25 julho 2009

Casal contrata vizinho para gerar filho



Você conhece aquela do casal alemão que queria por que queria, ter filhos apesar do marido ser estéril? É muito engraçada.
O marido era improdutivo. E por isso resolveram contratar um vizinho, pai de dois moleques, para gerar a tão desejada criança. O vizinho se esforçava, comparecia três vezes por semana e a contratante nada de engravidar. Tantas fizeram e tantas vezes tentaram, por seis meses, e nada da mulher botar barriga. Até que o marido insistiu para que o contratado passasse por exames médicos. Os testes mostraram que o infeliz também era estéril. Os olhos acusativos concentraram-se numa pessoa. Por causa disso a esposa do vizinho confessou que as duas crianças não eram dele.
Não é piada. Foi manchete, com nome e sobrenome dos envolvidos, na revista Bild.
Eu me pergunto: o que leva um casal a essa loucura? Porque um estranho aceitaria a incumbência? Como seria o contrato entre gerador e geratriz? Será que a moça em questão era um sonho ou um pesadelo? Como seria a escolha do vizinho adequado? Quais as qualidades procuradas no gerador? Como seria a execução contratual?
Com tantas perguntas, para um caso tão bizarro, resolvi, eu mesmo, criar personagens e bastidores do fato. Vício de escritor.
Na minha opinião, a mulher em questão só pode ser uma balzaquiana fogosa, de personalidade forte e preocupada em atingir a idade em que a gravidez começa a representar risco. O homem realiza todos os desejos da amada, foi bonito e forte, agora já está passadito e cada vez mais mesquinho. Após 15 anos de casamento, ela só fala em crianças enquanto ele vê futebol na tevê. Só larga a cerveja para mudar de canal.
Eu, com certa experiência de vida, tenho cá os meus palpites.
Após 10 anos de insistência o marido fez os exames de fertilidade e comprovou-se porra nenhuma. A esposa desespera-se e propõe a fertilização in vitro. O muquirana do esposo sugere a adoção imediato, sensato e barato. Ela, por sua vez, levanta a blusa e diz que mãe, só de barriga. Nem adoção, nem inseminação. Quer tradição. Só para ficar na rima.
O marido faz cara de interrogação.
— E existe alguma outra forma?
— Para engravidar sem gastar, melhor um amigo fértil, chamar.
O marido se incomoda com outra rima pobre e coça uma pequena protuberância na testa.
— Como assim?
A gente podia chamar o Dieter que tem três filhos. Ou o Hans pai de duas filhas ou ainda o Fritz que tem seis herdeiros, todos loirinhos e de olhos claros.
— Você está absolutamente maluca! Essa idéia é ridícula, absurda, ofensiva e paranóica. Esses três bastardos moram muito longe. Recuso-me a pagar vale-transporte para neguinho vir, até a minha casa, trepar com a minha esposa.
— Se o problema for esse, podemos pedir a algum vizinho.
— Não gosto de pedir nada a vizinhos. Hoje a gente pede um favorzinho e amanhã o sujeito fica à vontade e se sente no direito de pedir emprestado sal, açúcar ou farinha. Onde já se viu?
Ela joga os cabelos por cima dos ombros, morde o lábio, provocativa.
— Amorzinho, eu te amo tanto. Em vez de pedirmos um favor, simplesmente, a gente poderia propor um trabalho profissional.
— Isso faz sentido. Mas você sabe muito bem que odeio a idéia de gastar dinheiro.
— Não se preocupe, olhe estas minhas coxas – levantou a saia . — Acho que o futuro pai das minhas crianças pode dar um bom desconto por causa delas.
— Ainda acho lunática a idéia de chamar alguém para fazer os nossos filhos.
— Que bonitinho. Você está com ciúmes. Isso é bobagem. Um contrato é o melhor caminho para transformar pudores em ofício. Tudo será profissional, sem nenhum tipo de envolvimento pessoal.
Nestas alturas, concluo que a discussão entre o casal se transformou em uma reunião de negócios entre dois sócios que procuram viabilizar, objetivamente, assunto de alto interesse para o sucesso da empresa.
— O vizinho da casa 38 — propõe ela — é jovem e já tem dois rapazes e duas moças.
— Ele bebe muito, chega tarde e torce para o Bayern de Munique, nosso arquirival.
— O da 75 — não bebe, e é pai de sete filhos.
— Impossível. Esse desgraçado sempre estaciona o carro na frente do portão da nossa garagem. Toda vez que chego em casa tenho que ligar para ele e pedir que tire o carro.
— Parece que você tem birra dos seus chegados. Coisa feia. Que tal o da casa 69?
Ele olha torto e pensa exatamente o que você, leitor, está pensando.
— Tem certeza que quer fazer filhos?
— Também tem o da 112. Ele é forte, jovem, bonito, fala três línguas, tórax desenvolvido, pernas grossas...
O marido interrompeu.
— Você quer prazer ou filhos? Quem sabe o vizinho da casa 52? Ele está na faixa de 35 anos, tem dois filhos e uma esposa compreensível. É alto, de boa aparência e precisa de dinheiro.
Chegaram ao consenso.
Não deve ter sido difícil convencer o morador da 52. A esposa do 52 discutiu, esperneou, relutou, sugeriu e quase convenceu o casal que o morador da 112 deveria ser reconsiderado. Na argumentação dela, o Peter, vizinho da 112, tinha todos os quesitos e atributos para ser um bom reprodutor, só não tinha filhos porque era solteiro.
Uma vez resolvida a questão do quem, meu caro leitor, consigo perceber a preocupação do marido em incluir cláusulas contratuais como prazo, local de trabalho, fiscalização e compartilhamento. É lógico que o compartilhamento está incluído. Ou você acha que ele não faria as preliminares, cabendo ao vizinho apenas a finalização?
O item final do contrato seria o sigilo absoluto. Ninguém pode saber de nada. Muito menos algum cronista fofoqueiro.

2 comentários:

Klaison Simeoni disse...

Olá Roberto.

Meu nome é Klaison Simeoni e deixo esse comentário porque gostei do seu estilo de escrever.
No final do mês que vem, estarei lançando meu livro de crônicas "Rindo da Estupidez Humana" e gostaria muito se postasse uma crítica numa amostra que acabei de postar no meu blog http://padaquipadai.blogspot.com/
Leia também alguns de meus textos. Espero que goste. Como veterano, sua opinião é muito importante para um novato.

Abraços

Iriene Borges disse...

Ah, que coisa boa de ler!

 
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