07 fevereiro 2017

Casa dos espíritos



Minha vida estava sem sentido. A empregada roubou meu cedê do Raul Seixas. O cachorro roeu minha máquina fotográfica. Fiquei preso no elevador durante cinco horas. Com o síndico. Embriagado! Minha namorada engordou 32 quilos e antes que eu acabasse o relacionamento me abandonou. Sumiu!

Tentei de tudo; alho, sal grosso, pé de pato mangalô três vezes, arruda e guiné para espantar o mau olhado.

A grande mudança ocorreu quando um amigo, sabendo da minha fase agourenta, presenteou-me com uma Casa dos Espíritos. Uma espécie de templo budista, utilizada pelos tailandeses, para ser colocado na entrada e que deve ser bem provida de incensos, alimentos e objetos para trazer sorte e conforto.

Por morar em apartamento, a instalei no hall dos elevadores do meu andar. Procurando seguir as tradições e o manual de instruções, promovi uma festa de boas vindas. Recheei o telhadinho com uma foto da Juliana Paes, uma nota de dez Euros e um pedaço de frango à passarinho com muito alho. O DJ mandou ver um pagode legal. Foi uma festa para ninguém botar defeito.

No dia seguinte a filha da zelador brincou de casinha no hall. O dinheiro sumiu, a foto estava rasgada. Sobrou apenas uma barbie impregnada com o cheiro do alho.


Mesmo assim, depois de uma semana a minha namorada retornou. Estava linda. Voltou de um spa parecendo top model. Magra, cabelos de salão, roupa mostrando todas as curvas. O problema é que entrou na porta vizinha. 

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