13 outubro 2010

Greve do cão


“Lambidas de cachorro podem parecer carinho, mas na verdade são apenas uma forma que os animais têm de identificar por onde o dono andou, diz a pesquisa norte-americaana. Como são animais com muita sensibilidade a cheiros e sabores, os cães fazem a festa, experimentando novas sensações quando seus donos voltam da rua.” CB – Ciência 09/10/2010.

Todos estavam tensos. Nervosos. Temiam a presença de espiões entre eles. Ao entrarem no austero prédio foram vasculhados minunciosamente e sequer uma pulga foi encontrada.
Civilizadamente caminharam sobre o piso de granito de Assuã – o mesmo das pirâmidas egípcias – admirando as pinturas dos mestres Boticelli e Donatello do renascimento florentino, para se acomodarem na mesa de jacarandá doada por Rui Barbosa. Estava reunida em Haia, na Holanda, a cúpula dos cães farejadores do planeta. Era uma quarta-feira.
O artigo publicado nos jornais mundo afora encimava a pauta da reunião extraordinária.
A mesa redonda distribui o poder de forma equilibrada entre os presentes. O pastor alemão Lutero representa os farejadores de palavrões nos livros escolares. O labrador golden retriver Strongnose é o diretor de operaçãoe especias nos aeroportos da costa oeste dos Estados Unidos. É capaz de identificar a cidade de origem de qualquer americano pelo cheiro do chiclete. Batalão, é um premiado vira-latas da Rocinha: localizou um torcedor do América em dia de Maracanã lotado. Talmud é policial reformado do exército. Se aposentou antes de encontrar a paz no terrítório israelense. O mastiff Eticus nascido em Roma, é especialista em fungar políticos. Em doze anos de serviço foi capaz de localizar dois honestos.
Com o austrero cenário descrito, alguns personagens apresentados e o microfone do tradutor simultâneo desligado para evitar gravações, deu-se início à reunião.
Todos rosnaram simultaneamente.
– É um absurdo o que fazem conosco. Temos que dar um basta nesta situação abusiva.
– Exigimos o máximo de oito horas de trabalhos diárias.
– Precisamos de descanso semanal.
– Chega de ração. Exigimos comida decente.
– Também temos direito à sobremesa.
– Chega de banhos em quartos de empregada. Precisamos de banheiras com hidromassagem.
Apenas o sindicalista Arnoldo estava quieto no seu lugar. No momento certo latiu mais alto, silenciou todos. O pitbull conhecido por seu temperamento agressivo e apelido de Exterminador afirmou que precisavam de uma proposta única. Consequentemente todas as reinvindicações foram anotadas e por unanimidade foi votada e aprovada que iriam exigir o direito de lamber e cheirar bifes de filé minhão.
E agora sim, Arnoldo, com sua larga experiência apresentou a grande arma secreta, o único meio de persuadir os homens a terem boa vontade. Uma greve.
- Todos, até o cachorro do cafezinho, latiram em coro: Unidos unidos jamais seremos vencidos; unidos unidos jamais seremos vencidos.
Foi deflagrada a greve por tempo indeterminado. A partir do dia seguinte todos os cães da face da terra deixariam de abanar o rabo.



Conto não publicado em jornal. Nem Folha de São Paulo, nem Globo. Tampouco Zero Hora, Correio Braziliense ou Estado de Minas.
Décimo texto semanal consecutivo baseado em notícia publicada no Correio Braziliense. Aguardo convite para assinar contrato oficial de colunista.
Todos os textos tem tamanho pré definido (entre 2.959 e 2997 caracteres) , data (sempre às quartas-feiras) e hora (até 18h) para publicação no blog.

2 comentários:

Glauber Vieira disse...

Divertido texto, Klotz, mas dê uma última revisada, tem algumas palavras escritas erroneamente.

Klotz disse...

Obrigado.
Preciso fazer um curso de digitação...

 
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