08 junho 2010

Em frente ao Teatro Municipal


Eu estava lá, Praça Ramos de Azevedo, uma terça-feira, perto do final da tarde. Vi quando Maca chegou. Sentou-se tranquila e despreocupada na murada do chafariz. Mergulhou a mão esquerda na água dando as costas para um garoto que se aproximava empunhando um estilete. Vi tudo, mas estava longe. Ela virou-se lentamente enquanto o moleque gesticulava agitado. Maca acalmou o menino que se acomodou ao lado dela. Ela afagou a cabeça do pivete e, fazendo pente da mão, ajeitou-lhe os cabelos depois dividiu um pedaço de pão.
Não fui para encontrar Macabéa, ela simplesmente chamou a minha atenção pela postura ereta. Parecia que a moça do casaquinho preto aconchegava Deus.
Enquanto isso, um cantor famoso e lindo, desconhecido para ela. Dedilhava um violão. Quando terminou a exibição ofereceu cem reais a quem acertasse a música até a sétima nota tocada. Uma jovem sem dentes, uma barriguda de nove meses, um pretinho chapado, um office boy de gravata. Muitas tentativas frustradas.
Quando o cantor desistiu Macabéa começou a cantar. A multidão parou. Os ônibus silenciaram. Até a fumaça se abriu para as notas da moça.
Com o dinheiro na mão, procurou o garoto. O menino sumiu. Maca chorou. Eu também.

Nenhum comentário:

 
Search Engine Optimisation
Search Engine Optimisation