08 agosto 2014

Polar


POLAR

Autor: Renato Fino

Editora: Siglaviva

Preço: imagino ser de uns R$ 30,00

Encontrável no Senhoritas Café, na 408N de Brasília

Páginas: 136


Ganhei o livro do Renato Fino. Foi para a prateleira dos que eu quero, gostaria, preciso ler. Lá estão outros 97, contados, necessitados de leitura. Às vezes um ou outro fura a fila. Polar nem pegou muito pó, talvez uns seis meses. Eu saí de um livro parrudo de páginas e conteúdo e queria algo leve e rápido. Leitura suave (me enganei).

Imaginei um romance que eu abandonaria numa lanchonete, porque santo de casa não faz milagres. Embora eu não canse de rezar e prestigiar os santos da casa.

Sentei-me com a intenção de apenas ler o prefácio, a apresentação e as orelhas do livro. Mas só havia um curto parágrafo arrebatador no verso.
“Creio que foi na infância que ergui as minhas descrenças todas. A família, sem meu pai, me parecia uma ave a qual faltasse uma asa e que, por isso, não poderia alçar voo jamais. A escola sempre me pareceu um campo de refugiados para onde as crianças eram encaminhadas por não terem outro caminho a seguir. O governo fazia o papel de um deus tirano, enquanto as religiões se perdiam de Deus”.

Um bom indicativo sobre o estilo e conteúdo. Orelhas limpas de letras. Observei o nome da editora. Chequei o número de páginas. Avaliei que em uma semana terminaria o livro. Sem apresentação nem prefácio. Um lembrete informa que foi a história que o autor diz que não queria ter escrito. Então me pus a ler como quem tira os sapatos para molhar os pés na beira-mar. “Só tenho olhos para o meu abandono. A vida é feita de abandonos e a minha vida não poderia ser diferente”. Poucas páginas depois de molhada a bainha da calça, a água salgada foi aos joelhos. “Soube que meu pai era, então, um jovem forte e bem disposto, com implacável saúde, mas por dentro um morto à procura de outra vida. Fazia parte da tripulação de um navio prestes a mergulhar na guerra já iniciada, quando desertou da morte e saltou para o mar, sem rumo certo, desesperado como um urso polar que não conseguiu alimento às vésperas do inverno”. E, sem perceber fui tragado por uma onda de páginas marinhas: “me pus a observá-la mais profundamente, porque agora eu tentava adivinhar não o que sua carne me dizia, mas o que seus olhos me confessavam”. Encharquei-me de Polar e disposto a me afogar no livro.

Com linguagem acessível, informa que é uma história de abandonos. Logo descobrimos que é mais do que isso, Renato Fino criou metáforas inteligentes para colocar em paralelo a vida de renúncia dos personagens e a vida de abandonos dos ursos polares.

O tema é tão pesado quando pode ser um iceberg, mas há pedras de gelo lúdicas quando traz uma série de informações sobre os nomes de todos os personagens. Magna “é forte e poderosa”. Bárbara “uma estrangeira, uma forasteira uma estranha em minha vida”. Amanda “era amante dos livros”. Em determinado momento da ficção o autor se lança num realismo fantástico e transforma-se em personagem e analisa também seu nome Renato/Renê que significa renascido e é o que tem vivido desde que veio ao mundo, um eterno renascimento.

Particularmente leio livros como um escritor e não apenas como um leitor. Por isso abro a minha lupa à procura de contradições e pontos criticáveis. Renato Fino passou com nota altíssima no meu crivo, só não ficou com a nota máxima por um detalhe que considero estímulo para que seu próximo livro seja ainda melhor. Entendo que mesmo a ficção deve ser verossímil nos detalhes. Em determinado momento é citado um posto de estudo científico de ursos polares em Murmansk na região polar da Rússia. Verifiquei que a “vila” tem mais de 300 mil habitantes e que lá só vivem ursos pardos.

      Terminei o livro em três dias confirmando que a história é de abandono, mas o livro não pode ser deixado de lado sem leitura e aplauso.

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