16 fevereiro 2011

Consulta aos arquivos moleculares

A revista semanal Science, publicação da American Association for the Advancement of Science (AAAS) diz que em uma única célula humana há cerca cem vezes mais informação codificada no DNA humano do que em todos os livros, CD’s, computadores, negativos de fotos e todo tipo de lugar onde se armazenam dados, digitais ou analógicos. Folha de São Paulo — Ciência, 11/02/2011
Acordou cansado e tonto. Pensou num out door de pousos e decolagens do salão de embarque grudado no cérebro com as informações passando a jato. A vista enxergava um enorme tubo tridimensional azul com caracteres binários passando à velocidade da luz.
Levantou-se segurando nas paredes. No banho tentava entender o que estava acontecendo.
À noite tivera uma discussão com o irmão. Precisavam abrir um cofre cujo segredo estava perdido. A caixa blindada continha um dossiê do avô, fundador da indústria onde eram sócios. Os documentos só poderiam ser lidos 50 anos após a morte do criador da empresa. Já se passaram quatro meses da data marcada com um círculo vermelho no calendário e a porta metálica continuava lacrada.
O fabricante do cofre já não existia. Consultaram dezenas de chaveiros e especialistas. Inclusive pagaram passagem a um mestre suíço. Nada adiantou.
Ainda se lembravam da tarde de domingo quando o nono reuniu os dois meninos na sede da fábrica para uma conversa curta e grave. Logo após, mostrou uma pasta negra, abriu a porta do cofre vazio, depositou a pasta, fechou a porta e girou o segredo. Anotou, às nossas vistas, a combinação do cofre na primeira página de uma bíblia. O pai dos meninos falecera em um acidente de carro. Seríam os únicos guardiões e, ameaçando com o indicador, exigiu sigilo absoluto.
Na adolescência começaram a trabalhar sob a orientação dura do criador da empresa. Geneticamente e por méritos, rapidamente galgaram posições.
Quando o velho faleceu estavam participando de uma feira de negócios no Japão. Assim que souberam, retornaram imediatamente ao Brasil. Chegaram tarde para a cerimônia. Só assistiram à missa.
Temiam que o avô os vigiasse do céu ou do inferno cobrando a promessa. Jamais tocaram no assunto entre si. Nem as esposas sabiam.
Um dia, conversando sobre a religiosidade do vovô, souberam que ele foi enterrado segurando uma bíblia e um terço.
Criaram uma questão para motivar a exumação do corpo. Vovô transformara-se em pó. Reconheceram a bíblia por um fragmento da capa. A anotação foi devorada pela terra.
A insistência do irmão em explodir o cofre o atormentava.
Para ele, a única solução viável era recuperar na memória longínqua os números do avô escritos com caneta de tinta preta.
Renovou as esperanças depois de ler numa revista científica que uma única célula humana guardava mais informações que toda a humanidade conseguira armazenar em bibliotecas, filmes, redes e computadores mundo afora.
Quando fechou a torneira do chuveiro, teve certeza, o seu organismo estava deszipando, descompactando, os chips do HD interno à busca da informação armazenada.
Desta vez, escrevi o conto baseado numa matéria da Folha de São Paulo. No blog sempre até
ás 18 horas das quartas-feiras com número pré-determinado de caracteres como se fosse uma coluna.

3 comentários:

Anônimo disse...

Reflexão altamente nesta página, textos como aqui está dão brilho a quem quer que analisar neste blog !!!
Escreve mais de este blog, a todos os teus leitores.

Klotz disse...

Estranho, muito estranho!
Recebi um aviso de publicação, mas o comentário foi engolido pelo sistema. Ei-lo:

para: r-klotz@uol.com.br
data: 21 de fevereiro de 2011 00:25
assunto: [Roberto Klotz] Novo comentário em Consulta aos arquivos moleculares.
assinado por: blogger.com

Anônimo deixou um novo comentário sobre a sua postagem "Consulta aos arquivos moleculares":

Reflexão altamente nesta página, textos como aqui está dão brilho a quem quer que analisar neste blog !!!
Escreve mais de este blog, a todos os teus leitores.

Klotz disse...

Eureka!
Eureka!
Eureka!

Descobri onde estava o comentário: na caixa de spans.

Escreverei, prezado anônimo, escreverei sim.

 
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