04 maio 2011

Falta gente e sobra humor em Borá

Borá, no interior de São Paulo, mantém o título de menor município do país em população. Na última década, a cidade recebeu 10 pessoas a mais na lista de habitantes, totalizando os atuais 805. – CB, Censo 2010, 30/04/2011.


 
Hoje é quarta-feira, dia de publicar minha coluna semanal com base em notícia publicada na semana. Eu já havia separado algumas matérias sobre o casamento real britânico e sobre o fim de Osama Bin Laden. Mas o editor entrou na minha sala, com desprezo e cenho fechado, disse que isso era para os jornalistas graúdos. Que eu deveria escrever sobre o Censo 2010. Fiquei felicíssimo. Assunto brasileiro da maior importância.

– Você fará a matéria sobre Borá.

– O Censo descobriu alguma nova tribo indígena?

– Não. É o menos populoso município brasileiro.

– Maravilha. Onde estão as passagens? Viajo quando?

– Deixe de viajar! Você tem duas horas para colocar o texto sobre a minha mesa. – E bateu a porta atrás de mim.

No mesmo instante me conectei na Internet para pesquisar. Descobri que há pelo menos um cidadão bem-humorado na cidade. “Borá é uma cidade localizada a três passos de onde Judas perdeu as botas, o All Star e a virgindade.”

Descobri também que é uma cidade pacífica. Quando os dois times de futebol, o Borá FC e o Borá EC se defrontam, os torcedores gritam o mesmo nome.

O grande evento anual é a escolha da miss e do mister Borá com direito a entrevistas e transmissão ao vivo pela rádio da cidade.

As imagens mostram todas as ruas asfaltadas e uma praça repleta de bancos de concreto com nomes gravados. Dali se pode ver a igreja matriz, imaginar a música vinda do coreto desativado e espiar os casais de namorados na fonte luminosa.

O prédio da prefeitura é identificado em letras garrafais: Paço Municipal. Uma construção assobradada recente, em forma de bolo de casamento, juntando a prefeitura e a câmara municipal. Na fachada superior há uma espaçosa varanda prevendo momentos solenes ou festivos. Dizem que a edificação é um pequeno paço para o homem, um salto para a humanidade.

É curioso saber que o expediente é das 9h às 11h e das 13h às 17h. E que um mesmo prefeito dirigiu a cidade por 14 anos em quatro mandatos diferentes.

As estatísticas apontam que 90% dos habitantes são alfabetizados e que 93% da população, acima dos 13 anos, acessa o Facebook. Curiosamente ninguém nasceu na cidade nos últimos 30 anos. Será que só lêem livros e trocam e-mails? Ou é brincadeira de um gozador cidadão boraense.

O mais surpreendente é que a cidade é extremamente politizada. Todos votam. Idosos, maiores de 17 anos, mulheres, adolescentes, crianças, bebês e até os que ainda irão nascer. Pois apesar da cidade ter apenas 805 habitantes, tinha, já em 2008, 924 eleitores.

Consegui terminar o texto no prazo. O editor sempre exigiu um conto ou crônica. Desta vez, para me testar, exigiu um artigo.

Do texto pode até não gostar, mas certamente terá interesse em desvendar o mistério que atrai moradores de outros lugares a votar na pequena Borá.

2 comentários:

Glauber Vieira disse...

Bacana o texto! Já tinha ouvido falar nessa cidade, e confesso que tenho curiosidade em conhecer um lugar com menos de 1000 habitantes...

Klotz disse...

Além de Borá existem outros lugares com menos de 1000 pessoas:
- Praia de Copacabana em dia de chuva;
- Estadio de futebol de Brasília;
- Câmara dos Deputados às segundas e às sextas-feiras

 
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