01 fevereiro 2011

Moda de americanizar nomes

O resultado do vestibular é um momento que faz a felicidade dos que vêem seus nomes na lista, mas também leva muita gente a dar boas risadas. Nas listagens a criatividade de muitos pais fica evidente. Daí conhecemos Rennolly, Dasayanne, Heldemys, Sunshine Summer,Yacana, Mauriston, Wuppschandler,Deicksony e outros tantos, que além da dificuldade para conseguir escrever o próprio nome, podem até sofrer por term sido batizados de forma tão incomum. CB - Comportamento, 30/01/2011

Insuportável!
Já tinha sido assim no colégio, agora também na faculdade. Primeiro vieram os copos descartáveis. Depois garfos quebráveis, colherzinhas plásticas e facas sem corte. A coisa foi piorando. Gritos, xingamentos, desaforos. Aí vieram os pratos de papelão. Tudo era arremessado em mim quando eu entrava na sala de aula.
Foi piorando gradativamente a cada semana. Trocaram o permanente pelo descartável e o descartável pelo definitivo.
Passei a ser o lixo e os pratos de louça. Jogaram pratos de sobremesa, xícaras, travessas e açucareiros. Só entendi o que acontecia quando acertaram um bule na minha testa.
Era bullying!
Parece que a escola e a faculdade são os lugares onde atos de violência física ou psicológica, intencionais e repetidos ocorrem com mais frequência. Toda turma se junta contra vítimas indefesas e isoladas. Pobres dos diferentes. Altos, judeus, gordinhos, orelhudos, narigudos, homosexuais. Em vez de zoação ou perseguição era bullying.
Apesar de se dizerem contra os americanos, na hora do batismo preferem palavras ou termos em inglês.
Este é o meu problema: Sou Edivaldo Uchoa Amaral. Quase todos os colegas carregam cás, dabelius e ipsilones nos nomes. Alguns repetem eles ou enes. Outros têm agás inusitados. Enquanto sou simplesmente brasileiro Edi. Menosprezado, desrespeitado, alvo de gozações.
Com medo de bolas de papel, eu me sentava acuado num canto da sala. Em seis meses de aula não participei de nenhuma roda de conversas.
Eu precisava sair do isolamento.
Para amenizar o constrangimento, comecei por procurar uma morena de dentes brilhantes que foi importunada nos primeiros dias de aula.
— Maria do Socorro, por que o pessoal te deixou em paz?
Explicou que o seu apelido sempre fora Mary Help.
Depois procurei pelo João Pedro e ele sacou a identidade e apontou orgulhoso: João Pedro de Olliveira com dois eles, ressaltou.
Minha outra abordagem foi a Rosecleide, amiga da Dannyelle.
— Oi Rose, seu nome Rosecleide Silva, não é mesmo?
— Sim e qual é o problema?
— Que sorte que não pegam no seu pé.
— Meu Silva é com ipsilone.
Só me restou ir à delegacia e prestar queixa.
Entregaram-me o formulário e na primeira linha escrevi meu nome.
O atencioso escrevente perguntou se meu apelido era Gringo.
— Por que seria? Tenho cabelos encaracolados, meus olhos são escuros.
— Justamente é o seu nome. Edivaldo Uchoa Amaral. Repare nas iniciais: Estados Unidos da América.
Gringo! Edu abriu um largo sorriso, rasgou a queixa e correu feliz para anunciar seu novo apelido.



Outro conto originado por notícia publicada no Correio Braziliense durante a semana. Sempre até as 18h das quartas-feiras, limitado a 2978 ± 19 caracteres.

2 comentários:

Simone Borges disse...

Meu nome é Simone.. na adolescência ganhei um apelido: Simon (lê-se Saimon).

Agora tudo faz sentido..hehehe

Fui aluna da Alexandra Rodrigues. Ela emprestou-me seu livro "Quase Pisei" e ganhei sua companhia por alguns meses!

RECEBI SUA CRÔNICA!!! OBRIGADA!!

BJUS.

Klotz disse...

Seja bem-vinda ao meu blog.
Prometo oferecer sempre uma história divertida, cafezinho e pão de queijo quentinho.

 
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