14 junho 2016

Medalhão de filé

Para o dia dos namorados resolvi fazer um jantarzinho romântico em casa.

Lembrei-me de um comentário, talvez pedido discreto, de que ela estava com saudades de comer um medalhão de filé.

Anotei os ingredientes e fui ao supermercado perto de casa. Dirigi-me direto ao expositor de carnes pensado em medalhões cortados, prontos para o consumo, mas não encontrei.

Procurei o moço das carnes.

­                — O senhor tem filé mignon?

— Não freguês, acabou tudo. Parece que hoje todo mundo só quer filé.

Por sorte eu ainda não tinha nenhuma compra no carrinho e a 50 metros havia um açougue. Nem precisaria pegar o carro.

Escolhi a menor das duas únicas peças restantes e pedi para limpar no capricho.

Voltei ao supermercado para comprar massa, queijo, creme de leite, mais algumas bobagens e o bacon em fatias.

Procura daqui, procura dali e nada de bacon fatiado. Próximo dos ingredientes para feijoada vi um funcionário do supermercado.

— Moço onde fica o bacon em fatias?

— Estamos em falta. Tem quatro meses que nenhum dos dois fornecedores trouxe.

Meio contrariado, escolhi uma embalagem com três pedaços de bacon e voltei para o balcão das carnes.

 — Será que o senhor pode fatiar para mim – mostrei o pacotinho.

— A minha serra está no conserto. - Respondeu com má vontade.

Finalizei as compras e fui à padaria perto de casa.

— E aí seu Inácio, tudo bem? Será que podia pedir pros meninos fatiarem o bacon para mim?

— Magnata, desculpe, mas só fatiamos e embalamos de manhã. Se você voltar aqui cedinho a gente faz rapidez. Posso ver o bacon?

Estendi o saco plástico.

— Esse negócio é muito mole. Não vai dar não. Vai ter de ser na faca. E precisa estar muito afiada.

Comprei um bolinho caseiro de chocolate, apenas como desculpa de ter ido à padaria, paguei e agradeci. Saí com os pedaços de bacon numa mão e um bolinho na outra imaginando que levaria umas duas horas para afiar a faca e outras duas horas para cortar umas fatiazinhas da grossura de um dedo.

— Tô ferrado. — Falei alto. - Como afiar a faca? — Continuei resmungando.

 Me lembrei da superhipermegagolden faca do açougue onde comprara o filé. E lá fui eu esperançoso de volta ao açougue.

O cara me reconheceu. Com maestria e rapidez fez um trabalho muito melhor do que eu seria capaz em um século.

— Yesssss. A felicidade até existe.

Cheguei em casa, guardei as compras e botei um vinho para resfriar.

Assim que a esposa chegou, contei feliz que teríamos medalhão de filé com linguini ao molho de gorgonzola.

Depois do beijo, apontei orgulhoso para o bacon e para os medalhões cortados.

— Amor, os meus, por favor, sem bacon.

Mesmo assim, à noitinha, dormimos colados igual ao bacon no medalhão.


Nenhum comentário:

 
Search Engine Optimisation
Search Engine Optimisation