04 julho 2007

Girafa barulhenta


Caminhar sempre é bom. Acompanhado é melhor. E quando a companhia é agradável, é o máximo. Tenho uma vizinha que gosta de caminhar comigo.
Infelizmente a velocidade dela é devagarzinho. Bem devagarzinho, para poder
falar bastante. Ela é muito alegre, extrovertida e perguntadeira. Bem típico da idade. Eu que não tenho nenhum neto, a princípio fiquei incomodado com esse negócio de me chamar de Vô. Mas é uma menina muito fofinha. Demorei a me acostumar, agora até gosto de ser chamado vovô. Quando ganho beijo lambuzado nem reclamo.
Hoje ela me contou que já sabe o que o irmãozinho vai ganhar de aniversário, mas que não vai me contar porque a mãe disse que era segredo.
Depois ela cantou a musiquinha da escola.
Meu lanchinho, meu lanchinho
vou comer, vou comer
pra ficar fortinho, pra ficar fortinho
e crescer e crescer.
E aí, sem mais nem menos ela perguntou se era verdade que as girafas não faziam barulho.
Eu não sabia se aquilo era uma piada, pegadinha ou era uma demonstração de conhecimento.
– Quem te disse isso?
– A tia. Ela disse que os cachorros latem, que os gatos miam, que os passarinhos piam, mas que as girafas não falam. As coitadas não fazem nenhum barulho.
Percebi os olhos tristes da menina com pena da girafa.
– As girafas fazem barulho sim. Você precisa ouvir como é alto o pum da girafa.
A menina deu uma risada e eu continuei.
– Silenciosas são as borboletas. Ou você já ouviu as borboletas batendo papo e fazendo algazarra?
Antes que ela respondesse continuei:
– Fale para sua tia que o único bicho que não fala é o criado-mudo.
Ganhei um delicioso beijo e ela saiu correndo.

8 comentários:

Anônimo disse...

Olá, Roberto.
Vim aqui retribuir sua visita.

Se eu puder caminhar no meu ritmo, prefiro fazê-lo sozinho — já que ando mais para rápido que para lento. Porém, quando caminho com minha avó (de 91 anos) tenho que fazê-lo no ritmo dela, que é bem lento, obviamente.

Anônimo disse...

A lógica infantil é muito mais criativa que a nossa. Aquele montão de pescoço e garganta e nehuma voz? Faz todo o sentido :)

Klotz disse...

Feliz é você Wagner, que ainda tem avó. Pergunte se no tempo dela as girafas falavam.
Maraya, jamais imaginei que a voz poderia ser proporcional em volume ao tamanho do pescoço. Deve ser por isso que besouros não falam. Já as cobras... tenho uma vizinha que é uma cascavel.

Sonia Sant'Anna disse...

Coisa mais gostosa de ler.

Luci Afonso disse...

Klotz,

Acho que você leva jeito para escrever (também) para crianças. Experimente mostrar o texto a algumas. Elas vão adorar!

Anônimo disse...

Uma delícia de ler.
Também conheço alguém assim, que caminha vagarosamente...
Adorei a tirada do criado-mudo.
Roberto,... parabéns por seu blog! Muito bem recheado. Vou colocar nos meus favoritos pra ler com mais calma numa outra hora. Um abraço

Maria disse...

No início pensei que sua vizinha era gostosona mas sem preparo físico
Depois entendi que ela era muito melhor que isso...
Quase te pegou hein!
Ainda bem que ela não te perguntou qual era o nome do barulho que a girava fazia...
A saida do pum foi ótima!
O seu jeito pra avô também! kkk

Maria disse...

No início pensei que sua vizinha era gostosona mas sem preparo físico
Depois entendi que ela era muito melhor que isso...
Quase te pegou hein!
Ainda bem que ela não te perguntou qual era o nome do barulho que a girava fazia...
A saida do pum foi ótima!
O seu jeito pra avô também! kkk

 
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