17 novembro 2010

O cantor de intervalos


Uma agressão inusitada em Ribeirão Preto, cidade do interior paulista, a 300km de São Paulo. Jefferson Fabiano Ferreira Correa, 28 anos teve a boca grudada com cola instantânea na manhã de ontem. Ele foi atendido no Pronto-Socorro Central da cidade para descolar os lábios. CB – Brasil, 17/11/2010



João Tatu era um sujeito grande. Muito grande. Tão grande que as camisas eram GGGG. Pedia a uma costureira para confeccionar camisas especiais.
– Dona Maria quanto eu compro de tecido?
– Dois hectares devem ser suficientes.
Os dois hectares de pano mal cobriam a tatuagem tribal nas costas. Um casal de elefantes fazendo amor, uma girafa colhendo uma fruta, um leão brigando com um tigre, um leopardo correndo atrás de uma gazela. Enfim, se eu descrevesse todo o cenário ambientado na savana africana eu escreveria um livro de 600 páginas.
É certo que a cortina cobria as costas, porém alguma parte dos braços, pernas ou pescoço ficavam à vista tornando-o um outdoor vivo. Impossível passar despercebido numa multidão.
Naturalmente, João recebeu o apelido por causa das diversas tatuagens em todo o corpo e não porque se escondia debaixo da cama, enquanto era possível, quando sentia medo.
Um dos prazeres de João Tatu era frequentar bares com música ao vivo. Todos os fins de semana escolhia algum. Sentava-se sozinho numa mesa próxima do cantor e na hora do intervalo levantava-se, se encaminhava ao palco, ajeitava o microfone e sem nenhum constrangimento, atacava uma canção no mesmo estilo do artista oficial. Sabia todas as letras de todos os sambas, boleros, MPB, rock nacional e internacional. Com ele não existia preconceito contra música sertaneja, pagode ou ópera. Cantava de tudo. Cantava de tudo sem acompanhamento. À capela.
Cantava sem acompanhamento porque era muito ruim. Não havia piano, violão, guitarra ou saxofone que acompanhasse suas notas fora de tom. Via de regra desligavam a energia do microfone e João retornava cabisbaixo para seu lugar.
João, bom brasileiro, não desistia. Procurava outro bar e pacientemente cavava a vez de subir ao palco. Às vezes até pedia. Quando atendido, inventavam uma desculpa qualquer limitando a cantoria a apenas uma rápida exibição.
Apesar de eternamente rejeitado sentia-se o rei da voz. Dizia que faltava apenas a sorte de ser reconhecido por algum grande empresário e ter a carreira alavancada para o mundo.
Começou a procurar casas noturnas maiores, com mais freqüentadores. A história se repetia. Após rápida apresentação era convidado a se retirar. A insistência transformou os delicados convites para retirada em expulsões. João tornou-se conhecido não pela voz, mas pela inconveniência.
Numa noite de lua minguante João Tatu, apesar do tamanho, driblou os leões de chácara da cantina italiana vizinha e empunhou o microfone.
Precisou fugir após os xingamentos e objetos arremessados. Os furiosos seguranças seguiram o desafinado até em casa.
Encontraram-no sob a mesa da sala e colaram-lhe a boca com cola instantânea.



Ainda não fui chamado para assinar contrato com A Folha, Estadão, Correio Braziliense, Zero Hora, Estado de Minas ou Globo, mas já recebi convite para ser publicado no Tagualetras de Taguatinga e A voz de Goiânia.
Todas as quartas-feiras, até as 18 horas, apresento, no meu blog, um texto com provocação originada em artigo do Correio Braziliense. O texto é limitado entre 2959 e 2997 caracteres.
Por que? Porque aguardo convite de algum deles para ser colunista remunerado.

3 comentários:

Giovani Iemini disse...

a voz de goiânia é o jornal que o broder do deveras tá fazendo?

se tiver um tempo, cara, me dá uma ligada.

[]s

Klotz disse...

Foi bom conversar e trocar figurinhas com você. Vc sempre é bem-vindo.

GaRa disse...

bom... o Tagualetras e um jornal novo, não remunera nenguém mais quando ofuscar o Jornal de Brasilia e o Correio Braziliense vc sera nosso cronista mor...

 
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