27 fevereiro 2007

Getúlio e Virgínia Lane

Segundo o Tutty Vasques, a história da ex-vedete Virgínia Lane mudou o tiro mais famoso do país: o que matou Getúlio Vargas.
Virgínia Lane concedeu a Roberto Canázio, da Rádio Globo, no último dia de Carnaval uma entrevista onde falaram sobre marchinhas de época e da atração que as pernas da ex-vedete ainda exerce sobre o público.Em um dado momento, a conhecida relação amorosa que ela manteve com o presidente Getúlio Vargas enveredou pelo delírio absoluto. Miss Lane resolveu falar e vejam no que deu:
- Eu tive paixão por esse cara (o Getúlio);
- E você freqüentava mesmo o Palácio do Catete?
- Você quer saber de uma coisa que vou dizer pela primeira vez. É meio perigoso... Eu estava na cama com ele quando entraram e o mataram. Ele foi assassinado, meu filho! Quando ouviu o barulho de gente entrando no quarto ele ainda chamou o Gregório Fortunato e mandou que ele me jogasse pela janela.
- Você viu o assassino?
- Eram quatro homens de máscaras que atiraram nele. Dois deles ainda correram para o Jardim, tiraram minha roupa, me deixaram nua em pêlo e disseram “vai, vagabunda, vai arrumar outro presidente. Vou contar toda essa história no livro que estou escrevendo, “Sua Excelência, a vedete que viu”. Sou uma testemunha viva da morte de um homem com quem não tive um casinho, não. Passei quinze anos dormindo e acordando com ele.
Eu escutei a entrevista e fiquei pensando: será que ela esclerosou ou a história é outra?

Logo após ler a coluna de Tutty Vasques em O Globo enviei e-mail com meu depoimento:

Pois eu, Roberto Klotz, afirmo: a história de Virgínia Lane é verdadeira.

Era quinta-feira. Passamos 24 horas fechados dentro de um armário escuro no hall de distribuição dos quartos do Palácio do Catete. Trezoito, era o líder, só poderíamos sair do armário após a ordem dele. Anos mais tarde soube que ele nos contratou a pedidos de Carlos Lacerda. Cicatriz estava ansioso, queria terminar o trabalho logo. Mão Negra não dizia palavra. Nós só poderíamos entrar no quarto após o grito do presidente. O presidente mantinha uma rotina impressionante, todos os dias, às vezes mais de uma vez, urrava igual ao Tarzan, seu ídolo, ao terminar sua relação fantasiosa com Jane. O nosso problema é que o presidente estava sempre disposto, não tinha hora certa. Virgínia tinha quatro roupas selvagens para agradar ao presidente. Não tínhamos certeza da hora, sabíamos apenas que iria acontecer e que sua excelência era dinâmico e rápido.
Deviam ser umas cinco e meia daquela fria madrugada quando Virgínia abriu o armário e escolheu a roupa de oncinha que estava num cabide logo à minha esquerda. Foi um momento inesquecível. Pude sentir o perfume de Miss Lane. Não era o perfume de uma vedete vulgar, era o cheiro de uma dama. Ela fechou a porta do armário e eu fechei meus olhos deixando fluir o aroma do perfume até chegar aos neurônios que instantaneamente acionaram a vitrola cantando sassaricando na voz maviosa e provocante de Virgína Lane. Aquela era a minha sensação predileta: medo e tesão. Meu desejo era entrar logo naquele quarto onde estava presidente. Por uma questão de ordem, eu aguardaria minha vez.
Cicatriz me cutucou:
– Será que Gegê ainda vai demorar muito?
Fiquei furioso. Odeio que interrompam minhas fantasias.
Neste exato segundo, o presidente imitou o Rei das Selvas e bateu com os punhos fechados no próprio peito.
Trezoito, Cicatriz e eu saímos do armário em direção ao quarto. Mão Negra, que também estava estimulado, ficou para trás porque estava com as com as calças arriadas.
Abri a porta, Cicatriz afastou a gostosa da Virgínia, Trezoito atirou. Mão Negra abriu a janela para Virgínia correr. O Tarzan, digo, o presidente ainda chamou por Fortunato antes de bater com as dez. Trezoito pegou a arma e colocou na mão de Getúlio. Corri atrás de Virgínia e tentei convencê-la que agora seria a minha vez e depois seria a vez de Mão Negra. Ela ficou brava, se esquivou e xingou com um sonoro palavrão. Mão, irritado ainda gritou:
– Vai, vagabunda, vai arrumar outro presidente.

Guardei este segredo desde aquele 24 de agosto de 1954 por amor, tesão e respeito a Virgínia. O crime já prescreveu e como ela abriu o bico, confirmo para quem quiser saber.

Minha única dúvida é quanto ao dia da semana, quinta-feira. O restante, é a mais absoluta verdade.

※ ※ ※ ※ ※
Hoje, dia 28 de fevereiro, em 1920, nasceu a cantora, vedete e compositora Virgínia Lane.

16 comentários:

Anônimo disse...

interessante articulacao de versos e informacao.
evohé

Klotz disse...

Obrigado Afonso.
Que bom que você gostou da minha versão.

Klotz disse...

E-mail recebido em 21/03/2011:
Olá, meu nome é Daniel Roque, tenho 16 anos, tenho uma produtora de vídeos independente e sou um apreciador da História do Brasil, e um grande fã de Getúlio Vargas, temas aos quais dedico horas de leitura e estudo.
Pesquisando um pouco sobre a Sra. Virgínia Lane, deparei-me com o seu blog, aonde, abaixo de uma entrevista com a mesma, o Senhor assina um texto confessando o assassinato de Getúlio Vargas.
Com isso, imagino que o senhor seja no mínimo, um apreciador da história, como eu. Penso que a história do assassinato seja falsa. Sendo assim, gostaria de saber que livros o senhor escreve, qual contato o senhor tem com a Sra. Virgínia, o que o senhor sabe sobre a história do Getúlio, se poderíamos conversar.
O senhor me daria um imenso prazer respondendo este e-mail.
Grato pela atenção,
Daniel Roque

Klotz disse...

Resposta em 22/03/2011:
Olá Daniel,
Acho sensacional quando alguém sabe o que quer da vida. Melhor ainda quando quando se é novo. Persiga seus sonhos, sempre sendo humilde com garra para aprender.
Como você ousa desconfiar que a minha história sobre o assassinato de Getúlio seja falsa. Deu um trabalhão danado pesquisar e passar verossimilidade.
Não tenho nenhum contato com Virginia Lane, nunca vi. Apenas peguei carona na história da entrevista concedida a TuttyVasques.
Leio quase de tudo. Não gosto de filosofia nem poesia. Para quem gosta de história do Brasil recomendo as biografias escritas por Fernando Morais, particularmente Chatô o Rei do Brasil- é uma fonte inesgotável de pesquisa.

Nem sei se gosto ou não de história. Gosto dela quando ela é bem contada. Por exemplo, apesar da curiosidade, ainda não encontrei um livro que fale sobre a mitologia sem ser chato.
Gosto de escrever histórias curtas: contos e crônicas, preferencialmente de bom humor. Vez ou outra faço a minha versão para algum fato conhecido como a proclamação da Independência (http://robertoklotz.blogspot.com/2007/03/proclamao-da-independncia.html) ou artigos de jornal. (http://robertoklotz.blogspot.com/2010/11/faca-sua-aposta.html).
Publiquei dois livros de crônicas:
Pepino e farofa que são aventuras culinárias cde alguém com 50 anos de inexperiência no comando de um fogão.
Em Quase Pisei! O mundo começa a acontecer quando o autor calça um tênis e sai para caminhar. É atropelado por um saxofone, presencia a dança de acasalamento de garças, encontra pegadas de onça, quase pisa em lâmpada mágica e em cocô de cachorro.
Abraços,
Klotz

Klotz disse...

E-mail recebido:

"Caro Sr. Klotz,li seu escrito sobre Getúlio Vargas e Virgínia Lane.Tenho um trabalho na escola que é para fazermos um tribunal escolar sobre o suicídio de Vargas,eu irei apoiar a idéia de que Getúlio foi assassinado.Gostaria de saber a sua visão sobre o ocorrido.Desde já agradeço sua atenção.
José Enrico Timóteo Felipe,
Taubaté,São Paulo 22/09/11

Klotz disse...

Olá,

Prezado José Enrico,

É claro que a história que escrervi é absolutamente fantasiosa. Em 54 eu só tinha dois aninhos.

Como escritor acho delicioso entrar nessas fantasiisas ou delírios. A Vírginia Lane deu o depoimento e eu peguei o gancho.

Se você tiver que defender a tese de assassinato, faça-o criando uma história absurda que pareça verossímil. Você pode até não não convencer os jurados mas receberá nota ótima em criatividade.
Conheça a minha versão para outro momento da nossa história em O grito do Ipiranga

http://robertoklotz.blogspot.com/2007/03/proclamao-da-independncia.html

Abraço,
Klotz

Anônimo disse...

Klotz, a Virgínia já falaceu, de quê e onde??

Klotz disse...

Naõ me consta que ela tenha falecido. Ao menos, não fui avisado.
A última vez que falei com ela foi em 1954 e ele me evitou correndo nua.

ivan disse...

Oi, Klotz
Meu nome e Ivan e estou sabendo hoje, 10/02/2012, desse depoimento da Virginia Lane. Por que vc acha que nao houve maior repercussao, embora sempre se tenha ouvido falar na hipotese de assassinato?

ivan disse...

Oi, Klotz
Meu nome e Ivan e estou sabendo hoje, 10/02/2012, desse depoimento da Virginia Lane. Por que vc acha que nao houve maior repercussao, embora sempre se tenha ouvido falar na hipotese de assassinato?

Klotz disse...

Prezado Ivan, para todos os casos, históricos ou não, existem várias versões. Algumas polêmicas, outras controversas. Podem ser especulativas. Há versões fantasiosas, criativas, hilárias ou outras de cunho interesseiro. Difícil saber qual a verdadeira.
Lógico que, neste caso, defenderei a minha versão.

anja ou demônia disse...

vc é um grande idiota,brincar com uma historia séria dessas,sem imbecil.
Eu acredito que Getúlio foi assassinado,um homem forte e ousado como aquele não cabe no perfil de alguem fracote que tenta se suicidar.Vc nem pra contar uma historia serve,pois vc não foi nem um pouco original,sua estorinha de menino idiota é uma imitação de varias estorias contadas por aí,mão negra,cicatriz...skkksksksksksks imtação barata dos filmecos americanos.

Klotz disse...

Por que as ofensas, anja ou demônia? Onde está seu bom humor?
Todas as opiniões são válidas. Entendo e acolho seu julgamento.
Discordo das ofensas gratuitas principalmente de alguém que se esconde atrás de um pseudônimo.

Anônimo disse...

Por que o assassinato de Getúlio não pode ser verdade?
Por que o suicídio e a carta-testamento não podem ser 'fabricados'?
Quantas vezes a história foi reescrita?
Quantos 'terroristas' do passado hoje são considerados heróis?
Quantos oportunistas, assaltantes,sequestradores, assassinos, etc., do passado, receberam indenizações milionárias, foram promovidos no último cargo da carreira (ex: generais)?
Sinceramente, a história oficial nem sempre relata toda a verdade.
Muitos se calam para não sofrerem retaliações ou desaparecerem.
Ainda bem que a Virginia Lane, a única Vedete do Brasil, legalmente instituída, registrou o assassinato de Getúlio Vargas antes de morrer.

Sergio C. Velho

Klotz disse...

Por que o assassinato de Getúlio não pode ser verdade?
Certamente o tiro fatal foi disparado pelo indicador de Trezoito.
Por que o suicídio e a carta-testamento não podem ser 'fabricados'?
Um bom grafologista indicará que “s” e “t” da carta são diferentes . (um do outro, naturalmente. Um esse é uma cobrinha enquanto um tê é um traço cortado)
Quantas vezes a história foi reescrita?
Inúmeras vezes. Parei de contar quando cheguei a cem.
Quantos 'terroristas' do passado hoje são considerados heróis?
Você quer um número preciso ou é apenas uma forma de provocar assunto?
Quantos oportunistas, assaltantes,sequestradores, assassinos, etc., do passado, receberam indenizações milionárias, foram promovidos no último cargo da carreira (ex: generais)?
Você sugere o nome de estrelas do governo?
Sinceramente, a história oficial nem sempre relata toda a verdade.
Versões oficiais são verdadeiras. Esta, acima, foi a minha versão oficial.
Muitos se calam para não sofrerem retaliações ou desaparecerem.
Após o assassinato Getúlio jamais se pronunciou.
Ainda bem que a Virginia Lane, a única Vedete do Brasil, legalmente instituída, registrou o assassinato de Getúlio Vargas antes de morrer.
Ela se foi sem me avisar?

Carlos Beserra disse...

Ele foi assassinado. Tivemos há poucos anos atrás o relato de sua amante, Virginia Lane, contando que estava com ele quando ele foi morto. No dia seguinte à sua morte o jornal O Radical, de Rodolpho Carvalho teve sua primeira página com a foto de Getulio morto e em letras grandes denunciava: Esse Homem foi Assassinado.
Porque esse dono de jornal tem credibilidade? Porque era irmão do ministro (secretario) da Agricultura, Comercio e Industria, o João Luiz Carvalho, e vários ministros estavam no palácio do Catete por ocasião da morte do Getúlio.
A história é uma grande mentira, quase sempre contada pelos vencedores, ou só muito lá na frente elucidados por alguns de mente aberta. Geralmente fora do contexto oficial. Relatos como os da Virgínia Lane deveriam ser pelo menos investigados.

 
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