12 julho 2007

Manchete

Bandido estupra e mata anciã. Traficante vende, não entrega e esfaqueia. Parou no sinal e perdeu o carro. Pivete chapado mata por um relógio quebrado. Pedreiro faz sexo com nenê da vizinha. Mais uma rebelião no presídio. São manchetes diárias dos nossos jornais. Na verdade não são manchetes, são apenas chamativos das páginas internas do jornal. Às primeiras páginas cabem as verdadeiras notícias de destaque: política, economia e esporte. Os fatos corriqueiros de morte e violência, de tão comuns ficam com as páginas centrais. Os acontecimentos só recebem relevo quando o algoz ou a vítima são pessoas de notório destaque. Se o seqüestrado for apenas rico não receberá sequer uma linha dos jornais.
É a banalização da morte, a vulgarização do crime. É o cotidiano. Ninguém mais se importa.
Os presídios estão superlotados, os policiais não têm formação, os processos percorrem um lento e burocrático caminho, as leis estão obsoletas e se contradizem, sempre há mais uma instância a ser recorrida, a corrupção atinge até juízes. As estatísticas informam que menos de 20% dos criminosos acabam condenados e destes, menos de 15% cumprem toda a pena.
O bandido tem a certeza da impunidade. Ao cidadão cabe esperar apenas pela justiça divina. Ao perceber à sua volta um rastro de terrores ela passa a desejar a morte do malfeitor. A morte preferencialmente em julgamento sumário e execução em praça pública.
Se não houver uma reviravolta em todo sistema, breve tornaremos à Idade Média e teremos como manchete: Povo brasileiro exige pena de morte.

Um comentário:

Sonia Sant'Anna disse...

O que precisa haver é uma mudança total na mentalidade brasileira, em que "pequenos" crimes são bem tolerados, e até praticados pela gente que se diz "de bem". Já vi uma pessoa das minhas relações, cujo marido considera normal receber um pequeno agrado (tipo uma passagem de avião) dos fornecedores à estatal em que trabalha, aplaudir os que tentavam linchar um mísero batedor de carteira. Segundo meu pai, feirante que rouba 10 centavos no quilo do chuchu, gente que usa carteira falsa de estudante ou de idoso para pagar meia entrada não é diferente do político que rouba milhões. A diferença está na oportunidade que uns poucos têm de roubar mais. Menino que ofende o porteiro e não é repreendido pelos pais acaba surrando domésticas no ponto do ônibus - travessura de crianças, como disse o pai de um deles.

 
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