26 dezembro 2011

Feliz por nada



Feliz por nada
Martha Medeiros

Editora LPM
216 páginas
Preço: Um montão de reais porque comprei no lugar errado.


Na livraria do aeroporto de Brasília, meia hora antes de embarcar no vôo que me levaria ao Natal em São Paulo com a família, pensando na próxima reunião do grupo de leitura, procurei Uma criatura dócil do Dostoievski. Não encontrei.

Na verdade eu queria um livro de leitura descompromissada, linguagem leve, bom astral. Alguma leitura que pudesse ser interrompida a qualquer momento.

Xeretei pilhas de livros. Revistas de todos os segmentos. Quem sabe alguma que me ajude a planejar o ano que vai começar?

Chamou-me a atenção um livro que piscou para mim embora a figura da capa fosse um manequim sem cabeça, porém repleto de botons com smiles espalhados na camisa. Era Martha Medeiros flertando comigo.

Um livro de crônicas, constatei. Histórias curtas. 24.a edição. Uau! Sempre tive curiosidade de saber quem é essa mulher. A foto da segunda orelha convenceu-me a viajar bem acompanhado.

Já sentado na sala de embarque tive o trabalho de contar que a autora escreveu cinco livros de poesia, quatro romances e que este é o sétimo de crônicas. Caraca! Essa mulher é muito nova para tantos livros!

Gosto de refletir sobre as frases de abertura de romances. Mas este não é um romance e a frase de abertura na verdade é uma pergunta: Onde você gostaria de estar agora, nesse exato momento?

Para mim, eu já poderia fechar o livro. Comecei minha viagem ao viajar para lugares e momentos. Foram dez ou quinze segundos tentando responder a questão. A minha alegria foi a resposta original: o melhor lugar do mundo é dentro de um abraço.

Logo precisei interromper o prazer da leitura para o embarque. Por essas e outras é que escolhi short stories.

Bem no comecinho, acho que na quinta crônica, a autora conta sobre um cara chamado Alain de Button que criou a Escola da Vida. Onde se aprende a viver o cotidiano de forma mais prática e inventiva. Ou seja, a moça que mostrou muita originalidade logo de cara busca ainda mais criatividade?

Logo mais à frente sublinhei uma frase: “Independência nada mais é do que ter o poder de escolha”, conclusão de um comentário: “Te acho uma mulher fenomenal, mas eu não gostaria de ser casada contigo – tu és muito independente.”

A autora se desnuda naturalmente, sem preconceitos, ao mostrar a alma em vários momentos. E, ainda oferece lições aprendidas na própria vida amorosa quando sugere: “não antecipe o término do que ainda não acabou, espere a relação chegar até a rapa, e aí sim.”

Contrastando um artigo da revista Veja sobre a educação em massa dos chineses de Taiwan, reproduz um conceito da poeta Elisa Lucinda que não há jeito de reter conhecimento se não houver emoção.

Em muitos momentos as crônicas sugerem que o livro é um guia de autajuda.

Em Amigo de si mesma sugere que ninguém vai se chatear se você fizer o bem a si mesmo. “Negue-se a participar de coisas em que não acredita ou que simplesmente o aborrecem. Presenteie-se com boa música, bons livros e boas conversas. Não troque sua paz por encenação. Não faça nada que o desagrade só para agradar aos outros. Mas seja gentil e educado, isso reforça laços.” “Sem amizade por si próprio, nunca haverá progresso possível.”

Em Confie em Deus, mas tanque o carro a autora continua o seu delicioso guia ao referendar que “não há prêmio ou punição na vida, apenas conseqüências.”

Achei sensacional a crônica Em que esquina dobrei errado? em que a autora perdeu-se numa viagem em Paris. A partir dali analisa as conseqüências do que pode acontecer a qualquer pessoa ao dobrar a esquina errada em algum momento da vida e conclui que “a vida não é férias em Paris.”

Em Feliz por nada, Martha Medeiros externa sua opinião a partir de fatos, situações ou momentos vivenciados. Quase sempre mostra bom humor, dá lições de vida. Não é a toa que o livro está há 22 semanas entre os 10 mais vendidos da Veja na categoria Não ficção. Penso que deveria estar em Autoajuda.

Terminei de ler o livro no dia 24 de dezembro enquanto esperava o táxi para me levar à casa da minha filha para a ceia de Natal. Ganhei o meu presente natalino antes de todo mundo.

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