04 julho 2020

Sem perdão Frederick Forsyth




Sem Perdão

Frederick Forsyth

Editora Record
242 páginas






Houve um tempo em que eu lia pouco, mas me sentia confortável por saber que havia algum Forsyth me aguardando na prateleira.
Assim li “Quarto protocolo”, “O dossiê Odessa”, o insuperável “O dia do Chacal”, ”Cães de guerra”, “O negociador”, “O punho de Deus” (o mais fraco de todos), “Alternativa do diabo”.
Também li “Sem perdão”, mas eu não me lembrava disso quando comprei esse exemplar num sebo virtual após o escritor Chico Lopes (ou terá sido o Claudio França?) apontar, no Facebook, o livro como um dos seus preferidos. Dizia no comentário que era um livro ótimo livro de contos.
Contos são a minha praia e Frederick Forsyth é a praia onde gosto de nadar.
Desde que resolvi me reinventar e ser escritor, em 2003, larguei os best-sellers e passei a ler os clássicos ou livros escritos por conhecidos. Nunca mais li Forsyth, Ken Follett, Dan Brawn ou thrillers do gênero.
O comentário aguçou os meus sentidos de prosador de contos e crônicas e, de imediato, fiz a minha encomenda virtual.
Quando o meu exemplar chegou eu me preparei para ler com o mesmo apetite do glutão que amarra um guardanapo no pescoço antes de encarar a macarronada.
Pela primeira vez leria um Forsyth como escritor e não apenas como um leitor.
O primeiro conto, que dá nome ao livro, começa com “Mark Sanderson gostava das mulheres. Da mesma forma como gostava dos steaks do gado de corte Aberdeen Angus, sempre ao ponto, acompanhados por uma salada de alface. Consumia a ambos com igual prazer, se bem que passageiro. E cada vez que se sentia um pouco esfomeado, por uma coisa ou outra, telefonava para o fornecedor apropriado e encomendava o que precisava no momento.”
Interrompi para sublinhar a magnífica abertura.
Em seguida lança um conflito: Mark Sanderson tinha três vidas: a vida pública, a vida particular e a vida secreta. Impossível ficar imune à curiosidade.
Do protagonista informa que “Aprendera as regras do jogo em dois anos. E, o que era ainda mais importante, aprendera também a violá-las legalmente.”
A partir destas informações lança uma história fascinante de um homem poderoso que alcança tudo o que deseja até se apaixonar. Tudo perfeitamente verossímil com um fechamento arrebatador.
O final é tão impactante e original que naquele instante tive a certeza de ter lido o conto e o livro antes. Que delícia voltar a comer um prato de que se gosta!
O título do conto seguinte “Não há cobras na Irlanda” me chamou a atenção porque eu gravei mentalmente essa “informação inútil” sem saber de onde ou por quê. No conto, o autor em vez de apenas mencionar uma cobra indiana, a descreve fisicamente, detalha hábitos alimentares e a letalidade do veneno. Nada é excessivo ou cansativo. Pelo contrário, nos convence que a cobra existe e é daquela forma. Muito provavelmente um autor comum apenas mencionaria um nome conhecido de cobra o que por si só seria o suficiente para provocar medo. Aqui as informações não são inúteis. Todas têm devida importância para a sequência e consequência da história. Forsyth, preza os detalhes minuciosos, resultado de pesquisa profunda. Assim são as descrições de ações, lugares ou até objetos, dependendo da importância de cada um para cada conto. O autor, pelas descrições insere o leitor com uma verossimilhança absoluta e contagia com uma escrita ágil e envolvente.
Tanto que no conto seguinte, “O imperador”, somos levados para uma pescaria em alto mar numa traineira. Os relatos e emoções da pescaria são próximos da proeza em que Hemingway conseguiu ao pescar um Nobel com “O velho e o mar”.
Esqueci de dizer que o conto começa com um conflito que fisga o leitor:
 “– E tem mais uma coisa – disse a Sra. Murgatroyd.
Ao lado dela, no táxi, o marido disfarçou um pequeno suspiro. Com a Sra. Murgatroyd, sempre havia mais uma coisa. Não importava o quanto tudo estivesse correndo bem. Edna Murgatroyd passava pela vida sob o acompanhamento de um rosário de queixas, uma litania interminável de insatisfação. Em suma, ela importunava o marido incessantemente, sem lhe dar um minuto de descanso.”
“Usado como prova” é um conto que nunca saiu da minha cabeça. Simplesmente genial. Trata-se de uma investigação policial em que somos instigados o desde a primeira linha e ficamos em suspense até o ponto final. Fiquei muito feliz de reencontrar esse conto.
Apesar dos contos serem longos não há excessos. Os personagens são bem construídos e muito bem credenciados. Narrativas com reviravoltas e fechamentos surpreendentes, sem o posicionamento emocional, tanto que inexistem lados bons ou ruins, apenas ações e reações.
Não é à toa que Frederick Forsyth tem tantos fãs mundo afora.
Hoje mesmo vou procurar outros títulos do mestre.

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