11 agosto 2010

Recenseador perde boné e a coragem

“Grupo de 360 pesquisadores faz censo da vida marinha em todo o planeta e revela parte da riqueza de um mundo ainda misterioso.” CB – Ciência 03/08/2010


José Osmar Clarindo foi o quinto colocado no concurso nacional para agente censitário do IMGE, o Instituto Marinho de Geografia e Estatística. Finalmente chegou o seu primeiro dia como recenseador das águas ensolaradas do Atlântico brasileiro.
Recebe um colete com o logotipo do IMGE estampado no peito, crachá, um computador portátil além, naturalmente, de todo o equipamento para mergulho.
O dia de Jotaô não é um mar de rosas. Começa com problemas de locomoção sem vale-transporte e a descoberta que não há linhas regulares de ônibus para a região para onde foi escalado. Teve que pedir carona a um barco pesqueiro.
Conferiu e confirmou a exata localização com um pequeno GPS. Apertou a campainha da primeira porta que encontrou pela frente. Foi atendido por uma estrela marinha com um monte de bobis no cabelo oxigenado. Esta informou que naquele domicílio morava com o maquiador e seis filhos. Tres dela, um dele e outros dois, menorzinhos, em conjunto com o namorado. Informou que era atriz desde pequena e que fez a primeira ponta num comercial para pasta de dentes. Seu nome era Marynalva Souza Ferreira, mas que no formulário preferia Marylin di Mônaco.
Em seguida entrevistou a quelônia Affonsina Austragésila Clementina Teóphila Junqueira conhecida por Tatá. Negou que o apelido era uma forma carinhosa por ser uma tartaruga. O tataraneto a chamava assim. Na hora de preencher o quadradinho com a idade, duvidou quando ela disse ter 278 anos. Mulheres costumam mentir, reduzindo a idade.
– E a casa?
– Olhe para mim – mostrou um anel de diamantes – e diga se tenho cara de quem tem imóvel cedido ou alugado? É apertado, mas é meu.
– Quantos quartos? Quantos banheiros? A senhora tem televisão, geladeira e aspirador de pó?
Dona Tatá achou tudo muito indiscreto. Quando perguntada se morava sozinha, fingiu atender uma chamada ao telefone, pediu licença e terminou a conversa.
A manhã avançava rápida e ainda precisava preencher seis formulários para atender a meta diária imposta pelo IMGE.
Já começava a decorar as perguntas. Nome, idade, quantos moravam naquele domicílio? A casa tem energia elétrica? O lixo é recolhido, queimado ou jogado no mar? Tem rede de abastecimento de água ou a água vem do poço ou de algum do rio?
O próximo endereço era soturno. Ouviu latidos antes de ler a placa que avisava peixe bravo. Consultava o relógio, 12h25, quando a porta se abriu e um enorme tubarão branco abriu a porta. A fera estava com um garfo na nadadeira direita, uma faca na esquerda e um guardanapo amarrado no pescoço.
Com voz de trovão cumprimentou amistosamente:
– Veio em boa hora, amigo. Vamos entrar! Vou começar meu almoço agora.
Na fuga rápida largou o laptop e o boné caiu da cabeça.
Estas águas ainda guardarão muitos mistérios. Precisou voltar para a superfície, faltou-lhe oxigênio para terminar a pesquisa.


Projeto colunista. Correio Braziliense? Folha? Globo? Estadão? Zero Hora?A partir de hoje escreverei um conto semanal com tema originado em notícia do Correio Braziliense. Quando tiver material suficiente para avaliação os editores de diversos jornais receberão os textos para avaliar a data do meu ingresso remunerado na redação. Com 2959 caracteres, no mínimo, e 2997 no máximo, o texto sempre estará disponível antes das 18h das quartas-feiras.

3 comentários:

Zulmar Lopes disse...

Parabens, Klotz e sucesso na empreitada.

his disse...

Estou na torcida, sempre...

Klotz disse...

Obrigado. Sinto-me estimulado com o incentivo e leitura dos amigos.

 
Search Engine Optimisation
Search Engine Optimisation