08 junho 2015

Um dia na vida de um carteiro


Quando prestei concurso para carteiro imaginei que fosse distribuir cartas em bairro de rico. Não neste bairro de ruas enlameadas, repleta de cachorros sujos e barracos sem número. 

Não há caixas de correio. Odeio bater palmas e gritar para entregar os envelopes.

A próxima casa vai ser mais fácil. A porta está entreaberta.

- Ó, de casa. – Bato com os nós dos dedos na porta.

- Ó, de casa – chamo três vezes e abro lentamente a porta.

Não vejo ninguém e avanço uns passos. 

Chama-me à atenção a mesinha na frente do sofá. O tampo é mistura de balcão e cemitério. Quatro pratos empilhados com restos de arroz e ossos de frango. Uma mamadeira caída com leite derramado ressecado. Uma chapinha desgastada.  Um joy stick. Um controle remoto.  O cinzeiro transbordando guimbas está ao lado de três latas vazias de cerveja bem defronte do lado direito do sofá que está mais afundado e onde também há marcas de queimaduras de cigarro. Do lado esquerdo do sofá há um travesseiro indicando que é cama de um dos moradores.

Acima do sofá, na parede há um recorte de página central de revista com o time do Botafogo, campeão estadual de 2006. No prego, logo acima, há um boné provocativo com o escudo do Flamengo.

Dei mais um passo para largar a correspondência sobre a mesinha quando reparei rastros de pneu de bicicleta perto de um par de havaianas destroçadas e um cachorro morto.

Saí correndo.


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