoppenhauer, Marx e outros de plantão. Nossa língua não se presta para essas artes, serve para gingar capoeiras e rebolar malandragens. Ela tem a pimenta da gafieira, o drible tropical e o chamego brasileiro.
Caetano está com a razão, filosofar, jamais em português, só em alemão.

4 comentários:

Amarilis disse...

Deixe Caetano filosofar, nem que seja em inglês britânico. Rss. E vc, tomara que não tenha morrido e nem o tenha o HD, nesse dia de hoje. E pra colocar mais uma lingua no meio dessa conversa, mando um Neruda: "Me gusta cuando callas porque estás como ausente.Distante y doloroso como se hubieras muerto.Una palabra entonces, una sonrisa bastan.Y estoy alegre, alegre de que no sea cierto".

Em tempo (ou não), São Paulo tá uma friage médônha!

pedro mendonça disse...

asaftasardemeashemorroidasidem

Klotz disse...

Esta é a prova contundente, Pedro.
O germânico gosta de grudar palavras, umas nas outras para escrever palavrão.

pedro mendonça disse...

Oi klotz, faz algum tempo que não escrevo em meu blog ou leio os alheios. Vou ler seus escritos. Notei que vc fala de símbolos para se refeir a ti mesmo. Hum, vamos ver se a sua verve é mesmo de homem de letras ou se, como eu, tens uma auto-imagem megalomaníaca, tomara que sim para as duas opções.

 
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