13 abril 2011

Viajei com Gagarin

Aos 27 anos, Yuri Gagarin, um jovem russo de origem humilde é lembrado pela rara coragem. Ele foi um dos 19 pilotos que se candidataram ao vôo, em um tempo em que testes humanos num ambiente sem gravidade sequer haviam sido feitos. “Foi um vôo absolutamente heróico. Era uma missão muito difícil, e as pessoas pensavam que só um louco poderia ir para o espaço”, relata à agência Reuters o jornalista científico Vladimir Gubarev, que conheceu Gagarin na juventude. CB – Ciência, 12/04/2011.


12 de abril de 2011 – Há exatos 50 anos Yuri Gagarin foi o primeiro homem a ir para o espaço. Um feito extraordinário. Tão importante quanto Colombo chegar de caravela na América. A ficção se transformava em realidade. O homem comprovou ser capaz de voar mais alto e mais distante que os pássaros. Gagarin voou nos sonhos de todos os homens. Lá do espaço declarou que a Terra era azul. Visitar a Lua passou a ser tangível.

Deixei o jornal de lado uns minutinhos e também viajei no espaço, do tempo.

Eu era menino, não se falava noutra coisa. Gagarin era o herói dos homens. Garrincha e Pelé já driblavam e marcavam gols, mas todos os meus amigos queriam ser cosmonautas. Ninguém viu o lançamento na tevê. Não foi transmitido. Nem a cores nem em preto e branco. Aliás, poucos tinham televisão. O imaginário era muito melhor que qualquer imagem. Descrevíamos detalhadamente a trajetória do herói. Primeiro vestindo a roupa prateada, depois os canudinhos de oxigênio e por cima o capacete. Subia uma escadinha, entrava numa cabine cheia de botões, alavancas e luzes piscantes. Fechava a porta com um barulho surdo e metálico numa combinação de prisão e sarcófago. Já sentado se amarrava a um banco solitário.

Era hora de imitar o coração batendo disparado – tum,tum tum, tum. Aí, todos os amigos gritavam em coro a contagem regressiva: 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 – buuuuum. Gagarin disparava na vertical, rumo ao céu até se perder de vista.

Não se falava em outra coisa. Estava lançada a gagarinmania. Até hoje me lembro de uma charge da revista Cruzeiro onde um peixinho dourado nadava dentro do capacete de aquário.

Tempos idos. Eu morava em São Paulo, em casa não tínhamos telefone, apesar de estarmos na fila de aquisição há sete anos. Também não possuíamos tevê. Meus pais questionavam a novidade. Mas nós, crianças, íamos brincar nas outras casas da rua e nos transformamos em televizinhos e dizíamos que as recém inventadas máquinas de assar frango eram televisão de pobre.

De repente, surgiu o Caravelle, o primeiro avião a jato. Revolucionário com as turbinas coladas na traseira em vez das hélices nas asas. O barulho era enorme, sempre saímos correndo da sala para apontar o avião no céu. Todos, em vez de fazer rápido, passamos a fazer a jato.

Uma flâmula pendurada, em cima da cabeceira da minha cama, lembrava a inauguração de Brasília, um ano antes. As novidades e o heroísmo estavam presentes no dia-a-dia.

Gagarin voltou para a Terra. Mas os tempos de infância não voltam mais.





Novamente me deliciei com uma notícia extraída do jornal e com ela, como todas as quartas-feiras, criei uma história.

2 comentários:

Deborah da Silva disse...

Ah, que inveja boa de você! Gostaria tanto de ter vivido essa época, com heróis de verdade, homens de verdade. Você pelo menos tem a saudade ^_^

Klotz disse...

Obrigado pelo comentário, Deborah. Por seu comentário reli a pequena crônica de lembranças e confesso que viajei com Gagarin mais uma vez.

 
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