18 janeiro 2007

Sempre o Nome


Sempre achei interessante o carma, o peso, a responsabilidade e os significados que um nome carrega. Em certo período colecionei listas de vestibulares, resultados de concursos, relações de atletas nos campeonatos de futebol, lista de funcionários e qualquer referência em que houvesse algum nome marcante. Com certeza não sou o primeiro a escrever sobre este polêmico assunto e tampouco serei o último. Aliás, considero este tema tão forte que recorro a ele sempre que surge a oportunidade. O estudo sério ou curioso tem até nome: antroponímia.
Um dos nomes que me instigou a curiosidade foi João Né. Operário em uma obra. Tive a oportunidade de conhecê-lo e perguntar a origem do curioso sobrenome. Juro, pelo que há de mais sagrado, a resposta foi que ao ser registrado, o funcionário do cartório teria perguntado qual o nome da criança, ao que o pai mineiro teria respondido é João, né. Para o azar do garoto.
Outro caso curioso aconteceu durante a Segunda Grande Guerra. Naquele período era proibido falar alemão. O pai tentou registrar o filho Hans Jordan. O escrevente argumentou que se era proibido falar alemão, muito mais grave seria registrar com nome alemão. O pai não se fez de rogado e o menino sustentou orgulhoso e diferente nome de Hans Caramuru Jordan.
O melhor amigo de papai era Darcy, nome dúbio masculino e feminino, Darcy Pinto da Rocha Campos. Ao se apresentar gracejava que o Pinto era da mãe. E não é o único caso. O artista Picasso, aliás, Pablo Diego Jose Francisco de la Paula Juan Nepomuceno Maria de los Remedios Cipriano de la Santissima Trindade Ruiz y Picasso, era Picasso por parte de mãe.
Ainda tem uma conhecida que ao casar não quis o sobrenome dele. Motivo pelo qual até hoje não tem filhos. Ela não quis o Pinto do marido. Mas isso já é outra história.
Conheci uma infeliz que foi batizada Maria do Rego Virgem Santos e não tive a ousadia de perguntar porquê o pai dela escolheu aquele nome. Seria alguma vingança contra a mãe da infeliz? Ou desejo para o futuro da filha?
Outro dia, no programa do Jô, um cuidador de carros disse que nomeu o filho Hilux em homenagem à caminhonete do mesmo modelo, que achava linda.
Famosos da literatura de relação de nomes estranhos: Maria Prostituta do Brasil, Rodo Metálico e Cafiaspirina.
O Congresso Nacional cooperou com algumas curiosidades: Um Dois Três de Oliveira Quatro, Pinga Fogo, Onaireves (Severaino ao contrário) de Moura, Lavoisier Maia, Inocêncio (que de inocente nada tem) Oliveira, Íris Resende e esposa Íris Resende, Dr. Rosinha, Ursicino Queiroz, Ronivon Santigo.
Se lhe perguntarem qual dos irmãos bíblicos matou o outro, a resposta é facílima. Você conhece alguém homenageando Caim?
Freqüentes também são os nomes que trazem homenagem a personagens famosos: Confúcio, Hitler, Lincoln, Maicon (sic Jackson), Rommel, Gutenberg, Temístocles, Jesus, Joana D’Arc, Lenine, Mozart. E até um esdrúxulo Jatoperi, ou algo assim, numa homenagem de um inglês ao ataque da Seleção Brasileira da Copa do Mundo em 1970 (Jairzinho, Tostão, Pelé e Rivelino).
O sobrenome representa a continuidade familiar. O filho, às vezes, tem a vida facilitada, outras vezes, nem tanto.
Considero um fardo a escolha impensada. Na dúvida não ultrapasse. Consulte.
Somente pais com mente perversa, irresponsável ou absolutamente ingênua escolhem nomes como Cornélio, Florindo, Florêncio, Modesto. Existem aqueles que invariavelmente levam a gracinhas repetitivas: Ao Humberto sempre perguntam se o irmão dele é o Doisberto; O Tadeu sempre ouvirá pergunta se forma dupla com Tadando; ao Wilmar sempre informam que vi o céu; a infeliz Raimunda é sempre associada à rima nada profunda.
Outras vezes os pais realmente não tem mérito nenhum e os filhos são abençoados com nomes que aparecem em canções maravilhosas. Luíza do Tom Jobim para ficar no exemplo. O problema é quando acontece o inverso. Quando a Aids surgiu o governo encampou propaganda onde os homens deveriam proteger o Bráulio. Chico Buarque depois de difundir e propagar Carolinas jogou pedras em todas as Genis da face Terra. Houve música da década de 70 em que depois de muita insinuação de opção sexual encerrava com o refrão e o nome dele é Waldemar. Todos os Aurélios em algum momento são chamados de pai dos burros. E até hoje todos os Zezés sofrem com a pergunta será que ele é, será que ele é?
No mínimo é curioso quando os pais resolvem homenagear alguma nação:
Ítalo, Germano, Israel, Franco.
Nosso país é fantástico, temos liberdade de expressão. E, por direito adquirido, os pais resolveram criar moda juntando e criando novos e originais nomes. Pega a primeira sílaba do nome dele, junta com a última sílaba do nome dela, uma pitadinha do nome dos sogros e pronto está criado mais um mágico e singular prenome: Auricélia, Raimurildo, Josicléia, Edylcea, Loresmar, Marconeisson, Rosialva, Rosineide, Derlopidas, Altomires, Jaminsom, Jorzely, Flavamario, Sonijardo, Eilovir e o tudo mais que a imaginação puder criar.
A outra moda é estrangeirar usando e abusando ipsilones, kas e dabliús, além de trocar a grafia de acordo com a temperatura ou qualquer parâmetro ou nenhum parâmetro. Antigamente ficávamos apenas com meia dúzia de combinações de Terezas e Heloísas. É sempre desagradável ter que explicar:
– Olha, é Denise com zê, viu!
Numa reportagem recente, li que um zeloso escrivão disponibilizou um cardápio com dezoito grafias diferentes para Washington. Por favor, gostaria do número nove combinado com o sete do Rooswelt.
Nos países nórdicos, ao escolherem nomes para os filhos eles não acrescentam Filho nem Júnior, justapõe filho na língua deles, son. Daí Johnsson, Davidson, Cristianson e Williamson. Emerson, Wilson e Creysson não tem nada a ver com isso.
Na França há um livro com todos os nomes e ninguém pode ser registrado por outro além daqueles. Por isso que todo francês é Pierre, Jean Marie ou François. Este último serve para homens ou mulheres. Melhor que em Portugal que só tem dois nomes: Joaquim e Manuel.
Em Nova Iorque havia um sujeito que queria que seu filho fosse o primeiro da lista telefônica e pagou ao escrevente um extra e batizou o filho com o sobrenome Aaabrahan issso meeesmo com treees aaas. Será o primeiro até que sobrevenha algum Aaaabraham.
Recentemente li que os norte-americanos também usufruem a liberdade de criação no batismo dos new americans. Estou louco para conhecer algum Iemanjá Lee ou Tucunaré Jones.
Aliás, nossa herança indígena legou vários nomes bonitos e significativos, pena estarem em desuso: Ubiratan, Ubirajara, Ibaté, Jurandir, Jandira, Iraci, Iracema, a virgem dos lábios de mel, Capitu do Machado de Assis, Moacir, Irajá, Jussara, Murici, Sinara, Tabajara, Itupi, Moema, Oberdan, Gilmar, Valdeci, Guaraci, Jacira, Juvenal, Peri, Ceci e Iara.Meu nome é tão comum, Roberto, origem latina, nenhum significado especial. Será? Após longos e tediosos estudos descobri o enigma que carrego. Meu nome foi gerado algum tempo após o assim denominado eixo, Itália, Alemanha e Japão guerrearem contra o resto do mundo. O meu nome foi composto pela primeira sílaba de cada uma das capitais daqueles países: Roma, Berlim e Tóquio.

9 comentários:

Anônimo disse...

Tô passando por aqui... Depois te escrevo e'mail... Bj.

Anônimo disse...

Olá, Mister Robert (Bob apara os íntimos!). Passei por aqui. Um cheiro de girassóis. Saludos. Maria José Limeira.

Anônimo disse...

mais uma vez arrebentou. A criatividade é seu forte. Grande final. Adorei

Klotz disse...

Uau! Quantas visitas amigas.
Eliz retorne com calma para um café. Minha amiga metamorfose, Maria Cactus Ninféia Girassol Limeira. Fique por aqui além do café vou servir um pão de queijo. Obrigado Haydée, ah... tem mais, além do café, do pão de queijo tem também umas panquecas com mel. Feitas na hora.
Beijos.

Rô Visani disse...

Adorei Beto, principalmente pq lembrou as risadas do meu avô Luiz. Toda vez que ele vinha para Recife seu programa predileto (fora a cervejinha) era ler o jornal. Os nomes, há 30 anos atrás, eram tão complicados que a gente tinha vergonha de repetir (i.é, quando entendia). Lembro tb de uma entrevista enorme que teve com Mário Souto Maior ele era um grande colecionador de nomes. Bj grande

Klotz disse...

Obrigado Rosana. Seu avô era especial.
Este texto é resultado de conversa com o grande jornalista Artur Xexéu. Dedico-o a ele.

Rô Visani disse...

Adorei a idéia da credencial. Ficou genial! Blog do Klotz - que som legal!

Klotz disse...

Todos que trabalham no meu blog têm de usar crachá.

Amarilis disse...

Como tá demorando pra aparecer um texto novo por lá, vim espiar por aqui. Prefiro nomes simples, tipo Ana e João. Dora quer dizer presente, então lice deve ser "de grego".
Ontem encontrei a hora certa: assei pão de queijo! Beijo.

 
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