11 março 2010

Crônica - um pouco de teoria

Foi dito por aí:

Crônica é tudo o que o autor chamar de crônica. – Fernando Sabino

A crônica é o relato de um flash.

Ser cronista é viver em voz alta. – Manuel Bandeira

Crônica é a literatura de bermuda. – Joaquim Ferreira dos Santos

A crônica é um vício. Quando gostamos do modo de escrever de algum cronista, assumimos uma parceria com ele. – José Maria

Quando não é aguda, é crônica. – Rubem Braga.


A crônica é uma narração do tempo, do cotidiano versando sobre acontecimentos reais, fatos ou idéias de teor artístico, político, esportivo etc ou relativos à vida quotidiana. Apesar de ser divulgado em jornal costuma ter valor literário. Enquanto o jornalismo tem no fato seu objetivo, seu fim, para a crônica o fato só vale, nas vezes em que ela o utiliza, como meio ou pretexto, de que o artista retira o máximo partido, com as virtuosidades de seu estilo, de seu espírito, de sua graça, de suas faculdades inventivas. A crônica é na essência uma forma de arte, arte da palavra, a que se liga forte dose de lirismo. É um gênero altamente pessoal, uma reação individual, íntima, ante ao espetáculo da vida, as coisas, os seres. O cronista é solitário com ânsia de comunicar-se.
Nada mais literário do que a crônica, que não pretende informar, ensinar, orientar. Apesar da publicação nos periódicos, não é indissoluvelmente ligada ao jornal, e o prazer da sua leitura decorre mesmo em livro, construindo ‘uma vida além notícia’.


O conto é breve narrativa, devendo contar unidade dramática, concentrando-se a ação num único ponto de interesse. O conto deve ter um só conflito, uma só ação. Deve ser narrado em terceira pessoa e ter epílogo surpreendente, boa trama linear. O diálogo é imprescindível no conto. E deve ter objetividade de ação, de lugar e de tempo.


Crônica – características
• Narrativa curta – os cronistas normalmente têm um espaço fixo numa coluna de jornal. Nem mais, nem menos.
• É um relato do cotidiano.
• Narrado em primeira pessoa.
• Opinião e interferência do autor sobre a observação. (o jornalista não deve opinar)
• Não contém diálogos (LFVerissimo adora cronicar usando diálogos)
• Normalmente com bom humor – o autor procura cativar o leitor para outras leituras.
• É a narrativa a partir de um flash. Um artigo no jornal, uma conversa, um fato, uma particularidade.
• Identificação com o leitor. O cronista, no fundo, deseja que seu leitor seja um co-autor.
• Dizem que a grande inspiração do cronista é o prazo do editor.
• A crônica abre uma discussão, uma polêmica, um questionamento.
• Normalmente o suporte é o jornal.
• Finais surpreendentes.

Conto – características
• Narrativa curta. Menor que a novela e muito menor que o romance.
• Narrada em terceira pessoa.
• Um só conflito.
• Contém diálogos
• Tem final surpreendente ou moral. Diferentemente de um artigo jornalístico, por exemplo.
• O conto fecha uma questão, uma história, uma polêmica, um questionamento.
• Quase sempre nos livros.


Não há regras fixas – estas são apenas diretrizes para ajudar a diferenciar os tipos de prosa.


Primeira crônica brasileira – A carta de Pero Vaz de Caminha.
Opinou: em se plantando tudo dá. (ele não plantou para saber), As índias expunham suas vergonhas (isso é opinião), ainda pediu emprego para o sobrinho.
Rubem Braga. entra para a história literária exclusivamente como cronista.
A coluna do jornal é um complemento salarial cobiçado. Livros não rendem dinheiro aos autores. Por isso quase todos os grandes escritores foram ou são também cronistas.

Cronistas: Nelson Rodrigues, Carlos Drummond de Andrade, Otto Lara Rezende, Machado de Assis, Clarice Lispector, João do Rio, Paulo Mendes Campos, Fernando Sabino, Manuel Bandeira, Danuza Leão, Caio Fernando de Abreu, Conceição Freitas, Rubem Braga, Carlos Eduardo Novaes, Artur da Távola, entre outros.

17 comentários:

Klotz disse...

Postei o texto também na comunidade orkutiana Bar dos escritores onde comentaram e eu respondi:

Wilson R.
Bom aprender com quem sabe.
Bela exposição, mano Klotz.
Abraços.

Wilson Roberto – é bom ouvir um elogio de quem escreveu SOS – Redação e Expressão

Klotz disse...

Lanoia
cronica eh o acontecimento transcrito, requer verve e perspicacia para q possa ser bem feito, eh dificil cronicar =)

..soh fera no rol d klotz =)

Lanoia – relacionei um monte de feras, mas poderia ter relacionado outra lista com o com a mesma qualidade.

Klotz disse...

Cesar
Uma aula!
Tinha dúvidas a respeito...


Cesar Veneziani – a dúvida entre conto e crõnica não é exclusividade sua. Só após escrever o meu segundo livro de contos aprendi que na verdade havia escritodois livros de crônicas.

Klotz disse...

liz
pois é.... sempre há uma questão sobre isso.
Nos concursos literários, frequentemente juntam numa só categoria Conto e Crônica.
Mas como? São coisas tão diferentes.
Naqueles 2 "desafios", Klotz, um de cada um dos gêneros, ficou bem caracterizado o q é cada um. Aliás, o coordenador foi implacável: nada de jurado dar 10 pra texto ótimo q é conto e não crônica! Pelo contrário, vai automaticamente um 6! (coisa q dói no coração de qq jurado...)
sendo q 6 era a nota mínima, né?
------------------------
----------------------------
mas sempre fico na dúvida: e LFV??? o q ele escreve é quase sempre ficção (qdo não é proselitismo político, aí ele até consegue ficar um pouco chato...). Mas a gente chama de crônica. A gente compra até livro de crônicas dele. E nenhuma é crônica, todas são estorinhas ótimas.

liz vidigal – Aquele desafio de crônicas foi ótimo para sedimentar as diferenças. De fato LFV ao ficcionar e acrescentar diálogos ampliou os limites da crônica.

Klotz disse...

Claire
Oi Klotz,
isso que você escreveu sobre crônicas e contos eu posso copiar ou não. Eu ainda não conheço bem as regras do BDE. E também não sei se isso seria anti ético ou não. Diz
para mim, por favor: sim ou não? Obrigada.

Claire Feliz – Fique à vontade para copiar. Coloquei à disposição para dividir com todo mundo. Falta de ética é copiar e mudar a autoria.

Klotz disse...

Zulmar
Belo tópico.
eu, particularmente, sempre vi o Nelson Rodrigues como contista em sua série "A Vida como ela é" embora a maioria afirme serem crônicas. Acho que, com o tempo, os dois gêneros estão se aglutinando.
Fico com a definição do Sabino.

Zulmar Lopes – NR é genial. É um mestre entre os cronistas.

Klotz disse...

liz
Z., as crônicas do NR (pelo menos as publicadas no Estadão), eram bem crônicas, mesmo.
metendo o pau em todo o mundo -- na política, no futebol... --- e sempre um espetáculo de bom estilo.

Eram curtinhas, uma coluna só, e ele se repetia bastante naquelas expressões-bordão q ele criou: "louco de babar na gravata", "toda unanimidade é burra", etc.....

acho q "a vida como ela é" é vista como uma série de contos.... será q não?

liz – o NR escrevia nos jornais para ganhar dimdim. No teatro ele se consagrou. Raros escritores faturam o suficiente com os livros. Por isso escrevem para jornais e revistas para melhorar a renda. E aparecer namídia naturalmente.

Klotz disse...

Rodrigo Domit
a melhor definição é mesmo a do Sabino
os conceitos pré-definidos existem para delimitar limites imaginários que o autor pode e deve transpor

Rodrigo Domit – A definição de Sabino “Crônica é tudo o que o autor chamar de crônica” é uma paródia de outra definição de Mário de Andrade: “Conto é tudo o que o autor chamar de conto.”

Klotz disse...

Rodrigo Domit
a melhor definição é mesmo a do Sabino
os conceitos pré-definidos existem para delimitar limites imaginários que o autor pode e deve transpor

Rodrigo Domit – A definição de Sabino “Crônica é tudo o que o autor chamar de crônica” é uma paródia de outra definição de Mário de Andrade: “Conto é tudo o que o autor chamar de conto.”

Klotz disse...

Zulmar
Ah...
..e crônica é Klotz!

Zulmar Lopes – Obrigado, Zulmar. Breve explodirei de vaidade.

Klotz disse...

liz
pra concordar com uma, prefiro a do Bandeira.
pra admirar, prefiro a do Rubem Braga. *r.. pura verdade!

liz - você prefere as definições de Bandeira e Braga. “Ser cronista é viver em voz alta” “Quando não é aguda, é crônica” eu gosto da informalidade e bom humor do Joaquim Ferreira dos Santos em Crônica é a literatura de bermuda.

Klotz disse...

liz
por falar nisso.... aprendi HJ:
Agamenon Mendes Pedreira, colunista do Globo... sabem quem é???
(vai ver todo o mundo e só eu q não sabia!!!)
são o Hubert e o Marcelo Madureira, juntos!!! Do Casseta.
criaram aquele personagem, aquele cronista bronco, ranzina, velhusco, conservador, machista, anacrônico.....
tinha gente q achava q era o Roberto Marinho!
frases do personagem: "vc, sendo uma mulher do sexo feminino, naturalmente só pode ser burra" (para uma repórter q o entrevistava)

"Então eu sugeri para o Getúlio, entre duas baforadas dos nossos charutos: 'Getúlio, porque tu não te mata?' "

liz – maravilha a revelação da identidade secreta de Agamenon Mendes Pedreira hahahaha

Klotz disse...

liz
a do Sabino:
ah... se for assim.... poema é qq coisa q o autor chamar de poema; romance é qq coisa q o autor chamar de romance; ensaio é qq coisa q o autor chamar de ensaio...
ah, tá, então pra q dar nomes e dividir em gêneros, se tudo pode ser tudo e qq coisa pode ser qq coisa??
querer q um rock seja rock e não pareça sambinha é delimitar a criatividade?
"ô, cara, linda a sua música, mas é samba, meu, não é rock, não...!" "é rock, sim, eu q decido!"
hm... acho até legal, viva a liberdade e talz, mas será q funciona?

liz – essa coisa do sabino definir que uma coisa é a coisa é ótima.
Vou aproveitar a deixa e postar uma crônica do livro Pepino e farofa: Arroz carreteiro

Klotz disse...

Allan
rsrsrs... sabia não, liz.
Se bem que isso aqui:
"vc, sendo uma mulher do sexo feminino," é hubert puro, né?
E o cri-crítico, alguém sabe quem é? Sempre quis saber.

Allan Vidigal – Como você não sabe quem é o cri-crítico?
(se alguém souber por favor, esclareça rapidamente o Allan. E a mim também.)

Klotz disse...

Cristiano
A definição do Rubem Braga foi de rachar o bico também, rs... Cara, muito bom o Klotz trazer essas paradas para cá; é uma aula interativa e também uma bom assunto para se debater, sem se estapear, hehehehe...
Liz, tava contigo nessa: não sabia que eram os dois "Cassetas" que estavam por trás das teclas.... A frase pro Getúlio foi duca, rs.
Pessoalmente, nunca me importei muito com a diferenciação entre conto e crônica: saboreio os dois estilos da mesma maneira.
ficanapaz

Cristiano Deveras – eu trouxe o assunto para polemizar. Quem sabe desta vez teremos puxões de cabelo, facadas e quem sabe até uns tirinhos à queima roupa?

Klotz disse...

Livia
Não se pode falar em Crônicas sem citar Stanislaw Ponte Preta

Livia Abrunhosa – você tem toda razão. Stanislaw Ponte Preta, aliás , Sérgio Porto além de ótimo cronista era um frasista genial como em: “No Brasil as coisas acontecem, mas depois, com um simples desmentido, deixaram de acontecer.”

Klotz disse...

Véio China Ψ
Lerei, mestre!
Lerei.

Véio China Ψ – Amigo Véio, já se passaram mais de 15 minutos e ainda não encontrei seu cometário. COMO?

 
Search Engine Optimisation
Search Engine Optimisation