24 março 2015

A máquina fantástica


Título original: A invenção de Morel
Adolpho Bioy Casares
Editora Expresso e Cultura – esgotado em todas as editoras
128 páginas
 
Participar de um grupo de leitura foi uma das melhores coisas que me aconteceu depois que resolvi viajar no mundo literário. Saí da rota comercial dos best sellers para navegar horizontes desconhecidos. A bússola são os colegas marinheiros do grupo de leitura que, via de regra, sugerem embarcações diferentes para destinos, para mim, sempre inexplorados.

Quando propuseram um autor argentino torci o nariz como o brasileiro que acompanha o futebol.

Ainda precisei comprar o livro numa livraria virtual uma vez que o livro está esgotado.  Recebi o livro amarelado reencadernado com algumas marcas de fita durex. Cheirava ligeiramente a mofo ao contrário de um novo que recende a tinta gráfica.

Ultimamente estou meio ressabiado com as apresentações, orelhas e contracapas que tenho lido. Todas são elogiosas. Aliás, é por isso que estão ali.

Então, foi assim, cheio de desconfianças, que li a apresentação de Jorge Luís Borges, o Maradona da literatura portenha.

Borges afirma que nenhuma outra época possui novelas de argumentos tão admiráveis quanto The turn of the screw, Der Prozess, The invisible man, Le voyageur sur la terre  ou como o desta , escrita em Buenos Aires por Adolpho Bioy Casares.

Ou seja, que acima de tudo, eu, como leitor, deveria prestar atenção no argumento da história. Foi o que eu fiz.

Trata-se da história de um condenado à morte que foge para uma ilha afastada. A ilha apesar de deserta possui algumas poucas edificações improváveis: um museu, uma igreja e uma piscina.

O fugitivo é prevenido por um italiano que vendia tapetes em Calcutá, que as construções datavam de 1924 e que nem os piratas chineses nem o navio do Instituto Rockefeller ousavam ir até lá. Que a ilha era um foco de enfermidade, ainda misteriosa, que matava de fora para dentro. Caem as unhas e o cabelo, a pele e as córneas morrem e o corpo só resiste de oito a dez dias.

Com esse início de mistério e quase de terror sabemos também que o fugitivo pela centésima noite anota suas sensações, medos e descobertas. E tomamos conhecimento da história justamente a partir das anotações do caderno do fugitivo.

Também, desde o início, o autor lança notas de rodapé de página que são absolutamente geniais, pela sutileza, quando questiona a veracidade do narrador ao prestar  algumas informações como a primeira nota que diz que as Ilhas Ellice são baixas e sem árvores ao contrário do narrador que diz que ali havia um morro e árvores.

 A história ganha vulto quando o condenado passa a ter companhia na ilha. Não sabemos se são alucinações, delírios, fantasmas ou pessoas de verdade. Cabendo ao leitor especular o mistério como num enredo policial.

Entre os vultos se destacam um homem, Malthus e uma mulher, Faustine, pela qual o protagonista e narrador se apaixona.

Estes são os cenários e personagens que o autor utiliza para divagar sobre a vida, sobre a morte e sobre a eternidade enquanto tenta descobrir se a origem dos vultos são fantasmas, se ele está morto ou até se são provenientes das alucinações provocadas pelas raízes que come.

O fechamento da história apresenta uma resposta verossímil às indagações e podemos aceitá-la mais do que sendo fantástica, mas de ficção científica.

E, por isso mesmo o argumento é genial, Borges tem razão, principalmente para as explicações para a Máquina de Morel.



Finalizando, sou grato por pertencer a esse grupo de leitura e assim, como o protagonista, ter a oportunidade de explorar terras por mais fantásticas ou fantasiosas que sejam.

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