10 novembro 2010

Um dedo no passado


“Vinte e nove mil anos depois da extinção do homem de Neandertal, o Homo sapiens começa a fazer descobertas reveladoras sobre o estilo de vida desse primo distante. Uma delas, publicada ontem pelo Journal Prociedings of the British Royal Society, acaba de descrever um atributo até então desconhecido, dos abrutalhados homens das cavernas: sua intensa atividade sexual. E para chegar a essa conclusão, os pesquisadores se basearam no comprimento do dedo de fósseis encontrados, que segundo especialistas, pode indicar promiscuidade.” CB – Ciência 4/11/2010

O mulherio se atirava aos pés de Joe. As garotas tinham orgasmos múltiplos ao vê-lo desenvolver passos dificílimos nas pistas de dança calçando enormes sapatos número 46. Joe Louis era o ídolo e fazia o maior sucesso entre as mocinhas do colégio. Tocava violão, cantava as músicas do momento, penteava os cabelos com brilhantina, tomava cuba libre com limão e esnobava com a lambreta vermelha. Um dia descobriram que o sucesso dele era resultado de apurado marketing. O nome fictício escondia o verdadeiro João Luís que calçava 38.
A propaganda ocorria porque o rei do Rock and roll, Elvis Presley, era vivo e enlouquecia as fãs com Love me tender. Nomes e palavras em inglês arrepiavam até os cabelos da nuca das mocinhas estudantes nos internatos. Entre elas também corria a lenda de que o tamanho do pé masculino era proporcional ao membro reprodutor.
Pois a professora de música do Elvis, Dona Carlota Beatriz, era facilmente reconhecível. Usava uma anágua por debaixo da saia, coque nos cabelos prateados e blusa de bordadinhos fechada no pescoço com um broche de ametista. Como professora de piano das antigas era adepta da palmatória. Rigorosíssima na hora de escolher os alunos. Obrigava-os a longas sessões para verificar a habilidade motora de ambas as mãos. Os escolhidos eram sempre os alunos com os dedos mais longos. Diz outra lenda que ela iniciou o menino Elvis também na música. Os tempos eram outros e as crenças também.
Num passado um pouco mais distante, e isso não é lenda, os homens peludos guerreavam com outras tribos para garantir territórios visando a colheita de laranjofructus e fitobananus além da caça de boissauros, porcodontes e galinoraptores. O resultado das investidas no campo era assado em festivos churrascos. Era também o momento em que as fêmeas escolhiam seus parceiros.
Os candidatos se esforçavam ao máximo para chamar a atenção: assobiavam como sabiácus, uivavam como lúpusrex, cantavam imitando curióterix. Os dotes artísticos eram mostrados exaustivamente numa festa que adentrava a noite até que finalmente acontecia o clímax com a dança dos estalactites.
Os homens num ritmo sensual levantavam as mãos espalmadas o mais alto possível procurando tocar os inalcançáveis estalactites das cavernas. As mulheres se excitavam e rapidamente selecionavam um parceiro. Confirmavam a escolha colocando um anel no dedo maior.
Qualquer semelhança com os dias atuais não é mera coincidência.


Conto ou crônica? Artigo? Quem sabe? Pois este texto, como os 13 anteriores, tampouco foi publicado em periódico graúdo. O autor aguarda chamamento para produção semanal remunerada a partir de notícia de jornal. Este é o 14.o texto seqüencial composto com número limitado de caracteres.

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